A possível demissão do presidente do Banco do Brasil (BBAS3), André Brandão, pressionou as ações da instituição financeira e foi mal recebida pelo mercado. Segundo analistas e gestores ouvidos pelo Suno Notícias, a saída do executivo seria prejudicial e desgastante para o futuro do banco.
Nesta manhã, foi noticiado que algumas autoridades estão tentando convencer Jair Bolsonaro a reverter a decisão. Além disso, o Banco do Brasil declarou que ainda não recebeu nenhum aviso sobre a demissão de André Brandão. Mesmo assim, as especulações são o suficiente para causar problemas, segundo Gustavo Cruz, estrategista da RB Investimentos.
“Mesmo não confirmada a informação, a falta de posicionamento em negar a notícia mostra que há divergências dentro do governo”, diz. Ele destaca que, inicialmente, as autoridades, principalmente do Ministério da Economia, haviam afirmado que permitiria mudanças no banco.
Além disso, para o estrategista da RB, a intervenção atinge diretamente a confiança do mercado do Banco do Brasil. Em sua última reunião com investidores, o banco havia reforçado seu comprometimento com práticas ESG, que incluem boa governança coorporativa.
“No ESG a governança faz parte do foco. É necessário deixar as pessoas fazerem seus trabalhos. Uma empresa centralizada, com intervenções, sejam elas familiares ou políticas, não está apta para dizer que foca nesse tipo de gerenciamento”, afirmou.
Impossibilidade de mudança mostra Banco do Brasil “engessado”
O boato de demissão de André Brandão aconteceu após o Banco do Brasil anunciar uma reestruturação do seu negócio, que contaria com o fechamento de 361 agências e dois programas de demissão voluntária.
Para Cruz, o processo de reduzir agências é hoje algo natural e prova de eficiência. “Todos os bancos estão realizando movimentações do tipo. O Banco do Brasil vinha mostrando uma digitalização bem sucedida, com forte adesão ao PIX, por exemplo. A interrupção, agora, mostra um banco engessado”, diz.
Victor Beyruti, da Guide Investimentos, lembra que Brandão ficou pouco tempo no cargo. “Ele chegou em setembro, justamente para enxugar as operações e para deixar o Banco do Brasil mais próximo de uma completa digitalização. Com as mudanças, ele estava fazendo apenas o trabalho dele”, menciona.
A XP Investimentos, em relatório, afirmou que Brandão é um veterano respeitado, com mais de 30 anos de experiência em bancos privados, e que a decisão pode ser vista apenas como interferência política em detrimento dos acionistas minoritários.
Mesmo assim, a XP manteve recomendação de compra para o banco por acreditar que a mudança não alterará seus fundamentos.
Para a Ativa Research, a notícia é negativa pelo mesmo motivo: expõe riscos de ingerência política no banco e coloca em xeque a possibilidade da instituição assumir uma gestão mais liberal.
O Goldman Sachs, em relatório, afirmou que a possível mudança de presidente “aumenta incertezas” e gera, por conta do curto mandato, receios quanto a estratégia administrativa que o banco seguirá.
As possíveis demissões, para Cruz, atiçaram o corporativismo. “Todas as vezes que tentam mexer com servidores públicos, há resistência. As categorias conseguem se posicionar para travar mudanças”, afirmou.
Intervenção enfraquece discurso liberal do governo
A possível intervenção, ainda para o estrategista da RB, mostra que todas as estatais, e não apenas o Banco do Brasil, não estão livres para realizarem mudanças e se autogerirem. “Como acreditar em mudanças em outras estatais com um evento desse? Como acreditar na privatização da Eletrobrás (ELET3)?”, questiona.
Para todos os especialistas escutados pela Suno Notícias, se o Governo Federal se posicionou contra as mudanças no Banco do Brasil, por conta de pressão corporativista e política, não há motivo para imaginar que isso não acontecerá em outras ocasiões.
Para Beyruti, a decisão é frustrante. “É um balde de água fria para quem acreditava nas promessas da equipe econômica de que as estatais seriam regidas de maneira mais técnica”, finaliza.
Às 10h40, as ações ordinárias do Banco do Brasil caem 0,85%, enquanto o Ibovespa sobe 0,52%. Ontem, o papel caiu quase 5%.
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