IPOs em 2026: o que esperar e quais empresas estão na fila

O mercado brasileiro de capitais vive um paradoxo: enquanto o Ibovespa atinge marcas históricas, a janela para novas ofertas públicas iniciais (IPOs) permanece fechada há quatro anos. As otimistas previsões de uma retomada em 2024 e 2025 não se concretizaram, e o cenário para 2026 aponta para a continuação da seca, com empresas brasileiras buscando cada vez mais as bolsas de valores no exterior como alternativa para captação de recursos.

Após o boom de 2020 e 2021, quando 74 companhias abriram seu capital na B3, o Brasil entrou em um longo inverno de IPOs. O último ocorreu em 2021, e desde então, o que se observa é um movimento de OPA (Oferta Pública de Aquisição) e cancelamento de registro, com gigantes como JBS, Carrefour Brasil e Neoenergia deixando de ser listadas ou migrando para outros mercados.

Neste artigo, vamos analisar o que é um IPO, por que o mercado brasileiro continua parado, quais as verdadeiras expectativas para 2026 e por que a dupla listagem nos Estados Unidos virou a estratégia da vez. Além disso, traremos um panorama atualizado do mercado global, que mostra um cenário bem diferente do que se via nos últimos anos.

O que é um IPO e por que as empresas optam por ele?

Se você já se perguntou “o que é IPO?“, a resposta é simples: IPO (Initial Public Offering), ou Oferta Pública Inicial, é o processo em que uma empresa vende suas ações ao público pela primeira vez na Bolsa de Valores. Isso permite que investidores adquiram uma participação no negócio, tornando-se sócios da companhia.

O IPO representa um marco estratégico para as empresas, possibilitando a captação de recursos para expansão, inovação e fortalecimento da marca. O processo envolve planejamento, registro em órgãos reguladores, definição de preços e, por fim, a listagem na bolsa, onde as ações passam a ser negociadas publicamente.

Empresas optam pelo IPO principalmente para levantar capital, ganhar visibilidade no mercado e oferecer liquidez aos acionistas. Além disso, companhias listadas costumam ter maior credibilidade e acesso facilitado a novos investimentos. No entanto, abrir capital também exige mais transparência, governança rigorosa e exposição às oscilações do mercado.

Como funciona o processo de abertura de capital?

Abrir capital na Bolsa não é apenas uma decisão estratégica, mas um processo técnico e regulatório que exige diversas etapas coordenadas. A oferta deve ser registrada na Comissão de Valores Mobiliários (CVM) e seguir regras que asseguram a proteção dos investidores e a integridade do mercado.

Veja como funciona um IPO do início ao fim:

  1. Registro na CVM: a empresa submete à Comissão os documentos exigidos, como o prospecto preliminar, que detalha informações financeiras, riscos e objetivos da oferta;
  2. Roadshow: executivos da empresa realizam apresentações para investidores institucionais, explicando o modelo de negócios e os planos futuros, com o objetivo de atrair interesse para a oferta;
  3. Bookbuilding e precificação: é feito o levantamento da demanda pelos papéis, com base nas intenções de compra. A partir disso, define-se o preço final das ações;
  4. Período de reserva: investidores, inclusive pessoas físicas, podem solicitar a compra de ações dentro da faixa de preço indicada. Essa etapa ocorre geralmente por meio das corretoras;
  5. Estreia na B3: após a precificação e aprovação da CVM, as ações passam a ser negociadas publicamente na B3, abrindo o capital da companhia oficialmente ao mercado.

Mas e o investidor pessoa física?
Com uma conta ativa em uma corretora habilitada, o investidor comum pode participar de um IPO. Basta acompanhar os comunicados, ler o prospecto e fazer a reserva durante o período indicado. Embora não haja garantia de que todos os pedidos serão atendidos, é uma forma acessível de participar de empresas em estágio inicial de listagem.

Etapas de um IPO 

EtapaDescrição
1. Registro na CVMA empresa apresenta documentos e o prospecto preliminar à Comissão de Valores Mobiliários.
2. RoadshowExecutivos apresentam a empresa a investidores institucionais para gerar interesse na oferta.
3. BookbuildingCorretoras coletam intenções de compra para definir a demanda e precificar as ações.
4. Período de reservaInvestidores (inclusive pessoas físicas) fazem solicitações de compra dentro da faixa de preço.
5. Estreia na B3As ações começam a ser negociadas no pregão, marcando oficialmente a abertura de capital.

Por que o mercado de IPOs no Brasil continua parado?

A expectativa de retomada dos IPOs foi frustrada por uma combinação de fatores macroeconômicos e políticos que aumentaram a aversão ao risco e diminuíram o apetite dos investidores por novas ofertas. Especialistas apontam que a janela de oportunidade só deve se reabrir de forma consistente em 2027.

