Ouro de volta às alturas: ainda é um ativo refúgio?

Uma das maiores surpresas dos investidores do mundo inteiro durante a crise econômica provocada pela pandemia de coronavírus (covid-19) foi o ouro. Ao contrário do que se esperava, a cotação do metal precioso chegou a cair 12% no mercado à vista de Londres no começo da emergência. Uma tendência na contramão da tradicional procura do mineral em épocas de turbulências dos mercados.

Entretanto, também em 2008 quando começou a crise do subprime, o ouro conheceu uma fase inicial de altas e baixas com quedas de 15% até 20%, antes de iniciar uma fase ascendente prolongada.

A causa dessas tendências anômalas são os “sell-off” dos traders: as vendas forçadas de muitos operadores que, diante dos pedidos de chamadas de margens de garantia nos mercados de derivativos ou, mais simplesmente, para reduzir sua exposição, venderam suas posições, iniciando pelas mais líquidas. Entre elas, os contratos futuros de ouro.

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Desde o dia 19 de março, após o esgotamento dessa forte pressão de venda, o preço do ouro começou a recuperar seus valores pré-crise. No dia 14 de abril, na tarde de Londres, alcançou US$ 1.741,90 (cerca de R$ 8 mil) por onça, a maior alta dos últimos oito anos.

A crise do coronavírus acrescentou outra complicação. O fechamento das atividades comerciais e de produção também afetou a atividade de extração. Por isso, as minas de ouro pararam de operar em todo o mundo, da África do Sul ao Peru até a Rússia. Assim como foram paralisadas as plantas de refino do mineral.

Por algumas semanas, três centros de refino do sul da Suíça, no cantão de Ticino, foram fechados. Somente esses três fornecem um terço de todo o ouro refinado do mundo. A menor quantidade de ouro físico disponível para entrega no mercado futuro determinou, em alguns pregões, uma diferença entre o preço futuro e o preço à vista e uma anomalia na estrutura de preços.

Os contratos com vencimento mais próximo apresentaram preços mais altos do que aqueles com vencimentos mais distantes. Um fenômeno chamado “backwardation“, incomum para uma matéria-prima como o ouro, mas que na verdade já havia sido observado no passado.

Qual será a tendência do ouro no futuro?

Agora a grande pergunta dos operadores é: qual será a tendência do preço do ouro, uma vez superados esses obstáculos técnicos? Os dois principais componentes da demanda global são representados pelo setor de joias e compras de ouro para investimentos: moedas e lingotes e ETFs que investem em ouro físico.

O ouro é, portanto, ao mesmo tempo um “símbolo de status”, especialmente em países como China, Índia e Turquia, e uma “reserva de valor”, uma maneira de proteger o poder de compra e evitar as turbulências dos mercados de capitais, mas também ganhar de inflação ou de uma desvalorização.

Uma economia que cresce aumenta a demanda por jóias, uma recessão a deprime. Por outro lado, uma crise nos mercados financeiros, ou mesmo a expectativa de uma crise, aumenta a demanda por ouro como hedge. Mas tudo isso não torna o ouro imune a quedas: entre 2011 e 2015 sua perda acumulada máxima, registrada no mercado à vista em Londres, foi superior a 44%.

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Em 2019, a queda na demanda pelo setor de joias, determinada pelos altos preços alcançados, principalmente quando expressos em outras moedas diferentes do dólar, foi parcialmente compensada pelo aumento nas compras por ETFs. Dessa forma, o preço à vista aumentou mais de 18%.

Agora, a previsão dos analistas é de um declínio prolongado nos mercados de capitais, com baixos rendimentos reais e inflação mais alta, deveria elevar os preços do mineral nos próximos anos.

Todavia, existe a possibilidade que a demanda por ouro em joias entre em colapso devido à diminuição da riqueza da população a longo prazo. Mas o aumento na demanda por ouro para investimentos provavelmente compensará essa queda.

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Dessa forma, a demanda “monetária” de ouro tornou-se um fator mais importante para a formação de seu preço, como evidenciado pelos maiores volumes de compras e vendas em relação ao passado e pelo aumento das cotações, apesar das menores compras para o segmento de joias. Dessa forma, é provável que os bancos centrais , como ocorreu em 2008, aumentarão a compra de ouro para proteger os balanços e diversificar os ativos com retornos negativos.

Carlo Cauti

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