Petrobras (PETR4): mercado vê “indicação técnica” e ações sobem
Após a demissão de Joaquim Silva e Luna e a indicação de Adriano Pires para a Petrobras (PETR4), as ações da estatal sobem 2,25% nesta terça-feira (29).
O mercado reage com cautela ao anúncio e ainda se mantém atento às sinalizações do Planalto sobre a política de preços da Petrobras.
O presidente Jair Bolsonaro (PL) sinalizou, por diversas vezes, insatisfação com a política de paridade internacional (PPI) – criada no governo Michel Temer e responsável por drivers de alta nos lucros da companhia.
Ainda no próximo dia 13 serão eleitos os novos conselheiros da companhia e Adriano Pires deve ser escolhido como presidente da Petrobras.
Segundo Flávio Conde, head de renda variável da levante, a alta nas ações ocorre porque Adriano Pires é um especialista do setor de energia que defende a manutenção da PPI.
“A adoção da PPI permitiu a Petrobras sair dos prejuízos do governo Dilma Rousseff e tornar-se muito lucrativa porque de lá para cá o preço do petróleo dobrou de cerca de US$ 50 o barril para US$ 109 hoje”, comenta.
O BTG Pactual Digital analisa que a nomeação de um sucessor reforça as preocupações sociais do governo federal e as tentativas de reduzir as pressões inflacionárias sobre a população devido à disparada dos preços dos combustíveis – que também custam capital político a Jair Bolsonaro.
“Em ano eleitoral, isso pode ser uma ferramenta política útil. A nosso ver, porém, a possível mudança deve significar pouco em termos de interferência direta na estratégia de precificação de combustíveis da empresa. O estatuto da Petrobras estabelece que os diretores e membros do conselho executivo/diretores são legalmente responsáveis por quaisquer decisões politicamente motivadas que resultem em perdas financeiras para a empresa”, diz o relatório do banco de investimento.
“Portanto, a menos que o acionista controlador tente mudar isso, achamos que a empresa continuará buscando uma estratégia semelhante, com os preços domésticos dos combustíveis convergindo para a paridade internacional no médio prazo, embora possivelmente ficando para trás no curto prazo, enquanto os preços do petróleo continuarem subindo”, concluem os analistas.
O BTG mantém recomendação neutra para os papéis PETR4, mirando um preço alvo de R$ 41.
Para o analista de Research da Ativa Investimentos, Ilan Arbetman, embora a decisão seja igual à tomada um ano atrás, quando o Executivo decidiu não reconduzir Roberto Castello Branco e indicar o Silva e Luna à presidência da Petrobras, os desdobramentos são mais ‘amenos’.
“Isto acontece pela hora pela qual a notícia foi divulgada e pelo mercado já trabalhar a semanas com a possibilidade da mudança ser executada”, comenta.
“A indicação seria técnica e o nome de Pires é reconhecido pelo mercado como uma indicação que não romperia com as transformações operacionais e financeiras que vêm sendo executadas na companhia desde a metade da década passada. O perfil de Pires também ajuda a mitigar os efeitos oriundos deste novo possível movimento”, destaca.
Dança das cadeiras não faz preço na Petrobras, mas eleições podem fazer
Ainda que a troca não tenha causado a mesma volatilidade de outras mudanças de CEO, os analistas seguem com as preocupações sobre eleições e possíveis intervenções neste e no próximo governo.
A expectativa é de que já na metade do ano a estatal sofra com a tensão política. Segundo Conde, da Levante, em junho e julho as ações da Petrobras devem começar a performar abaixo do mercado por causa do calendário.
“O atual candidato Luiz Inácio Lula da Silva e líder nas pesquisas já deu declarações que podem fazer as cotações de Petrobras caírem com declarações como ‘vamos abrasileirar o preço da gasolina’”, diz ele. O ex-presidente voltou a dizer que “não tem sentido o preço da gasolina ser internacional” e “nós não vamos manter o preço da gasolina dolarizado'”, cita.
“O presidente Bolsonaro, em segundo lugar nas pesquisas, também já fez declarações contra a política de preços da Petrobras, como quando disse ‘eu tenho uma política de não interferir, sabendo das obrigações legais da Petrobras. Mas, para mim, particularmente falando, é um lucro absurdo que a Petrobras tem dado em um momento atípico do mundo’”.
Apesar disso, recentemente, no dia 12, Bolsonaro afirmou: “Não estou satisfeito com o reajuste, mas não vou interferir no mercado”
Ucrânia segue no radar e pode ditar preços
Com a escalada dos preços do petróleo após o início da guerra na Ucrânia, há possibilidade também de as ações da estatal sangrarem por causa da retração do Brent abaixo de US$ 100.
“Nas próximas semanas, com o potencial término da guerra na Ucrânia, e, os próximos meses, principalmente, a partir de junho, com a eleição presidencial em foco, podem ser voláteis e ruins para a performance das ações da Petrobras. Nossa recomendação é de não ter as ações da Petrobras na carteira”, diz Conde, da Levante.
Veja falas de Adriano Pires
Em entrevista recente ao Estado de S. Paulo, Pires afirmou ser “muito difícil encontrar alguém que vá para a estatal para segurar preço”.
“Do presidente Temer para cá, a empresa passa a ter uma política de tendência de mercado internacional. Se alguém for para Petrobras e segurar preço de combustível está colocando o seu CPF na mesa”, disse ao Estadão.
Na mesma ocasião, Pires também defendeu a adoção de subsídio ao diesel e gás, mas se manifestou preocupado com o texto do projeto que está na casa legislativa. “Esse artigo é horrível porque no fundo está promovendo uma intervenção de preços”, comentou.
Sobre o imbróglio com Bolsonaro, Pires foi evasivo e disse: “Se ele faz qualquer tipo de intervenção na Petrobras, de fato, ele é igual ao Lula”.
Além disso, lembrou que na última troca de presidente da Petrobras o mercado havia ficado receoso com uma possível mudança na política de preços.
“Quando ele [Bolsonaro] tirou o Roberto Castello Branco, todo mundo acreditava que o general Silva e Luna fosse fazer isso e não fez”, citou.
“Acho que o risco de intervenção na Petrobras antes das eleições é muito baixo por duas razões. A primeira é que a regulamentação e o compliance da empresa após a Lava Jato dificultam muito que tanto a diretoria quanto o Conselho de Administração tomem ações que possam prejudicar os acionistas.”
“Segundo, se o presidente Bolsonaro interviesse na empresa, seria acusado de fazer a mesma política que Lula”, disse o recém indicado ao cargo de presidente da Petrobras em postagem no seu LinkedIn alguns momentos antes de sua nomeação ser oficializada.
