“Milagre econômico da China já passou”, diz sócio da Reach Capital

Não há trégua para a China. O país que viu o início, pico e volta das contaminações por Covid-19 lidou com a crise no setor imobiliário pelo calote da gigante Evergrande e agora enfrenta ondas de calor há mais de 60 dias. Apesar de tudo, ainda é a segunda maior economia do mundo e o principal comprador do Brasil. Em entrevista ao Suno Notícias, o economista e sócio-diretor da Reach Capital, Igor Barenboim, vê a nação asiática em uma nova fase: “Com a Covid-19, tudo mudou”.

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Para Barenboim, os próximos passos na economia não serão mais exclusivamente ditados pelos Estados Unidos, como o mundo costumava entender. “Pensando no futuro, a China é o país que dita o que vai acontecer por aqui”, diz. Há cerca de 40 anos o mundo começou a prestar mais atenção no país oriental, com seu desenvolvimento industrial e a manufatura de baixo custo.

“A China foi virando a indústria do mundo até provocar uma onda de globalização enorme, barateando os preços dos produtos. Todos os países centrais se beneficiaram disso. O Brasil, que tinha muita manufatura, foi quem mais perdeu. Todo mundo direcionou o olhar para o Oriente”, explica.

Em 2001, a China entrou para a Organização Mundial do Comércio, apoiada principalmente pelos Estados Unidos – hoje seu grande rival. Na época, o argumento era de que a liberdade econômica poderia levar também à abertura política. Com o processo de globalização e demanda grande, mais o avanço de sua industrialização, o preço viria anos depois. Barreiras alfandegárias e tarifas aos produtos chineses foram impostas, como reação, além de um entendimento norte-americano de que seus dados não podiam ir para a Ásia.

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“Não daria mais para os eletrônicos continuarem sendo produzidos por um país que possivelmente teria outro interesse diferente dos EUA. Com isso, um novo mapa de uma Guerra Fria foi criado”, analisa o economista.

China contemporânea: país de renda média com seus desafios

Com a chegada da Covid-19, tudo mudou para a China. A pandemia abalou fortemente o país, que não tinha um sistema de saúde para abarcar o tamanho do impacto que a doença causou. “Houve muito medo de pessoas morrerem e o governo perder a legitimidade. Um lockdown mais rígido foi imposto por isso. Os norte-americanos entenderam que não daria mais para confiar só na China para terem seus produtos; isso quebraria toda a cadeia de produção”, explica Igor Barenboim.

Os países centrais pararam de apoiar a atividade econômica do país, com autoridades dos EUA, sobretudo militares, se preocupando com quem tinha acesso aos seus dados. “Tudo isso parou a China. Nesse ambiente, com uma cópia do capitalismo dos EUA, o país estava gerando muitos bilionários, como Jack Ma do Alibaba (BABA34). Isso prejudicou a visão chinesa do ideal do país, e a disparidade social começou a ficar cada vez mais evidente. O ideal de prosperidade lá não é para apenas uma pessoa, mas para todos.”

A China, então, começou a impedir a listagem de diversas empresas para interromper a captação de dinheiro em mercados centrais. O próprio Alibaba, listado atualmente na Bolsa de Valores de Nova York (NYSE), foi uma das 270 empresas adicionadas a uma lista da Comissão de Valores Mobiliários dos Estados Unidos (SEC) de chinesas que podem deixar o mercado norte-americano se não atenderem aos requisitos de auditoria.

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Há, além de tudo, uma questão imobiliária predominantemente preocupante na China. Barenboim explica que, pelo salário médio de Xangai, uma pessoa precisa trabalhar 40 anos para conseguir comprar um apartamento. Em Nova York, que é conhecida por seu custo de vida caro, esse tempo é de 20 anos. “O imóvel é o principal instrumento de poupança chinês, de reserva de valor. Isso gera uma tensão social, com cada vez mais pessoas morando fora da cidade”, avalia.

Daqui para frente, o caminho não deverá ser o mesmo para o gigante asiático. “Não sou otimista em relação ao crescimento da China. Houve o milagre econômico de 40 anos, com um desempenho inacreditável nos últimos 20, mas agora é um país de renda média, que tem seus desafios. A China chegou ao momento de parar de crescer. Tem muita gente saindo de lá. Mesmo a Apple (AAPL34) começou a aumentar sua produção no Vietnã”, expõe.

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Beatriz Boyadjian

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