Ambev (ABEV3): vale a pena investir nas suas ações?

Uma pergunta que tenho que tenho recebido diariamente no meu Instagram é o que eu penso sobre as ações da Ambev.

As ações da maior cervejaria do Brasil caíram quase 40% desde março deste ano, e naturalmente muitos investidores me perguntam se esta queda se configura uma oportunidade para se investir nelas.

É exatamente este senso de oportunidade que incentivo nos investidores: analisar a volatilidade de mercado, como uma oportunidade de se investir em um ativo de altíssima qualidade.

Alguns pontos que eu gostaria de destacar a respeito do caso de investimento:

Ativo de alta qualidade

E a Ambev é um ativo de altíssima qualidade: a rentabilidade que a empresa apresenta é uma das maiores da bolsa.

A gestão é talvez a melhor em termos de execução entre as empresa listadas no Brasil. Colocaria apenas Itaú e WEG no mesmo patamar. Algumas empresas podem até ser mais rentáveis, como é o caso da B3, mas isso ocorre por ser um monopólio e não por mérito exclusivo da gestão (apesar de eu gostar da gestão que está à frente da B3 hoje).

A rentabilidade sobre capital tangível (lucro operacional divido pelo imobilizado mais o capital de giro) é de cerca de 90%. São pouquíssimas empresas que apresentam este patamar elevado de rentabilidade.

Desafios

A cervejaria tem apresentado desafios que talvez a empresa nunca tenha enfrentado em toda sua história.

Primeiramente, o desempenho fraco da economia nos últimos anos, com o consequente aumento do desemprego, fez com que a demanda por cervejas tenha sido menor nos últimos anos.

O segundo ponto que merece destaque, é a concorrência acirrada com a Heineken, que se intensificou quando a cervejaria holandesa adquiriu a Brasil Kirin em 2017.

Além disso, o surgimento de cervejarias artesanais tem se mostrado uma alternativa de maior percepção de qualidade por um segmento pequeno, mas de alto poder aquisitivo, dos consumidores.

Vítima de seu próprio sucesso

A Ambev, por ter um excelente histórico, sempre criou uma expectativa alta nos investidores.

Não que a gestão tenha alimentado essas expectativas. Pelo contrário: sempre foram conservadores e moderados em sua comunicação com os agentes de mercado.

Porém, depois de quase vinte anos entregando excelentes resultados, os investidores esperam sempre resultados muito fortes.

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Nos últimos vinte anos sua receita multiplicou por 20 vezes. Seu lucro multiplicou-se por quase 30 vezes, reflexo da expansão de margens.

Tal capacidade de execução fez com suas ações chegassem a ser negociadas a mais de 30 vezes lucro, um patamar elevadíssimo.

Preço importa

Eu atribuo a maior parte da queda das ações ao alto múltiplo que suas ações eram negociados em bolsa.

Suas ações eram negociadas a mais de 30 vezes o lucro. Poucas empresas de seu porte são negociadas neste patamar. Para uma empresa justificar negociar neste patamar é preciso entregar muito crescimento.

Um crescimento que fica limitado, quando a empresa já é líder de mercado, a economia apresenta desempenho fraco e suas margens já são as maiores do mundo em seu segmento: existe pouco espaço para crescer.

As ações da Ultrapar e Raia Drogasil passaram por fenômeno semelhante: excelentes empresas, mas que por negociarem a múltiplos extremamente elevados, apresentam dificuldades em suas ações performarem. Valuation é importante e preço importa. Mesmo para as melhores empresas

O que fazer?

Ainda não vejo espaço para investir em suas ações.

Ainda que a empresa recupere o espaço perdido, e volte a apresentar o patamar de lucro que tinha antes do inicio da crise dos últimos anos, suas ações ainda seria negociadas a 20x lucro, um patamar que garante pouca margem de segurança.

Desde a fundação da Suno temos apenas observado as ações da Ambev. Reconhecemos que é uma excelente empresa, mas aguardaríamos um momento mais favorável em termos de preço para suas ações.

Reconhecemos, porém, que este é o melhor momento em quatro anos em termos de valuation da Ambev. Se quedas adicionais ocorrerem, podemos recomendar: está bem próximo de um patamar que garanta margem de segurança.

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Tiago Reis
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