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Por que os brasileiros não investem na Bolsa de Valores?

Em 2018 o Brasil registrou um aumento de 38% no número de pessoas físicas que começaram a investir na Bolsa de Valores de São Paulo (B3) em relação a 2017.

O número de investidores na Bolsa de Valores nesses três anos foi de:

  • 2017- 619.625 investidores
  • 2018- 813.291 investidores
  • Até julho de 2019- 1.244.953 investidores

Apesar do rápido crescimento, o total de investidores brasileiros é de aproximadamente 1,240 milhão de  pessoas. Um número menor a 1% do total da população do País.

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Em comparação com os EUA, esse número aparece ainda mais impiedoso. Nos Estados Unidos cerca de 60% dos habitantes investe na Bolsa de Valores de Nova York (NYSE). Profissionais dos mais diversos tipos – de advogados a professores de escola primária, até bombeiros – se tornam investidores seja para aumentar seu patrimônio que para garantir sua aposentadoria.

Então, por que os brasileiros não investem tanto quanto os norte-americanos?

Segundo o fundador da SUNO Research, Tiago Reis, existem três motivos principais para o baixo número de brasileiros operando na Bolsa de São Paulo:

  • baixa poupança dos brasileiros
  • juros elevados
  • modelo de negócios dos bancos

“Os brasileiros tem historicamente uma baixa propensão a poupar. Esse é o primeiro problema. Para poder investir é necessário antes colocar as próprias contas em ordem, ou seja, gastar menos do que se ganha. E isso historicamente aconteceu muito pouco”, explicou Reis.

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Além disso, segundo o fundador da SUNO Research, existe também um problema de “mentalidade”. “Muitas pessoas consideram a Bolsa de Valores um cassino. Especialmente por causa dos operadores de day trade. Uma prática que, no final, se demonstrou somente produtora de prejuízos para mais de 90% dos operadores“, salientou Reis, “além disso, casos de perdas importantes que ocorreram no passado, como o caso das empresas do Eike Batista, deixaram muita gente com uma visão desconfiada da Bolsa. As empresa do Grupo X seduziram muitos investidores pessoas físicas em um certo momento dos anos 2000, e a derrocada do grupo gerou temores sobre outras empresas também, mesmo se muito mais sadias”.

Juros altos desestimulam investimentos na Bolsa de Valores

Além de um problema “cultural”, existe também uma questão ligada as taxas de juros muito altas. Um ponto fundamental segundo o professor do Departamento de Finanças da FGV-EAESP e coordenador do Centro de Estudos em Micro-finanças e Inclusão Financeira da FGV, Lauro Gonzalez.

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“Historicamente, o País sempre teve taxas de juros exorbitantes. E isso jogou contra os novos investidores”, explicou o professor. Segundo ele, a redução da taxa Selic está gerando uma migração dos investidores de investimentos e aplicações de renda fixa para a renda variável.

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Além disso, o prof. Gonzalez explicou que a Bolsa de Valores brasileira sempre beneficiou mais aos bancos do que a própria população. Isso por causa do baixo número de ativos presentes no mercado financeiro brasileiro, que limita as escolhas dos investidores.

Como mudar esse cenário

Para professora de finanças, Virgínia Prestes da Fundação Armando Alvares Penteado (FAAP), o melhor caminho para aumentar o número de investidores na Bolsa de Valores e a educação financeira.

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“As pessoas precisam ter mais conhecimento. Se você for buscar nos últimos 10 anos vai perceber como mesmo quando o Brasil estava indo melhor, com o Produto Interno Bruto (PIB) bom, no governo Lula, a Bolsa de Valores tinha cerca de 500-600 mil investidores. É evidente que esse número ficou praticamente parado até recentemente em 2015, 2016.”, salientou a professora.

Rafael Lara

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