Os principais motivos para a paralisia do mercado são:

  • Taxa de Juros Elevada: Diferente do que se projetava, a taxa Selic não caiu para um dígito. Com a renda fixa oferecendo retornos tão altos e com menor risco, o custo de oportunidade para investir em ações, especialmente de empresas estreantes e mais voláteis, torna-se proibitivo.
  • Incerteza Fiscal e Política: O cenário de desequilíbrio fiscal e as incertezas geradas pela proximidade das eleições presidenciais de 2026 criam um ambiente de baixa previsibilidade. Como a decisão de um IPO é estratégica e de longo prazo, as empresas preferem aguardar uma maior clareza sobre o rumo econômico do país antes de se comprometerem com a abertura de capital.
  • Memória de IPOs Frustrados: O mercado ainda sente os efeitos do ciclo anterior (2020-2021), quando diversas empresas abriram capital com valuations elevados e, em pouco tempo, registraram quedas expressivas nas cotações. Essa memória recente contribuiu para uma maior seletividade e cautela por parte dos investidores.

A Fuga para o Exterior: A Tendência da Dupla Listagem

Diante da janela fechada no Brasil, grandes empresas brasileiras com receitas em dólar e presença internacional estão adotando uma nova estratégia: a dupla listagem ou a migração completa para bolsas nos Estados Unidos, como a NYSE e a Nasdaq. Casos como o da JBS, que migrou em 2024, e do Banco Inter, que se listou na Nasdaq em 2022, ilustram essa tendência.

Os principais atrativos do mercado americano são:

  • Maior Liquidez: O volume de negociações é muito superior, facilitando a compra e venda de grandes lotes de ações.
  • Acesso a Capital: Permite alcançar uma base de investidores globais e acesso a um capital muito mais vasto.
  • Destravamento de Valor: Muitas empresas acreditam que são negociadas com um “desconto Brasil” e que, ao serem listadas nos EUA, podem alcançar valuations mais justos e comparáveis aos de seus pares internacionais.

Expectativas para 2026: Um Otimismo (Muito) Cauteloso

Apesar de projeções indicarem um ciclo de queda da Selic ao longo de 2026, com a taxa podendo chegar a um patamar entre 11% e 12% ao final do ano 5, especialistas são unânimes em afirmar que isso não será suficiente para reabrir a janela de IPOs.

O consenso de mercado é que 2026 ainda será um ano fraco para IPOs na B3. A corrida eleitoral deve concentrar as atenções e manter a volatilidade. Se alguma oferta ocorrer, será um caso isolado e excepcional, não uma nova onda. A

s atenções se voltam para 2027, quando, a depender do resultado eleitoral e da nova agenda econômica, o mercado poderá finalmente retomar a confiança.

O Cenário Global de IPOs em 2025: Índia Dispara

Enquanto o Brasil enfrenta uma seca, o mercado global de IPOs mostrou sinais de recuperação em 2025, embora de forma seletiva. A grande protagonista do ano foi a Índia, que superou todos os outros países em número de ofertas. Os Estados Unidos, por sua vez, continuam liderando em volume financeiro arrecadado.

Os dados de 2025, até meados de novembro, mostram uma nova configuração de forças no mercado de capitais global, bem diferente do cenário apresentado no texto original para 2024.

PaísNúmero de IPOs (2025)Receita Gerada (US$ bilhões)Setores em Destaque
🇮🇳 Índia31219,6Financeiro, Tecnologia, Consumo
🇺🇸 EUA~65 (apenas no Q3)~53,0 (anual)Tecnologia (TMT), Saúde
🇭🇰 Hong KongN/A23,4N/A
🇨🇳 China>100 (A-share)16,2Manufatura, IA

O que o investidor deve observar em um IPO?

Participar de uma oferta pública inicial pode representar uma boa oportunidade para quem busca diversificação e exposição a empresas em fase de expansão. No entanto, antes de investir em um IPO, é essencial fazer uma análise criteriosa dos fundamentos da empresa e das condições da oferta.

Nem todo IPO representa uma oportunidade vantajosa — especialmente quando há excesso de euforia ou falta de transparência sobre os objetivos da companhia. Avaliar os documentos disponíveis, como o prospecto preliminar, é o primeiro passo para entender o que está por trás da operação.

