Selic a 15%: Copom aponta resiliência da economia como motivo para nova elevação

O Comitê de Política Monetária (Copom) justificou a elevação da Selic na reunião da semana passada, de 14,75% para 15% ao ano, devido ao fato de a atividade econômica se manter resiliente, a despeito das seguidas altas nas taxas de juros desde o ano passado.

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“A economia ainda apresenta resiliência, o que dificulta a convergência da inflação à meta e requer maior aperto monetário”, escreveu o colegiado em ata da reunião da última quarta-feira (18), divulgada na manhã desta terça-feira (24). A decisão surpreendeu parte do mercado, que projetava uma pausa nas elevações.

A diretoria do Banco Central ponderou, porém, que o ciclo até então empreendido foi “particularmente rápido e bastante firme”, o que teria reforçado o entendimento de que, dadas as defasagens inerentes aos efeitos da política monetária, grande parte dos impactos da taxa mais contracionista ainda está por vir.

“Em função disso, o Comitê comunicou que antecipa uma interrupção no ciclo de elevação de juros para avaliar os impactos acumulados ainda a serem observados da política monetária”, salientou.

André Muller, economista-chefe da AZ Quest, acredita que esse trecho deixa claro o fim do ciclo de altas. “Foi um ciclo rápido e bastante firme. O Banco Central tem agora condições de avaliar se a estratégia de manter os juros num patamar atual vai ser consistente com a convergência da inflação para a meta”, diz o analista.

O colegiado voltou a dizer que, determinada a taxa apropriada de juros, ela deve permanecer em patamar “significativamente contracionista por período bastante prolongado” devido às expectativas desancoradas. “O Comitê enfatiza que seguirá vigilante, que os passos futuros da política monetária poderão ser ajustados e que não hesitará em prosseguir no ciclo de ajuste caso julgue apropriado”, diz o texto.

“Esse cenário impacta diretamente o crédito. Instituições já estão mais restritas e criteriosas nas concessões. Para as empresas, o recado é que precisam planejar bem cada tomada de recurso, porque o custo continua elevado e a seletividade do mercado aumentou”, avalia Volnei Eyng, CEO da gestora Multiplike.

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Selic a 15%: decisão foi unânime, diz Copom

A ata informa que os nove integrantes do Comitê de Política Monetária (Copom) avaliam que a desancoragem das expectativas do mercado para a inflação exige um patamar de juro mais restritivo por mais tempo. “A desancoragem das expectativas de inflação é um fator de desconforto comum a todos os membros do Comitê e deve ser combatida”, diz o documento.

O colegiado salientou que as expectativas de inflação, medidas por diferentes instrumentos e obtidas de diferentes grupos de agentes, mantiveram-se acima da meta de inflação em todos os horizontes, tornando o cenário de inflação mais adverso.

“Nos horizontes mais curtos, a partir da divulgação dos dados mais recentes, observa-se uma queda nas expectativas de inflação. Para os horizontes mais longos, por outro lado, não houve alteração relevante entre as reuniões do Copom”, comparou.

Importância da política fiscal

Os integrantes do Copom também destacaram os impactos da política fiscal para a condução da política monetária. “Em particular, o debate do Comitê evidenciou, novamente, a necessidade de políticas fiscal e monetária harmoniosas, Uma política fiscal que atue de forma contracíclica e contribua para a redução do prêmio de risco favorece a convergência da inflação à meta”, diz o texto.

Os integrantes do BC registraram no documento que o debate mais recente, com ênfase na dimensão estrutural do orçamento fiscal e na redução ao longo do tempo de gastos tributários, tem potencial de afetar a percepção sobre a sustentabilidade da dívida e de ter impactos sobre o prêmio da curva de juros.

“O Comitê reforçou a visão de que o esmorecimento no esforço de reformas estruturais e disciplina fiscal, o aumento de crédito direcionado e as incertezas sobre a estabilização da dívida pública têm o potencial de elevar a taxa de juros neutra da economia, com impactos deletérios sobre a potência da política monetária e, consequentemente, sobre o custo de desinflação em termos de atividade”, mencionou.

“Diante desse cenário, é provável que o Copom mantenha o viés de manutenção em patamar alto por algum tempo. A perda de fôlego na economia global, agravada pela incerteza fiscal no Brasil, reforça a necessidade de cautela, ao mesmo tempo em que limita a margem de manobra para cortes ou flexibilizações rápidas”, diz Sidney Lima, analista CNPI da Ouro Preto Investimentos.

“É um documento que reforça que a condução da política monetária está ocorrendo de maneira independente, bastante conservadora e focada no atingimento das metas do Banco Central à frente. Nesse sentido, é mais um elemento bem-vindo que deve trazer uma redução adicional do prêmio de risco nos ativos brasileiros, notadamente nas inflações implícitas”, avalia André Muller, da AZ Quest. 

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Fernando Cesarotti

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