Dividendos da Petrobras (PETR4) irritam investidores: anúncio abala o mercado e ação afunda no Ibovespa

Em relatório após a divulgação dos resultados do quarto trimestre (4T23) da Petrobras (PETR4), analistas reagiram com decepção ao anúncio do pagamento de dividendos feito pela estatal, sobretudo pela ausência dos proventos extraordinários. O Santander (SANB11), por exemplo, rebaixou a recomendação para as ações da empresa. As ações da companhia operam em forte queda nesta sexta-feira (8) no Ibovespa. Afundam quase 10% no Ibovespa hoje.

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Perto das 13h, as ações ordinárias de Petrobras (PETR3) derretiam 13,38%, cotadas a R$ 35,74, enquanto as preferenciais (PETR4) recuavam 12,75%, a R$ 35,24.

Cotação PETR4

Gráfico gerado em: 08/03/2024
5 Dias

O que aconteceu com os dividendos da Petrobras?

Em relatório enviado a clientes sobre os dividendos da Petrobras, o Santander (SANB11) rebaixou a recomendação da ação da Petrobras de ‘outperform’ (equivalente a compra) para ‘neutra’, mencionando a falta de catalisadores em termos de fundamentos e que, sem dividendos extraordinários, a estatal negocia a um dividend yield (rendimento de dividendos) de cerca de 9%, majoritariamente em linha com pares latino-americanos e europeus.

“Acreditamos que a falta de dividendos extraordinários da Petrobras envia sinais confusos em relação à estratégia de alocação de capital de curto prazo, especialmente porque vemos a Petrobras detendo cerca de US$ 18 bilhões em dinheiro no final de 2023 (contra uma posição de caixa de referência de aproximadamente US$ 8 bilhões, que assumimos ser suficiente para cobrir planos de Opex/Capex). Isto sugere uma posição de caixa excedente de aproximadamente US$ 10 bilhões”, afirmam os analistas Rodrigo Almeida, e Eduardo Muniz.

A expectativa do Santander, após o balanço da Petrobras, é de que a Petrobras gere um fluxo de caixa operacional de aproximadamente US$ 40 bilhões em 2024, “o que é mais que suficiente para financiar investimentos”. Contudo, o banco não descarta que a estatal pode acelerar a atividade de fusões e aquisições em 2024, limitando o potencial de pagamento de dividendos extraordinários e aproximando o rendimento de proventos da Petrobras ao de seus pares.

“Reduzimos as nossas expectativas de dividendos para 2024 para US$ 9,5 bilhões (8,8% de dividend yield), dos US$ 16 bilhões anteriores, até termos mais clareza sobre o momento/magnitude dos pagamentos extraordinários de dividendos no futuro”, afirmam os analistas.

Por que a Petrobras cai hoje?

O Santander considera que a Petrobras mantém fundamentos sólidos, mas há falta de catalisadores para as ações atualmente. De acordo com pesquisa do banco de 26 de fevereiro, 50% dos investidores não pretendiam manter a Petrobras após os resultados do quarto trimestre de 2023 e 50% indicaram dividendos extraordinários como o principal impulsionador das ações em 2024.

“Acreditamos que fundamentos sólidos prevalecerão novamente no futuro, especialmente se a Petrobras prosseguir uma estratégia de transição energética a ritmo lento. Contudo, acreditamos que é necessário mais clareza sobre a direção estratégica de curto prazo para uma visão mais otimista sobre as ações”, ponderam Almeida e Muniz.

O Santander cortou os preços-alvos da ação ordinária (PETR3) de R$ 52,00 para R$ 47,00, o que corresponde a um potencial de valorização de 16,36% sobre o fechamento de quinta-feira (7); e do American Depositary Receipt (ADR) de US$ 19,00 para US$ 18,00, o equivalente a um potencial de alta de 10% sobre o fechamento da véspera. Com cortes de preços-alvo, rebaixamento de recomendação e decepção com o 4T23 da Petrobras, os papéis da Petrobras tombam mais de 12% no Ibovespa.

Entenda a decisão sobre dividendos da estatal que frustram o mercado

Em relatório, a XP (XPBR31) avaliou que no resultado da Petrobras no quarto trimestre a empresa reportou Ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização) em linha com consenso e uma diferença de 5% em relação às expectativas da casa ao levar em conta itens não recorrentes.

No entanto, para a casa, o destaque do trimestre foi a escolha do conselho de administração da Petrobras de manter os dividendos de acordo com a fórmula mínima (US$ 2,9 bilhões, ~3% de yield), propondo direcionar o lucro restante do ano (US$ 8,9 bilhões) para ser totalmente alocado na recém-criada reserva de remuneração de capital.