Confira abaixo os principais pontos que o investidor deve observar antes de participar de um IPO:

  • Valuation da empresa: verifique se o preço sugerido para as ações está compatível com empresas comparáveis do mesmo setor. Um valuation inflado pode comprometer o potencial de valorização no longo prazo;
  • Tipo de oferta: analise se a oferta é primária (recursos vão para o caixa da empresa), secundária (sócios vendendo ações) ou mista. Ofertas primárias geralmente indicam foco em crescimento;
  • Objetivo da captação: entenda para que a empresa pretende usar os recursos: expansão, redução de dívidas, inovação ou capital de giro;
  • Histórico financeiro e governança: avalie indicadores como receita, margem de lucro, endividamento e práticas de governança corporativa. A presença de conselho independente e auditoria externa é um bom sinal;
  • Setor de atuação e concorrência: considere se o setor está em crescimento, quais são os principais concorrentes e como a empresa se diferencia no mercado;
  • Liquidez esperada: empresas com pouca visibilidade ou baixo volume de negociação podem ter menor liquidez no pós-IPO, dificultando a saída do investidor.

Essa análise prévia é essencial para tomar uma decisão fundamentada. IPOs, embora atrativos, carregam riscos e não devem ser escolhidos apenas com base na euforia do mercado ou na promessa de retorno rápido.

Riscos e oportunidades ao investir em IPOs

Investir em uma empresa logo no seu IPO pode oferecer vantagens únicas, mas também exige atenção redobrada aos riscos envolvidos. Como são companhias recém-chegadas ao mercado, é comum que apresentem maior volatilidade nos primeiros dias e menor previsibilidade no desempenho das ações.

Confira os principais pontos positivos e negativos que o investidor deve considerar:

Oportunidades:

  • Entrada antecipada em empresas promissoras: permite se posicionar antes de uma possível valorização expressiva;
  • Participação no crescimento de setores inovadores: muitas empresas que abrem capital atuam em segmentos de expansão, como tecnologia, saúde e energia;
  • Potencial de valorização no médio e longo prazo: para quem aposta no crescimento do negócio;
  • Diversificação da carteira: adiciona ativos com perfil diferente aos investimentos tradicionais.

Riscos:

  • Volatilidade elevada nos primeiros pregões: oscilação intensa no preço das ações é comum após o lançamento;
  • Valuation elevado: algumas empresas chegam ao mercado com preços inflacionados pela demanda;
  • Histórico limitado de governança e resultados públicos: dificulta a análise mais profunda;
  • Liquidez reduzida: em alguns IPOs, pode ser difícil vender os papéis com facilidade.

Para reduzir riscos, é fundamental que o investidor analise o prospecto com atenção, compare com empresas do mesmo setor e avalie se a oferta se encaixa no seu perfil e estratégia.

Como participar de um IPO?

Participar de um IPO é mais simples do que parece, especialmente com o avanço das plataformas digitais. Hoje, qualquer investidor com conta em uma corretora habilitada pode reservar ações de uma empresa que está abrindo capital.

Veja o passo a passo:

  1. Abra conta em uma corretora autorizada
    Você precisa ter cadastro em uma corretora que participe do sistema de distribuição da oferta. A maioria das corretoras digitais já está habilitada.
  2. Acompanhe os comunicados de novas ofertas
    As corretoras costumam informar seus clientes quando um IPO é lançado. Além disso, é possível consultar os prospectos no site da B3 ou da CVM.
  3. Leia o prospecto da oferta
    O documento traz informações fundamentais: histórico da empresa, riscos, demonstrações financeiras e objetivos da captação. É leitura obrigatória antes de investir.
  4. Faça sua reserva no prazo indicado
    Durante o período de reserva, você informa à corretora quantas ações deseja comprar e o valor que está disposto a pagar (dentro da faixa sugerida no bookbuilding).
  5. Acompanhe a precificação e a alocação
    Após o término do bookbuilding, o preço final da ação é definido. Caso a demanda tenha sido maior que a oferta, pode haver rateio — ou seja, você recebe menos ações do que pediu.
  6. Acompanhe a estreia na Bolsa (B3)
    No dia definido, as ações passam a ser negociadas publicamente. É a estreia oficial da empresa no mercado de capitais.

Participar de um IPO exige atenção aos prazos e análise criteriosa. Não se trata de uma simples compra de ações, mas de entrar como sócio de uma empresa em um momento decisivo de sua trajetória.

Conclusão

As esperanças de uma retomada dos IPOs no Brasil em 2025 foram adiadas, e 2026 não se desenha como o ano da virada. A combinação de juros altos, incertezas fiscais e o calendário eleitoral deve manter o mercado em compasso de espera, com uma retomada mais provável apenas em 2027.

Enquanto isso, a tendência de empresas brasileiras buscarem as bolsas americanas deve se intensificar, refletindo um movimento estratégico em busca de maior liquidez e acesso a capital.

Para o investidor, o cenário exige paciência e uma análise ainda mais rigorosa. A euforia do passado deu lugar à cautela, e apenas empresas com fundamentos sólidos e modelos de negócio resilientes conseguirão atrair capital quando a janela de oportunidades para IPOs finalmente se reabrir.

ACESSO RÁPIDO
Guilherme Serrano Silva
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