Ibovespa fecha em queda de 0,09%, após decisão de juros do Fed e antes do Copom
O Ibovespa fechou nesta quarta-feira (18) em queda leve de 0,09%, aos 138.716,64, com oscilação entre 138.443,11 e 139.160,55 pontos. O giro financeiro foi de R$ 32,9 bilhões, relativamente reforçado em dia de vencimento de opções sobre o índice.

Na semana, o Ibovespa avança 1,10% e, no mês, sobe 1,23%. No ano, o principal índice de ações da B3 acumula ganho de 15,32%.
A reação foi relativamente neutra à decisão de política monetária do Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano), que manteve a taxa de juros no país no intervalo entre 4,25% e 4,5% ao ano, em linha com o esperado pela maioria dos agentes do mercado. A queda, porém, se deu após a entrevista coletiva de Jerome Powell, o presidente do Fed.
A indicação de que a autoridade monetária norte-americana ainda está atenta e cautelosa quanto a possíveis consequências da política tarifária adotada pelo governo de Donald Trump. “Sabemos que os efeitos das tarifas virão, e estamos esperando para ver”, disse o presidente do Fed.
“As tarifas foram o fator motivador das revisões para cima na inflação, e aumentos certamente pesarão na atividade econômica”, aponta Helena Veronese, economista-chefe da B.Side Investimentos. Ela acrescenta que o efeito completo só será sentido quando as tarifas forem efetivamente estabelecidas, o que ainda parece longe de uma consolidação. “A incerteza está atipicamente elevada”, diz a analista.
Ainda assim, com a comunicação e a entrevista de Powell desta tarde, o mercado consolidou expectativas de que o Fed retomará cortes de juros a partir de setembro e reduzirá as taxas em 50 pontos-base neste ano.
Gustavo Cruz, estrategista-chefe da RB Investimentos, destacou que o Fed revisou para baixo as projeções de crescimento do PIB norte-americano e para cima as estimativas de inflação. Isso afetou a postura dos dirigentes do Fed. “A maioria dos dirigentes agora prevê apenas mais um corte em 2026, o que levaria a taxa para algo em torno de 3,75% ao ano. A mediana ficou em 3,6%, mas, de qualquer forma, estamos falando de apenas mais um corte no próximo ano. Mas há uma divisão interna, alguns diretores ainda projetam dois cortes neste ano.”
Na avaliação de Gustavo Sung, economista-chefe da Suno Research, o comunicado do Fed reforçou que a atividade econômica segue em expansão, em ritmo sólido. “Apesar das oscilações recentes nos dados de exportações líquidas, a taxa de desemprego permanece baixa, com o mercado de trabalho também sólido”, destaca o especialista.
Felipe Moura, analista da Finacap, destaca que o momento de incerteza — não apenas em relação às tarifas, mas agora também quanto ao risco de acentuação da tensão geopolítica no Oriente Médio — tende a favorecer a bolsa brasileira, que já vem ganhando espaço entre investidores internacionais, o que impulsiona o crescimento do Ibovespa no ano.
“Houve uma mudança generalizada de ânimo em relação ao Brasil e diversos bancos estrangeiros têm revisado recomendações, para compra. O mercado local estava muito barato em relação aos fundamentos, isso já era sabido. E os investidores passaram a diversificar mais o portfólio, considerando também emergentes que tinham ficado para trás, como o Brasil”, avalia.
Ibovespa: confira as principais altas e baixas do dia
Num dia de expectativas sobre as decisões de juros — a alta da Selic foi anunciada apenas depois do fechamento do pregão —, a principal alta ficou com a Embraer (EMBR, +3,99%), enquanto a Raízen (RAIZ4, -4,32%) registrou a maior queda.
- Maiores Altas
- Maiores Baixas
A Petrobras teve dia de estabilidade, com quedas leves no fechamento (PETR3, -0,56%; PETR4, -0,09%), num dia em que as cotações de petróleo apresentaram pequena oscilação positiva. Principal ação do Ibovespa, a Vale (VALE3) caiu 0,33%, após ter chegado a ensaiar alta durante o dia.
Bolsas de Nova York retomam queda com medo de guerra
As bolsas de Nova York perderam força ao longo da tarde, após as declarações de Jerome Powell, e fecharam de forma mista. Apenas a Nasdaq conseguiu sustentar a alta obtida nas primeiras horas.
Confira os fechamentos do dia em Nova York:
- Dow Jones: 42.171,66 (-0,10%)
- S&P 500: 5.980,87 (-0,03%)
- Nasdaq: 19.546,27 (+0,13%)
Powell afirmou que os impactos dos aumentos tarifários promovidos pelo governo americano “já começam a ser sentidos e devem se intensificar nos próximos meses”, mas a “magnitude e duração desse impacto seguem difíceis de estimar”.
As tensões no Oriente Médio também se mantiveram no radar dos investidores, com relatos de que o presidente dos EUA, Donald Trump, teria uma nova reunião, ainda nesta quarta, com seu conselho de segurança.
Ao comentar o conflito entre Israel e Irã, Powell reconheceu que “é possível que os preços de energia apresentem alta”, mas ressaltou que esse tipo de evento geopolítico “não altera a forma como conduzimos a política monetária”.
Em meio às incertezas, declarações de Trump indicando que um acordo comercial com a Índia está próximo de ser concluído ofereceram algum suporte aos mercados.
As bolsas norte-americanas também não funcionam nesta quinta-feira (19), em razão do feriado de “Juneteenth”, criado em 2021 para celebrar o fim da escravidão no país. Como no Brasil, as negociações voltam na sexta-feira (20).
Com Estadão Conteúdo