Grana na conta

Como a tensão do Afeganistão impacta a cotação do dólar?

Desde que os militantes do Talibã retomaram a capital do Afeganistão, quase duas décadas depois de serem expulsos pelas tropas norte-americanas, o dólar disparou. Isso porque a tensão geopolítica influencia os investidores a procurarem mais segurança em seus ativos, o que acarreta em perdas para moedas emergentes, como no Brasil.

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Para se ter uma base de comparação, na sexta-feira (13), último pregão da semana passada, o dólar comercial encerrou em queda de 0,21%, a R$ 5,24. Já nesta semana, após o Talibã assumir o Afeganistão no domingo (15), o câmbio encerrou, na última quinta-feira (19), em R$ 5,42.

Para a economista do banco Ourinvest, Cristiane Quartaroli, com as tensões geopolíticas os investidores tendem a tomar suas decisões de forma mais cautelosa.

Veja abaixo o gráfico do dólar do Banco Central:

Desse modo, os investidores buscam o dólar e a economia norte-americana na procura por mais segurança, o que penaliza mercados de países emergentes, como Brasil, onde a instabilidade política e os problemas fiscais seguem preocupando o mercado.

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“A questão geopolítica no Afeganistão gera instabilidade e afeta a medida de risco dos países principalmente. Então os investidores tendem a tomar suas decisões de forma mais cautelosa, ou seja, procurando ativos mais seguros, menos voláteis e que, de certa forma, estão mais concentrados na economia americana”, disse Quartaroli.

Os títulos públicos dos EUA, as Treasuries, são considerados os investimentos “mais seguros do mundo” porque o calote é improvável, o que significa que o fator confiança do país é alto.

Situação no Afeganistão afeta países emergentes

O Talibã foi criado em 1996 e se tornou aliado do AI-Qaeda, grupo terrorista responsável pelo atentado às Torres Gêmeas em 2001. Após financiar grupos rebeldes por anos na região, os Estados Unidos colocaram o Talibã no considerado “Eixo do Mal”.

A última vez em que o Talibã esteve no controle do Afeganistão foi em outubro de 2001. Desde então, os Estados Unidos ocuparam o local e, efetivamente, pouco fizeram para combater o grupo radical.

Da mesma forma, o exército afegão não se preparou para uma eventual saída das tropas norte-americanas, mesmo recebendo investimentos trilionários dos norte-americanos.

No último domingo (15), após o Talibã assumir o poder de Cabul, capital do Afeganistão, o presidente do país, Ashraf Ghani, fugiu em direção ao Tajiquistão. Milhares seguiram o exemplo e tentaram sair do país a todo custo.

Com esse panorama, a economista explica que a tensão geopolítica no Afeganistão penaliza países emergentes como o Brasil porque essa procura por ativos mais seguros faz com que os investidores retirem seus recursos devido à volatilidade e aversão ao risco que costumam ser maiores nos emergentes. “Como o Brasil é um dos emergentes mais líquidos. A consequência é a pressão na nossa moeda”, disse Quartaroli.

Tensão no Afeganistão e FED penalizam o dólar no Brasil

Além do Afeganistão, os investidores também acompanham a sinalização do Federal Reserve (FED) de que deve começar a retirar os estímulos monetários ainda em 2021. De acordo com a ata divulgada na quarta-feira (18), alguns membros do comitê de política monetária do banco central dos EUA apontaram que o “tapering” processo de redução dos estímulos deve começar no fim deste ano.

Mas apesar da situação no exterior, a economista ressalta que o mercado brasileiro tem até que reagido bem e o que tem mais preocupado os investidores é a situação política interna. “Vale destacar que o comportamento do mercado brasileiro tem respondido muito mais às questões internas ultimamente. A preocupação com quadro fiscal e crise política continuam gerando muita instabilidade e pressão na nossa moeda”, concluiu.

Na tarde desta sexta-feira (20), por volta das 13h10, o dólar reverte a alta da abertura e tem queda de 0,34%, negociado a R$ 5,39.

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Poliana Santos

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