Mercados menores faturam mais com gasolina cara; entenda

A mudança de hábito de consumo do brasileiro provocada pela disparada da inflação (que já ultrapassa os 11%, medidos pelo IPCA) vai mais além do que simplesmente comprar menos. Com preços em escalada em todos os setores, os mercados menores, ‘de bairro’ ou mercearias, faturam mais.

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Isso ocorre porque o consumir muda escolha de quando e onde comprar, especialmente no caso dos mercados  – já que andar alguns quilômetros e gastar gasolina pode fazer a compra do mês sair mais cara.

Uma Pesquisa Sindicato do Comércio Varejista de Gêneros Alimentícios do Estado de São Paulo (Sincovaga) mostra, por exemplo, que 67% dos consumidores estão indo às compras com menos frequência e quase a metade (46%) admite que o aumento do preço do combustível influi na escolha da loja onde faz a despesa.

A preferência passou a ser pelo mercado de vizinhança, onde se pode ir a pé. Esse é o local escolhido por 46,3% dos entrevistados, superando os supermercados (29,6%), os hipermercados (22,2%) e até o comércio online (20,4%).

Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) do IBGE
Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) do IBGE

Por causa do movimento menor que há nesses estabelecimentos e o giro mais lento das mercadorias, Álvaro Furtado, presidente do Sincovaga, explica que a loja de vizinhança demora mais tempo para atualizar os preços. Também por esse motivo, a loja de vizinhança ganha a preferência do consumidor num ambiente de inflação alta, argumenta.

Pesquisar preços (75,3%), dar prioridade às promoções (61%) e experimentar marcas mais acessíveis (59,7%) têm sido as estratégias usadas para fazer a compra se encaixar no orçamento.

Troca de rótulos no mercado

Um resultado da pesquisa que chama muito atenção é que em dois anos, desde o início da pandemia, 67% dos entrevistados já trocaram de marca de produto duas vezes para economizar.

“Isso é o retrato da pobreza”, diz Furtado. A troca de marca mostra que quem precisa colocar comida na mesa compra o que o dinheiro permite, afirma.

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“O duplo downgrade (rebaixamento) de marca aponta a gravidade da situação econômica e social que a gente vive”, diz o consultor de varejo Eugênio Foganholo, sócio da Mixxer Desenvolvimento Empresarial.

Além do repique dos preços de vários itens, influenciados pela guerra recente entre Ucrânia e Rússia, o pano de fundo dessas mudanças no consumo, segundo Furtado e Foganholo, é o estrago que a inflação tem provocado na renda, reduzindo a capacidade de compra dos cidadãos.

No trimestre encerrado em fevereiro, o último dado disponível, a renda média real do trabalhador, que inclui também a informalidade, foi de R$ 2.511, um resultado 8,8% menor em relação ao mesmo período de 2021, de acordo com a Pesquisa Nacional por Amostras de Domicílios Contínua (Pnad) do IBGE.

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Esse quadro se repete para os trabalhadores formais de empresas privadas. Nos últimos 12 meses até fevereiro, 55,7% dos reajustes perderam para a inflação, 15,1% conseguiram repor só as perdas e apenas 29,2% superaram a inflação, aponta o “Salariômetro” da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe), que acompanha os resultados das negociações reunidos pelo Ministério da Economia.

Para Furtado, o momento atual é pior em relação a outros períodos de inflação elevada no passado. Isso porque, embora, defasados, no passado os salários eram corrigidos, o que resgatava o poder de compra do consumidor. “Hoje, no entanto, esse gap (diferença) é grande”, avalia.

Já na opinião de Foganholo, ambos os momentos – da hiperinflação antes do Plano Real e o choque inflacionário atual – são péssimos. No entanto, ele pondera que nos anos 1990 os brasileiros estavam mais preparados para viver num ambiente inflacionário.

“Passados mais de 25 anos com inflação domada, infelizmente esse processo voltou e o grande choque é a mudança repentina na qual se percebe que aquela condição que havia para consumir não existe mais”, afirma, citando o impacto no mercado de consumo.

Com Estadão Conteúdo

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Eduardo Vargas

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