Startups sofrem com falta de mão de obra, mas financiamento só está começando, diz Abstartups

O apelo ao home office em meio à pandemia causou um fenômeno curioso no ecossistema das startups no Brasil. Acostumadas a competir por talentos com as grandes companhias brasileiras, essas empresas de tecnologia agora também disputam com empresas estrangeiras para conseguirem contratar e reter bons profissionais.

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De acordo com Ingrid Barth, vice-presidente da Abstartups, startups de países como os EUA ou a Alemanha buscam, agora, profissionais de tecnologia no Brasil, na maior parte das vezes para trabalhar de forma remota, mas também auxiliando na mudança do profissional.

“Além de disputarmos esses profissionais com as grandes [companhias], também disputamos com empresas de fora do Brasil. Países como Alemanha, EUA, etc, têm sido bem agressivos na contratação dessas pessoas, nem só remoto, mas também oferecendo empregos por lá”, disse Barth.

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Segundo a executiva, além do aumento da oferta de novos empregos para companhias estrangeiras, a ida de empresas ao mundo online fez com que a demanda por esses profissionais aumentasse como um todo, causando uma disputa ainda maior.

“Aumentou muito a demanda por profissionais liberais, que trabalham por projeto, e houve o aumento da demanda por esses profissionais vinculados à tecnologia”, afirmou a vice-presidente da Abstartups.

Segundo a Brasscom, o déficit de profissionais de tecnologia pode chegar a 260 mil até 2024. Só de 2019 para 2020, a Catho registrou aumento de mais de 600% nas ofertas de vagas como cientista de dados, desenvolvedores e programadores, por exemplo.

Dessa forma, as startups buscam, agora, oferecer participações em projetos e também formar novos profissionais “dentro de casa”. “Existe, obviamente, um incentivo para formar esses profissionais, então começamos observar cursos profissionalizantes de programação, que é uma das alternativas que as empresas vêm encontrando para ter o seu próprio capital social”, afirmou.

Apesar das dificuldades das startups na hora da contratação, arranjar dinheiro para bancar deve ficar mais fácil. O movimento de investimento em startups vem se acelerando e deve continuar a crescer nos próximos anos.

Os investimentos na indústria de private equity (PE) e venture capital (VC) somaram R$ 10,7 bilhões no primeiro trimestre de 2021, uma alta de 87% quando comparado com o mesmo período de 2020, de acordo com dados divulgados pela Associação Brasileira de Private Equity e Venture Capital (Abvcap) e a KPMG.

“Obviamente que as taxas que não estão tão atrativas quanto antes, mas ainda acabam por despertar o interesse de family offices e fundos de investimentos. Então, temos visto, mas acho que é só o começo de fato e temos muitas oportunidades para todos os níveis de fundo”, disse Barth.

Confira a entrevista do SUNO Notícias com Ingrid Barth, vice-presidente da Abstartups:

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-A chegada do home office em meio à pandemia vem atraindo empresas estrangeiras que buscam contratar mão de obra qualificada do País. Como isso afeta as startups brasileiras?
O setor de startups, de uma maneira geral, tem um DNA tecnológico, com empresas nascendo digitalmente em um modelo escalável. Ou seja, com a mesma aplicação eles conseguem atingir o máximo de pessoas possíveis.

Os profissionais desse setor, aqui no Brasil, são muito especializados, técnicos, ainda temos ali um desafio muito grande na formação deles, pois são áreas de ciência, matemática, tecnologia, com menos demanda de pessoas interessadas do que outras.

Os profissionais que existem são altamente disputados por todas as empresas, não só pelas startups, mas também pelas grandes. Então uma fintech disputa com um grande banco, com condições melhores do que essas novas empresas podem oferecer.

Então uma possibilidade de atração de talentos é a participação societária, e isso é bastante atrativo.

Além de disputarmos esses profissionais com as grandes, também disputamos com empresas de fora do Brasil. Países como Alemanha, EUA, etc, têm sido bem agressivos na contratação dessas pessoas, nem só remoto, mas também oferecendo empregos por lá.

Existe, obviamente, um incentivo para formar esses profissionais, então começamos observar cursos profissionalizantes de programação, que é uma das alternativas que as empresas vêm encontrando para ter o seu próprio capital social.

Assim, o mercado tem melhorado, mas ainda não na mesma proporção da demanda. Ainda temos bastante dificuldade, tudo é difícil quando se fala de pessoas, são bons planos de carreira, propósito, valorização profissional.

A pandemia fez com que o ambiente físico fosse comprometido. Isso significa que vários business que tinham a oferta de maneira física tiveram que encontrar alternativas de viabilizar a prestação de serviço de maneira digital, criando estratégia de delivery, de e-commerce, o que faz criar uma demanda de profissional de tecnologia.

Por isso, aumentou muito a demanda por profissionais liberais, que trabalham por projeto, e houve, sim, o aumento da demanda por esses profissionais vinculados à tecnologia.

 

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-Outro ponto que o Brasil passa por mudanças é no aumento do venture capital no País. Como vocês analisam isso? A alta da Selic pode desanimar o setor das startups?
A realidade é um pouco diferente do que parece no Sul e Sudeste. Na Abstartups, há um trabalho de comunidades pelo Brasil muito forte. Esse trabalho vem acontecendo e, mesmo com tudo isso, ainda há uma concentração muito grande no Sul e Sudeste e nossa intenção é disseminar pelo Brasil de maneira mais igualitária.

Não é uma realidade para o Brasil esse mercado. Ele tem bastante oportunidade, as pessoas estão aprendendo como se constrói. Essa questão de tecnologia ainda é um desafio, então é um mercado que tem crescido cada vez mais e a gente está só no começo.

Quando olhamos para os ecossistemas que orbitam as startups, você tem os fundos de venture capital e investidores-anjo, então toda a indústria desse investimento de capital de risco ainda também está se formando assim como o conceito de startup.

Tem muita coisa boa para acontecer nesse sentido. Obviamente que as taxas que não estão tão atrativas quanto antes, mas ainda acabam por despertar o interesse de family offices e fundos de investimentos. Então, temos visto, mas acho que é só o começo de fato e temos muitas oportunidades para todos os níveis de fundo.

Há oportunidades para fundos de fora também. EUA e Europa, com uma indústria mais madura, acabam voltando as atenções para mercados em construção, como o Brasil.

-A pandemia alterou algo desse mercado?
Quando você tem a pandemia, o mercado ficou bem agitado, com Bolsa caindo, muitos investidores que já estão mais habituados não alocam em startups.

Por outro lado, muitos fundos estavam capitalizados e o movimento que observei dos fundos de VC foi uma parada para recalcular rota, como estava muito inseguro, ninguém sabia direito o que estava ocorrendo, aqueles investimentos que já estavam avançados continuaram, mas as conversas esfriaram.

Mas, eles não pararam, apenas recalcularam as rotas, esperaram e retornaram. E a indústria tem que continuar. As startups foram beneficiadas como um todo.

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Vinicius Pereira

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