Dois princípios importantes sobre investimento de valor

Recentemente, quando lia o boletim de notícias Graham and Doddsville (newsletter) da Columbia Business School, me deparei com um texto interessante onde eram destacados dois princípios de investimento do grande investidor de valor Gleen Greenberg.

Greenberg é o diretor administrativo e fundador da Brave Warriors Advisors, uma empresa privada de consultoria de investimento. Seu histórico de retornos é admirável e sua filosofia de investimento de valor bastante interessante.

John Huber, gestor de portfólio da Saber Capital Management e editor do blog Base Hit Investing, publicou em 2016, um belo artigo onde discutiu tais princípios. Claramente a aplicação da filosofia do investimento de valor é subjetiva e cada indivíduo terá mais conforto em seguir seus princípios desde que as ideias centrais do investimento de valor não sejam comprometidas.

Neste texto explicitarei os pensamentos de Gleen Greenberg e John Huber acerca de duas ideias que circundam o universo do investimento de valor: o foco em modelos de negócio com qualidade e o tamanho das posições assumidas.

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Foco em boas empresas

Em primeiro lugar, Greenberg defende que você deve estar perfeitamente confortável possuindo uma empresa em seu portfólio mesmo que o mercado esteja em crise profunda. Isso significa que você deve buscar empresas que possuem um modelo de negócio sólido que sobreviverá aos eventos no longo prazo, uma vez que seu investimento será focado neste horizonte temporal.

Com as premissas de investimento de valor, podemos comprar empresas que não se enquadram neste exemplo, quando estas estão suficientemente descontadas (muito baratas), entretanto, em momentos de crise econômica, essas empresas podem ter seu valor deteriorado e muitas vezes não se recuperam da recessão.

Uma questão que John Huber se pergunta sempre antes de realizar um investimento é: “eu estarei confortável com essa empresa se a ação cair 50% durante uma recessão econômica ou quebra no mercado de ações?”. Se a resposta for “não”, você muito provavelmente não deve realizar o investimento.

Isso se deve ao fato de que este tipo de evento ocorrerá futuramente. É inerente aos ciclos do mercado e, apesar de ser impossível prever com precisão quando ocorrerão as crises econômicas, sabemos que elas continuarão existindo.

Deste modo, é interessante você possuir em seu portfólio empresas duráveis que conseguem superar estes inevitáveis eventos econômicos.

Mensurando o tamanho da posição

Outra questão que John Huber se pergunta antes de realizar um investimento é: “você estaria disposto a colocar pelo menos 5% do seu portfólio neste investimento?”. Caso a resposta seja “não”, muito provavelmente você não deve realizar o aporte.

Tal resposta pode ser consequência de dois fatores. Em primeiro lugar, o investimento pode envolver riscos elevados demais e que não compensam o potencial de retorno do ativo. Em segundo lugar, o montante de conhecimento que você dispõe sobre o ativo pode ser insuficiente para a realização do aporte.

O segundo caso é mais fácil de lidar, uma vez que basta você estudar profundamente o ativo para sanar tal problema (a não ser que o ativo se encontre fora do seu círculo de competência).

Em relação ao primeiro ponto levantado, muitos investidores defendem que você pode fazer investimentos com um percentual pequeno do seu portfólio em empresas de elevado risco com alta possibilidade de retorno. O problema é mensurar a probabilidade que este investimento tem de ser bem-sucedido.

Imagine que você irá investir 1% do seu portfólio em uma empresa que tem potencial de multiplicar por 10. Apenas esta informação te diz muito pouco sobre a qualidade do investimento. Se não analisarmos a possibilidade desta empresa ser bem-sucedida, jamais compreenderemos se este é um bom investimento.

Pense que a probabilidade de sucesso deste empreendimento é de 10%. Isso significa que a cada 10 empresas (com essa característica) que você realizar o investimento, apenas uma multiplicará por 10, enquanto as outras estão fadadas ao fracasso (assumiremos que terão seu valor reduzido a 0 para fins didáticos).

Neste caso, o investimento não vale a pena, pois se você distribuir 10% de seu patrimônio em 10 empresas com essa característica, você provavelmente terá sucesso apenas em uma delas, o que manterá seu patrimônio estável (10×1% = 10%).

Agora pense que a probabilidade de sucesso destes empreendimentos é de 20%. Neste caso, se você investir em 10 empresas com essa característica, você terá sucesso em dois empreendimentos, o que te garante um retorno de 100% no capital investido.

Obviamente este exemplo é meramente didático com o objetivo de mostrar a importância da probabilidade de sucesso do investimento, uma vez que trouxemos a ideia de que se você não se sente confortável alocando 5% de seu portfólio em um ativo, ele provavelmente é arriscado demais (a probabilidade do sucesso do investimento é baixa) e, portanto, não é um investimento interessante.

Deste modo, Gleen Greenberg defende você deve considerar dois pontos antes de realizar um investimento. Em primeiro lugar se pergunte se você ficaria confortável com esse ativo em seu portfólio durante uma recessão econômica ou colapso do mercado financeiro. Em segundo lugar você deve se perguntar se ficaria tranquilo com pelo menos 5% do seu portfólio alocado neste ativo.

Caso a resposta seja afirmativa para os dois questionamentos, você provavelmente julga que possui conhecimento suficiente sobre o ativo e o preço atual te garante a margem de segurança necessária para a realização do investimento.

ACESSO RÁPIDO
Tiago Reis
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