“Esperamos uma reação negativa do mercado à decisão do conselho de administração, pois isso fará com que os investidores repensem sua visão sobre os riscos da Petrobras. Vemos a tese de investimentos agora como uma questão de avaliar a probabilidade de grandes movimentos de M&A ocorrerem no curto prazo”, escreveram André Vidal e Helena Kelm, da XP.

Para os analistas, se isso foi o que levou à decisão do conselho de administração, as ações da Petrobras provavelmente cairão ainda mais, devido a uma combinação de má alocação de capital com dividendos mais baixos (já que a fórmula mínima leva em conta M&A como Capex).

“Por outro lado, se isso tiver sido motivado principalmente pela vontade do governo de manter um “plano de reserva” para o caso de as contas fiscais se deteriorarem em breve, então esse dinheiro estocado acabará sendo pago de volta aos investidores e as ações poderão apresentar um bom desempenho de retorno total no futuro”, acrescentou a XP.

Pagamento de dividendos foi muito aquém do esperado, diz Genial

Em relatório, a Genial Investimentos avaliou os resultados da Petrobras no 4T23 como neutros, pontuando que o resultado trimestral da estatal foi puxado para baixo devido a um evento não-recorrente e não-caixa de valor expressivo: R$ 7,4 bilhões.

“Excluindo esse efeito não-recorrente, o Ebitda no 4T23 teria sido de R$ 74,3 bilhões, em linha com a estimativa”, disse o analista Vitor Sousa.

No entanto, na visão da casa, o grande ponto de atenção do trimestre foi o pagamento de dividendos, considerado muito aquém do esperado, tendo em vista a forte geração de caixa da Petrobras.

“O grande temor permanece no uso desses recursos com foco de acelerar a transição energética em projetos que julgamos pouco interessante, tendo em vista os grandes retornos do segmento de E&P, especialmente o pré-sal e a margem equatorial”, acrescenta a Genial.

A Genial tem recomendação ‘manter’ para as ações de Petrobras, com preço-alvo a R$ 47,00.

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Safra sobre Petrobras: decepção com os dividendos aumenta incertezas sobre estatal

Em relatório, analistas do Safra também se decepcionaram com a ausência de anúncio sobre os dividendos extraordinários da Petrobras. “Embora não esperávamos que a empresa pagasse o valor integral disponível para a remuneração extraordinária, também não esperávamos que a Petrobras não pagasse nada nessa frente, o que deve decepcionar o mercado”, ressaltaram os analistas Conrado Vegner e Vinícius Andrade.

Do lado operacional, o Safra lembra que o Ebitda recorrente ajustado da Petrobras de R$ 74,3 bilhões no trimestre ficou apenas 2% acima da previsão da casa e 11% acima do trimestre anterior.

“Acreditamos que a surpresa dos dividendos torna o custo de manutenção das ações da Petrobras menos atraente e aumenta a incerteza sobre pagamentos futuros e alocação de capital”, acrescentaram.

O Safra tem recomendação ‘neutra’ para as ações de Petrobras, com preço-alvo a R$ 34,00 para as ações preferenciais (PETR4) e ordinárias (PETR3).

Ausência de dividendo extraordinário trará reação negativa do mercado, diz Goldman Sachs sobre Petrobras

Em relatório, analistas do Goldman Sachs (GSGI34) pontuou que a Petrobras reportou um Ebitda em linha com o consenso do banco, mas também acredita que o principal destaque dos resultados do 4T23 foi o fato da empresa não ter proposto um dividendo extraordinário, o que pode levar a uma forte reação negativa do mercado.

“Para referência, com base na nossa recente conversa com investidores, acreditamos que o mercado esperava um anúncio de US$ 3-4 bihões em dividendos extraordinários, juntamente com os resultados do 4T, embora tenhamos estimado espaço para até US$ 8 bilhões”, reforçaram os analistas Bruno Amorim, João Frizo e Guilherme Costa Martins.

O Goldman tem recomendação de ‘compra’ para as ações de Petrobras, com preço-alvo a R$ 48,90 para as ações ordinárias (PETR3) e R$ 44,40 para as ações preferenciais (PETR4).

Questão dos dividendos extraordinários acende ‘luz vermelha’ para investidores, diz gestor sobre Petrobras

Andre Fernandes, head de renda variável e sócio da A7 Capital, lembrou que a Petrobras recuou em seus principais indicadores no 4T23, como lucro líquido, receita e Ebitda, mas nota que as grandes empresas do setor no mundo também vem apresentando quedas nessas mesmas linhas de receita, o que ele credita ao processo de transição energética.

No entanto, Fernandes ressalta que o maior peso nos ativos da Petrobras está relacionado à distribuição de dividendos. “Na minha opinião, a questão dos dividendos extraordinários acende a luz vermelha para os investidores, que devem colocar no preço das ações da estatal de que não haverá mais essa distribuição extraordinária de dividendos daqui pra frente, notícia negativa para os papéis da estatal”, destacou.

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Giovanni Porfírio Jacomino

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