Executivo é demitido após expor fundo de reserva de CRIs a operação de alto risco

Uma grave falha de governança na Virgo, segunda maior securitizadora do Brasil com R$ 90 bilhões sob gestão fiduciária, criou apreensão no mercado de crédito nas últimas três semanas, conforme apuração do Investnews. A empresa utilizou recursos de fundos de reserva de CRIs em uma operação considerada de alto risco, contrariando as melhores práticas do setor.

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O responsável pela decisão, segundo fontes de mercado, teria sido Eduardo Levy, head de investment banking da Virgo, que foi afastado pela empresa em julho deste ano, assim que a situação foi descoberta. Levy entrou na securitizadora em janeiro, após oito anos na Monte Bravo. Procurado pelo Suno Notícias, o executivo afirmou: “meu envolvimento foi de quem renunciou da Virgo e alertou os agentes de mercado e CVM. Minha reclamação, com conteúdo e fatos, está na comissão e nas mãos de agentes do mercado.”

Eduardo Levy. Foto: Reprodução Site
Eduardo Levy. Foto: Reprodução Site

A situação envolve o uso inadequado de recursos destinados à proteção de investidores. Os fundos de reserva de CRIs existem como garantia para pagamento de juros, amortizações e proteção contra inadimplência, devendo permanecer sempre disponíveis e separados dos recursos da securitizadora.

Segundo apuração, Eduardo Levy teria direcionado recursos desses fundos de reserva para o fundo Allocation, que posteriormente foi utilizado para honrar uma “garantia firme” em uma nova operação de CRI da Oncoclínicas, no modelo built-to-suit.

A operação da Oncoclínicas (ONCO3) não obteve a demanda esperada de investidores, forçando o exercício da garantia firme. Consequentemente, o fundo Allocation ficou com os papéis em carteira, concentrando parte significativa de seu patrimônio em um ativo de baixa liquidez e alto risco.

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Violação das Melhores Práticas

A manobra descumpriu frontalmente as práticas estabelecidas no mercado. Embora a legislação não especifique quais ativos devem compor os fundos de reserva, é consenso que esses recursos, pertencentes aos cotistas dos CRIs, devem ser aplicados em ativos seguros, líquidos e de baixa volatilidade.

O fundo Allocation, conforme seu regulamento, possui liberdade para investir em qualquer produto do mercado, inclusive aqueles com alto risco de crédito que podem gerar “perdas substanciais do patrimônio líquido”. Essa característica o torna inadequado para receber recursos de fundos de reserva.

A operação também evidencia um potencial conflito de interesses, já que o executivo da Virgo utilizou recursos dos fundos de reserva para garantir uma operação em que a própria empresa estava envolvida na estruturação.

O episódio causou reações imediatas no mercado, com alguns clientes decidindo interromper negócios com a Virgo por preocupações sobre a segurança dos recursos dos cotistas.

Posição da Virgo

A Virgo informou que “não comenta operações específicas nem rumores de mercado”, mas reafirma que suas atividades seguem “estritamente a legislação vigente, as normas dos órgãos reguladores e as melhores práticas do mercado de capitais“.

A securitizadora destacou que já estruturou mais de 900 operações desde sua fundação “sem qualquer registro de atuação irregular” e que “nenhuma dessas operações resultou em prejuízo a clientes ou investidores”.

A empresa também assegura que os compromissos assumidos vêm sendo cumpridos integralmente, com preservação do fluxo normal de pagamentos, resgates e demais obrigações contratuais.

Impactos e medidas

Fontes próximas ao caso indicam que, apesar da exposição ao risco, parte dos recursos do fundo de reserva permanece aplicada em produtos de elevada liquidez, o que não comprometeria totalmente o patrimônio dos cotistas. Segundo essas fontes, não houve prejuízo efetivo aos investidores.

Após a descoberta da situação, a Virgo revisou sua governança corporativa para prevenir episódios similares e proteger os interesses dos cotistas de suas operações.

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Redação Suno Notícias

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