Trump na ONU: “rejeitamos o globalismo e abraçamos o patriotismo”

Trump terminou seu discurso na Assembleia Geral da ONU às 12h15 desta terça-feira, após falar sobre assuntos que vão da legitimidade do Conselho de Direitos Humanos da ONU e do Tribunal Criminal Internacional, que ele nega, às relações com países como Irã e Venezuela.

No início de seu discurso, ao qual chegou atrasado, falando após o Equador ao invés de antes, como planejado, Trump disse que “minha administração fez mais em menos de dois anos do que quase qualquer outra na história do país”. Quando a audiência de representantes internacionais riu da afirmação, ele disse “É verdade. Não esperava por essa reação, mas tudo bem”, e riu também, gerando mais risadas e até aplauso da audiência.

O tema central das falas de Trump foi a retomada do que ele vê como “relações justas” entre os EUA e a comunidade internacional, que ele afirmou ter se aproveitado de seu país, comercialmente, por tempo o bastante. Ele ressaltou sua política tarifária contra a China, citando especificamente os US$250 bilhões em bens chineses tarifados.

Em temática semelhante, ele falou do auxílio internacional prestado pelos EUA a países do mundo, dizendo que “Nós somos quem mais dá dinheiro para outros países mas poucos nos dão algo em troca”. A partir de agora, afirmou Trump, “só daremos dinheiro aos países que nos respeitarem e, francamente, forem nossos amigos”.

Trump foi específico em atacar a política comercial da China, mas foi ainda mais duro ao falar sobre o Irã e a Venezuela. Sobre o Irã, afirmou que seus líderes “semeiam morte e destruição, saqueando os recursos do país para enriquecer a si mesmos e desviar bilhões do tesouro iraniano”, em uma crítica direta atípica dos discursos da Assembleia Geral, que costumam lidar com temas mais amplos. Trump afirmou também que o acordo nuclear de 2015 foi “horrível” e “muito ruim” e convocou as outras nações a isolar o Irã.

Sobre a Venezuela, Trump anunciou que os EUA vão impor sanções mirando os líderes do regime de Maduro, em resposta às “desastrosas políticas socialistas” do país.

A ideia de soberania americana e inflexibilidade em lidar com organizações multigovernamentais foi reforçada por falas do presidente norte-americano sobre o Tribunal Criminal Internacional e a Comissão de Direitos Humanos da ONU: “Jamais renderemos a soberania dos EUA a um órgão global que não é eleito e não responde a ninguém,” disse.

Quem sabe a fala que melhor resuma o discurso de Trump seja esta: “A América é governada pelos americanos. Rejeitamos a ideia do globalismo e abraçamos a doutrina do patriotismo”.

A comunidade de jornalistas e diplomatas já reage desfavoravelmente ao discurso de Trump, no Twitter (na hashtag #unga), apontando a incompatibilidade do que foi dito com o propósito da ONU e o enfraquecimento do soft power norte-americano com as atitudes de rejeição à comunidade internacional.

Daniel Quandt

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