Truxt previu retomada nos EUA; agora preocupação é situação fiscal no Brasil

Em abril, em meio ao caos que tomava conta das Bolsas pelo mundo durante a fase mais aguda da crise causada pelo novo coronavírus (covid-19), a Truxt previa que os EUA deveriam liderar a reabilitação econômica e, consequentemente, seus ativos iriam se recuperar de forma mais acelerada que os demais. E foi isso que ocorreu.

Agora, em meio a altas (e até recordes) recentes dos índices, a Truxt se mostra preocupada com a situação fiscal brasileira. Para o CEO da gestora, José Tovar, a postura dos governantes aponta que o Brasil poderá seguir a trilha da irresponsabilidade fiscal.

“Falando de Brasil, eu estou muito preocupado com a situação fiscal. Está começando a hora de você iniciar a definição de como será o quadro fiscal de 2021 e a postura do Presidente e do Congresso é para o País gastar mais do que pode”, disse o CEO da Truxt.

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Segundo Tovar, apesar das preocupações, a Truxt continua otimista com as ações, mas a situação atual faz com que a gestora monte posições defensivas caso os mercados entrem, novamente, em crise.

“A crise faz com que a gente construa hedges para as posições. Além de ser comprado em Bolsa, porque somos animados com a Bolsa no mundo, a gente está tomado em juros, comprados em dólar, em ouro, tomados nos juros americanos de 30 anos”, afirmou o CEO.

No Brasil, a carteira da Truxt pouco mudou desde o início do ano. A gestora continua a busca de companhias com boa gestão e bons fundamentos.

“Nossa carteira não mudou muito. É uma carteira de ações de empresas capitalizadas com bom managements, como Magalu, Mercado Livre, além de empresas que se beneficiam do atual cenário, como XP, BTG, B3 e também gostamos muito de Natura. De empresa tradicional gostamos de Vale, porque o minério está lá em cima e câmbio desvalorizado, então já já deve pagar dividendos”, disse Tovar.

Confira a entrevista do SUNO Notícias com José Tovar, CEO da Truxt:

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-No nosso último papo, o senhor disse que a bolsa americana deveria se recuperar mais rápido que a brasileira. Foi isso que ocorreu. Como você está analisando o que o mercado está passando?
O mercado lá fora continua com sinais de juros muito baixos e isso dá uma animação para o mercado e para ativos de risco. A Bolsa americana repete recordes quase todo dia, principalmente com as ações de tecnologia, então isso é um empurrão para as Bolsas do mundo. Há uma força para ativos de risco muito grande e isso gera essa euforia, principalmente para os mercados americanos.

Falando de Brasil, eu estou muito preocupado com a situação fiscal e está começando a hora de você iniciar a definição de como será o quadro fiscal de 2021 e a postura do Presidente e Congresso é para o País gastar mais do que pode.

Então, se você quiser fazer uma renda mínima mais generosa, se quer fazer um pacote de infraestrutura, se você quer reforçar as verbas da Defesa, não tem dinheiro para todo mundo. Para isso, você tem que fazer uma série de reformas e os sinais políticos mostram que não há vontade de fazer.

Você vê isso na inclinação da curva de juros, na parte de baixo é o BC que manda, mas como o dólar andou muito, a curva está muito inclinada. São sinais evidentes de preocupação do mercado e teremos que descobrir se [o governo] vai se fazer um movimento de responsabilidade fiscal, não deixando que esse gasto fiscal emergencial, que foi necessário, mas foi feito para durar 2020, não transbordar em 2021.

Se você quer gastar, com reformas de infraestrutura, você vai ter que economizar em algum lugar. Então essa conta não está fechando, o mercado está animado com o discurso do Paulo Guedes, que diz que vai colocar a reforma administrativa na próxima semana, mas o presidente diz que só o ano que vem.

Então somos bem preocupados com a piora do quadro fiscal, e se ele se deteriorar, teremos mais preocupações com curva de juros. Dólar, CDS, então estamos em um momento importante de indefinição e os sinais não são animadores.

É claro que o bom humor no exterior ajuda a mitigar o problema. Então, o grande problema para nós é como vai se fazer essa transição fiscal de um gasto absurdo para uma coisa mais palatável. Por enquanto, o mercado está acreditando em milagres, como a reforma administrativa, por exemplo.

-Vocês fizeram uma realocação do portfólio em meio a crise?
A crise faz com que a gente construa hedges para as posições. Além de ser comprado em Bolsa, porque somos animados com a Bolsa no mundo, a gente está tomado em juros, comprados em dólar, em ouro, tomados nos juros americanos de 30 anos.

Então temos hedges na carteira porque estamos com muito medo que essa definição do fiscal em 2020 venha coisa ruim aí. Bolsonaro diz que são R$ 300 de ajuda até o fim do ano, são R$ 100 bilhões no Orçamento. Não digo que a ajuda não é necessária, mas tem a virada do ano para separar a ajuda da pandemia e a responsabilidade fiscal tem que voltar.

-Daqui para frente, como vocês enxergam a continuidade dessa crise?
Nossa carteira não mudou muito. É uma carteira de ações de empresas capitalizadas com bom managements, como Magalu, Mercado Livre, além de empresas que se beneficiam do atual cenário, como XP, BTG, B3 e também gostamos muito de Natura. De empresa tradicional gostamos de Vale, porque o minério está lá em cima e câmbio desvalorizado, então já já deve pagar dividendos.

Agora, tem muita volatilidade, a Bolsa está muito volátil e o mercado ainda continua acreditando muito no Paulo Guedes, o discurso dele é o discurso que o mercado quer ouvir, o problema é que o presidente está ouvindo de outras fontes também. Eu tenho mais medo do fiscal agora há alguns meses.

Entrevista com Truxt

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Vinicius Pereira

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