Entenda caso de securitizadora que expôs fundo de reserva de CRIs a operação de alto risco

Uma grave falha de governança na Virgo, segunda maior securitizadora do Brasil com R$ 90 bilhões sob gestão fiduciária, criou apreensão no mercado de crédito nas últimas três semanas, conforme apuração do Investnews. A empresa utilizou recursos de fundos de reserva de CRIs em uma operação considerada de alto risco, contrariando as melhores práticas do setor.

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Eduardo Levy, head de investment banking da Virgo, estaria envolvido na decisão, segundo fontes de mercado. Ele deixou a empresa em julho, em circunstâncias que são objeto de disputa.

Procurado pelo Suno Notícias, ele disse que deixou a empresa por livre e espontânea vontade em julho de 2025, como mostram suas cartas de renúncia enviadas à Virgo e parte de denúncia feita contra o único acionista do grupo Virgo, Ivo Vel Kos, e suas empresas. Ele negou seu envolvimento e disse que protocolou um documento formal na CVM para alertar sobre irregularidades.

Segundo Levy, como diretor de distribuição não tinha poder estatutário para decisões na operação de R$ 390 milhões, e as decisões partiram de Ivo Kos como único acionista. A reclamação inclui evidências de que a Virgo continuou operações após sua saída, questionando como poderia ser responsável se as atividades prosseguiram sem ele.

Eduardo Levy. Foto: Reprodução Site
Eduardo Levy. Foto: Reprodução Site

Posição da Virgo

A Virgo informou que “no curso de suas atividades e da operação em questão nenhuma lei e nenhum regulamento de mercado foi violado. Além disso, é importante esclarecer que não houve dano ou prejuízo aos parceiros da Virgo. Os fundos de reserva investidos no Allocation continuam segregados de forma adequada, como determinam as regras. Desde sua fundação, a companhia já estruturou mais de 900 operações sem qualquer registro de atuação irregular por parte da securitizadora”

Entenda o caso

A situação envolve o uso inadequado de recursos destinados à proteção de investidores. Os fundos de reserva de CRIs existem como garantia para pagamento de juros, amortizações e proteção contra inadimplência, devendo permanecer sempre disponíveis e separados dos recursos da securitizadora.

Segundo apuração, recursos desses fundos de reserva teriam sido direcionados para o fundo Allocation, que posteriormente foi utilizado para honrar uma “garantia firme” em uma nova operação de CRI da Oncoclínicas, no modelo built-to-suit.

A operação da Oncoclínicas (ONCO3) não obteve a demanda esperada de investidores, forçando o exercício da garantia firme. Consequentemente, o fundo Allocation ficou com os papéis em carteira, concentrando parte significativa de seu patrimônio em um ativo de baixa liquidez e alto risco.

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Violação das Melhores Práticas

A manobra descumpriu frontalmente as práticas estabelecidas no mercado. Embora a legislação não especifique quais ativos devem compor os fundos de reserva, é consenso que esses recursos, pertencentes aos cotistas dos CRIs, devem ser aplicados em ativos seguros, líquidos e de baixa volatilidade.

O fundo Allocation, conforme seu regulamento, possui liberdade para investir em qualquer produto do mercado, inclusive aqueles com alto risco de crédito que podem gerar “perdas substanciais do patrimônio líquido”. Essa característica o torna inadequado para receber recursos de fundos de reserva.

A operação também evidencia um potencial conflito de interesses, já que os recursos dos fundos de reserva teriam sido utilizados para garantir uma operação em que a própria empresa estava envolvida na estruturação.

O episódio causou reações imediatas no mercado, com alguns clientes decidindo interromper negócios com a Virgo por preocupações sobre a segurança dos recursos dos cotistas.

Impactos e medidas

Fontes próximas ao caso indicam que, apesar da exposição ao risco, parte dos recursos do fundo de reserva permanece aplicada em produtos de elevada liquidez, o que não comprometeria totalmente o patrimônio dos cotistas. Segundo essas fontes, não houve prejuízo efetivo aos investidores.

Após a descoberta da situação, a Virgo revisou sua governança corporativa para prevenir episódios similares e proteger os interesses dos cotistas de suas operações.

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Redação Suno Notícias

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