Após redução de operações na América Latina, Shopee corre riscos no Brasil?

Recentemente, a Shopee anunciou que irá aumentar as taxas de comissão no Brasil, sair da Argentina e diminuir operações no México, Colômbia e Chile. Afinal, o que isso significa e como pode afetar o varejo brasileiro?

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Forrest Li, CEO do Sea Group – conglomerado de Cingapura que controla a Shopee, parece determinado em diminuir os custos da operação da empresa de e-commerce, preocupado com “incertezas econômicas”.

“É o fim do almoço grátis”, reforça Luiz Claudio Melo sócio-diretor da divisão de varejo da consultoria 360 Varejo.

Em uma “era” de altas taxas de juros, inflação, forte competitividade, a Magazine Luiza (MGLU3), a Via (VIIA3),a Americanas (AMER3) e o Mercado Livre (MELI34) são as protagonistas do pesadelo do varejo que persiste desde o início da pandemia. 

A Shopee, que chegou ao Brasil com um marketing agressivo, preços baixíssimos e taxa zeradas, parece ter levado o primeiro golpe no Brasil. 

Daniela Eiger, head de varejo da XP Investimentos, avalia que as ações recentes da Shopee sinalizam um maior foco da companhia na racionalização de investimento. 

Na opinião da especialista, a Shopee está fechando operações novas, com menores resultados. Prefere focar nos mercados que veem maior potencial de valor, caso da companhia no Brasil.

Entretanto, Melo observa que a razão de saída e diminuição de operações estão mais atreladas ao modelo de marketplace, como o da Shopee no Brasil. É uma operação de baixíssima rentabilidade, para não dizer “lucro próximo de zero”, de queima de caixa.

“Se por um lado você não tem custo de aquisição de mercadoria, por outro você vê custo de aquisição de clientes”. 

Além disso, a Shopee encontrou um varejo no Brasil dominado e com um consumidor com uma cultura exigente de frete grátis e entrega rápida, explica o especialista.

Em suma, o modelo acaba não dando rentabilidade nem lucro para os acionistas, ao mesmo tempo em que as baixas taxas de comissão agradam os vendedores, os chamados sellers, que fornecem a mercadoria.

“É um cabo de guerra”, descreve Melo.  A possível “salvação” para uma empresa neste modelo é a estratégia de fulfillment, descreve o especialista, a operação logística pelo próprio marketplace. O Mercado Livre tem essa vantagem, com um serviço de entregas rápido e próprio.

O CEO do Sea Group explica em documento enviado para seus funcionários que a Shopee precisa se livrar do capital externo se tornando autossuficientes, gerando caixa para suas necessidades e projetos.

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Neste sentido, a competitividade de serviço no varejo brasileiro aumenta cada vez mais. “A competição ganhou uma escala tão grande que nós temos algumas nuvens bem cinzentas para a Shopee”, explicou Melo.

O aumento de taxas nas comissões também poderia levar a um afastamento de sellers na plataforma. Novamente, uma possibilidade. Para Daniela Eiger, a saída de sellers é um risco, mas é algo que o mercado como um todo vem realizando.

“A Shopee de fato está focada no Brasil, pelo menos por enquanto. Então ela deve seguir um como um player relevante do lado de competição no segmento, que na nossa visão traz um risco maior”, conclui Eiger. 

No segundo trimestre deste ano, a Shopee apresentou um prejuízo líquido de US$ 648,1 milhões.

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Ana Clara Macedo

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