Paineiras investimentos: renda fixa voltou a ganhar atratividade

Se 2019 foi o ano da Bolsa, 2020 pode ser o retorno de ativos com mais segurança graças a crise causada pelo coronavírus (covid-19) e seus impactos na economia global. A avaliação é dos gestores da Paineiras Investimentos.

“No ano passado, foi o segundo maior ano de saída da renda fixa e entrada de renda variável. Os multimercados saíram da renda fixa e compraram bolsa. Há aí um cenário totalmente novo. Pode ser que a renda fixa, pagando 6% a 8%, parecia pouco, de repente agora, com a crise, já não é mais tão pouco assim”, disse o gestor da Paineiras, Guilherme Foureaux.

Com isso, a gestora, que tem cerca de R$ 1,6 bilhão sob gestão, voltou a operar renda fixa

“Voltamos a operar a parte de renda fixa e o grande motivo para isso é que hoje temos muito mais dúvida do que certeza em relação ao coronavírus”, disse.

Sobre a extensão da crise, os gestores deixam claro que ainda não enxergam uma luz no fim do túnel.

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“Não sabemos quanto tempo vai durar, quais setores vão sofrer mais, então são coisas que os economistas não conseguem lidar e, por isso, fica mais difícil de entender qual ativo está em um bom preço”, disse o gestor e sócio David Cohen.

Confira a entrevista do SUNO Notícias com os sócios da Paineiras Investimentos, Guilherme Foureaux e David Cohen:

-Como a Paineiras começou?
A Paineiras começou em 2007 e foi constituída por ex-sócios do Icatu que queriam abrir um fundo para administrar o capital próprio e também abrir para clientes no mesmo fundo.

O fundo é macro. Multimercado, com estratégia macro. Tem um perfil de buscar retornos nos principais mercados, de juros, câmbio, mercado de renda variável, mas sempre evitamos riscos micro, focamos mais em índices e mercado internacional.

Acho que uma característica legal do Paineiras, as pessoas estão juntas a muito tempo. Trabalhamos juntos na década de 90. Passando por várias crises, vários tipos de mercados distintos, e importante que você tenha uma empresa com vários níveis de senioridade.

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Estamos próximo de R$ 1,6 bilhão. Temos uma estratégia só do fundo macro, temos também um fundo de previdência e temos um fundo para não residente. Mas, basicamente somos uma casa monoproduto.

-Como vocês estão analisando a atual crise causada pelo coronavírus?
Guilherme Foureaux: tivemos movimentos do mercado até mais forte do que em 2008.

Vínhamos trabalhando de forma bastante otimista com o Brasil. Tínhamos um cenário de crescimento de 2,5% do PIB e, como a grande maioria do mercado, fomos surpreendidos pelo coronavírus e optamos por zerar todas as posições na segunda semana de março. Zeramos antes do pânico geral.

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Zeramos bolsa e logo depois as NTN-B pois gostamos de ter bastante liquidez para que possamos zerar em algumas horas e ter tempo para pensar, zerados, se voltamos para a posição ou não.

David Cohen – o Paineiras foi criado para gerir patrimônio dos sócios, mas os outros sócios também exigem um patrimônio alocado no fundo. Tem gente com mais de 80% do patrimônio próprio dentro do fundo, então isso é uma forma de gerenciamento de risco. A maior exposição do fundo somos nós.

Gostamos muito de ativos líquidos porque, às vezes, você precisa resetar tudo. Essa filosofia vem desde o começo da empresa e optamos por operar macro com ativos líquidos, justamente para não ter nenhum problema.

Mudou o cenário, você limpa e vai pensar. Além da liquidez, também gostamos da simplicidade. Apostamos em poucas coisas, com bastante confiança, e vai nortear o nosso cenário.

-E desde então, qual tem sido a estratégia?
Guilherme Foureaux: optamos por zerar para discutir mais e, desde aquele momento, a gente tem feito um curto prazo super bem sucedido. Voltamos a operar a parte de renda fixa, pré-fixado, no miolo da curva, e o grande motivo para isso é que hoje temos muito mais dúvida do que certeza em relação ao coronavírus.

Não sabemos quanto tempo vai durar, quais setores vão sofrer mais, então são coisas que os economistas não conseguem lidar e, por isso, fica mais difícil de entender qual ativo está em um bom preço.

-Mas há algum preço atrativo?
Quando você olha a Bolsa, ela está com preço atrativo, mas talvez o upside da Bolsa não seja tão alto mesmo que ela esteja em um preço barato. Mudou o cenário da incerteza, sem saber onde estamos navegando, e além disso, há alguns acontecimentos políticos, no ano que vem as eleições voltam a ser comentadas, e isso pode atrapalhar o Brasil no médio e longo prazo.

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Em contrapartida, esse excesso de liquidez que foi jogada, uma inflação muito baixa, com um PIB que pode ser negativo, em torno de -3,5%, você olha a taxa de juros de médio prazo, que trabalha de 6% a 8%, é uma projeção atrativa, vencendo em 2023, 2022, antes das eleições.

Estamos concentrando as operações em renda fixa, pela incerteza, queda na atividade e, principalmente, com o juro indo para negativo, o juro do Brasil ainda é um dos mais altos do mundo.

-Então vocês estão indo à renda fixa?
Estamos fazendo posição. Então estamos voltando à renda fixa.

No ano passado, foi o segundo maior ano de saída da renda fixa e entrada de renda variável. Os multimercados saíram da renda fixa e compraram bolsa. Há aí um cenário totalmente novo. Pode ser que a renda fixa, pagando 6% a 8%, parecia pouco, de repente agora já não é mais tão pouco assim.

-Vocês acham que o investidor acabou abraçando mais risco do que deveria?
David Cohen: acho que sim. Mais do que poderia é difícil dizer, pois faz parte do aprendizado que os agentes tinham que tomar. Quando os juros caíram, as pessoas se viram sem alternativa, com a necessidade de buscar mais renda variável. Só que, realmente, foi um contrapé enorme.

O ano passado foi muito grande em alocação em bolsa. Esse ano, em janeiro, com bolsa lá em cima, foi o maior mês de alocação de fundos de ação a um preço que não vai recuperar o capital dele nos próximos dois anos talvez, me arrisco a dizer.

Acho que agora é um grande teste para ver como as pessoas vão se comportar. Se as pessoas achavam que 5% era baixo, a Selic agora está 3,75% e é capaz de estar mais baixo ainda nos próximos meses.

-Já há alguma previsão de até onde vai essa crise?
O crescimento ainda não sabe quanto tempo vai ficar em quarentena, não sabemos como será a volta. Existe o risco de uma segunda onda e não sabemos como será.

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Aí falamos do que a gente sabe: os governos estão agindo muito proativamente em termos de injeção de liquidez, isenção fiscal, créditos às empresas. O que estão fazendo em termos de ajuda, é triplicar três vezes o que foi feito em 2008.

Não vai ter aquela onda gigante de quebradeira descontrolada. Mas não sei quais empresas vão viver, quais empresas vão prosseguir. O que aconteceu nessa crise, é que a Selic projetada chegaram a trabalhar acima de 10%.

Os juros não sei se vão cair muito mais com a Selic a 3,75%. É uma possibilidade, não tenho certeza, mas acho muito difícil que os prêmios de 8%,9%, 10%.

Entrevista com Paineiras Investimentos

Vinicius Pereira

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