Corrida por debêntures com isenção leva fundos a recorde de captação

A proposta do governo de revogar a isenção fiscal para debêntures incentivadas provocou uma verdadeira corrida de investidores em busca desses papéis, o que resultou em uma captação recorde nos fundos de infraestrutura em junho. No mês, essas estruturas arrecadaram R$ 10,4 bilhões — maior volume desde outubro de 2023. O mercado secundário também mostrou forte movimentação, com R$ 95 bilhões em negociações no total, sendo R$ 37 bilhões apenas em debêntures incentivadas, o maior valor desde o início da série histórica, em 2023.

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O temor de que os papéis passem a ser tributados fez com que investidores antecipassem aplicações, na tentativa de garantir a manutenção do benefício fiscal. Como consequência direta do aumento da demanda, os spreads (a diferença entre a remuneração das debêntures e a dos títulos públicos) caíram ainda mais e chegaram a ficar negativos. Em junho, a mediana dos papéis incentivados passou a pagar seis pontos-base abaixo da NTN-B, 18 pontos abaixo do registrado em maio.

Além do aumento nas negociações no mercado secundário, as emissões também aceleraram de forma significativa. O volume de lançamentos saltou de R$ 38,9 bilhões em maio para R$ 65 bilhões em junho. A expectativa é que o movimento continue até o fim do ano, já que as aplicações feitas até dezembro ainda devem manter a isenção fiscal.

Gestores ganham tempo para alocar com cautela

Para o head de crédito privado da Drys Capital, Paulo Machado, os gestores não devem ceder à pressão para alocar rapidamente os recursos captados, mesmo diante da corrida atual por ativos incentivados. Segundo ele, a Lei 12.431 oferece flexibilidade importante na composição da carteira de fundos de infraestrutura, inclusive em casos de grandes captações.

“Um fundo com patrimônio líquido de R$ 100 milhões deveria ter R$ 85 milhões em debêntures de infraestrutura a partir da janela de dois anos de existência. Mas, caso ele capte em um único dia o suficiente para atingir R$ 1 bilhão, pela regra do PL médio, esse fundo deve ter em torno de R$ 90 milhões nesses ativos”, explica. “Em outras palavras, os fundos não precisam alocar todo o dinheiro recebido de uma vez.”

Nesse contexto, o gestor pode administrar melhor os riscos associados à queda dos spreads e evitar compras apressadas em níveis historicamente baixos. “O gestor pode efetuar a alocação nessa classe de ativo com calma ao longo dos próximos seis meses a fim de evitar esses cenários de spreads atualmente em patamares baixos”, afirma Machado.

A gestora citada é responsável pelo INFB11, FI-Infra listado na bolsa.

Tributação pode redefinir cenário em 2026

Além da possibilidade de compressão excessiva dos spreads, há também o risco de superalocação nos fundos, o que pode gerar dificuldades futuras na estruturação de novas operações. Paulo Machado destaca que o desenho atual da MP também deve estimular o lançamento de fundos fechados ao longo de 2025, cujas cotas, mesmo se adquiridas em 2026, seguiriam isentas — o que pode levar gestoras e tesourarias a se anteciparem para garantir esse diferencial competitivo aos seus clientes no ano que vem.

Apesar da janela de oportunidade no curto prazo, a percepção é que o movimento tem prazo de validade. Caso a MP avance no Congresso, o cenário para 2026 pode ser de menor atratividade, com aumento dos spreads e dificuldades para alocar novas debêntures em carteiras já cheias. O risco é que os fundos enfrentem um ciclo de aperto, com ativos menos rentáveis e espaço limitado para novas emissões isentas.

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Maíra Telles

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