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IPOs 2021: Com piora de cenário, operações podem não sair do papel

HP vai demitir até 6 mil funcionários, após queda nas vendas de PCs

HP vai demitir até 6 mil funcionários, após queda nas vendas de PCs. Foto: Pixabay

Nas últimas semanas, a lista de pedidos de ofertas públicas iniciais de ações (IPOs) na B3 cresceu rapidamente. Até a manhã desta quarta-feira (10), a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) contabilizava 43 ofertas em análise, com prospectos preliminares já publicados. Não foram poucos os dias no início deste ano em que era protocolado mais de um pedido por dia.

No entanto, a intensificação da crise econômica — e política — no Brasil também foi acirrada no período. Em meio a interferências do governo em estatais, dúvidas sobre a pandemia e dólar nas alturas, o pregão da última segunda-feira marcou o nervosismo dos investidores quanto à retomada dos direitos políticos do ex-presidente Lula, habilitando-o a disputar as eleições presidenciais no ano que vem.

Com todas estas incertezas em torno do mercado e um risco político cada vez maior, começam a surgir dúvidas sobre o volume de aberturas de capital que estão prestes a acontecer. Segundo especialistas ouvidos pelo SUNO Notícias, o mercado pode se tornar cético em relação às novas ofertas, embora a visão não seja consensual.

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Preferência pode ser por tradicionais a IPOs

Com a forte volatilidade dos últimos dias, o ambiente ficou pouco propício para a chegada de novas empresas à Bolsa, uma vez que as companhias já listadas – com histórico comprovado – passaram a representar oportunidades de investimento.

“Se o cenário interno não melhorar, suponho que a minoria das empresas desta lista da CVM de fato fará IPO”, afirma João Arthur Almeida, sócio da Slice Investimentos e gestor do Jaú, clube de investimentos. Para ele, não haverá demanda no mercado para absorver todas as ofertas, sobretudo quando a “torneira” dos Bancos Centrais for fechada e a liquidez mundial diminuir.

“O excesso de liquidez é um aspecto importante que devemos manter sob o radar, pois amplia o apetite ao risco dos investidores. No entanto, caso os investidores passem a ficar com a liquidez mais curta, ou receosos com a recessão global, inflação e até com o cenário político, a concretização dos IPOs será dificultada.”

Em relatório divulgado na última terça-feira, a XP Investimentos afirmou que o risco político brasileiro deve pressionar as cotações de empresas de boa qualidade, abrindo oportunidades à frente.

“Empresas de qualidade tendem a sofrer nessas correções, que pouco tem a ver com o fundamento das companhias. Isso abre oportunidades de investimento a preços mais atrativos”, afirmaram os analistas. A previsão da corretora reforça a tese de que os IPOs terão que competir com bons papéis a preços baixos.

Para Paulo Ghedini, analista de ações e co-gestor da Perfin Asset Management, contudo, é difícil que o cenário lá fora com o encurtamento da liquidez possa interromper esse processo do crescimento do mercado de capitais no País. No entanto, ainda coloca o risco Brasil na conta. “Dependemos muito mais do governo atual, e do próximo, em fazer a lição de casa na política fiscal, para que continuemos em estabilidade.”

Estreantes precisarão convencer receosos

De acordo com os especialistas, os investidores tendem a ser mais criteriosos na hora de entrar em IPOs no cenário atual. Segundo uma análise prévia realizada pelo sócio da Slice sobre quatro IPOs de tecnologia — Unicoba, Privalia, Getninjas e LG Informática — chama atenção o fato de que todas (com exceção à última) operam em um mercado consumidor em crescimento e têm modelos de negócios interessantes, mas ainda não são lucrativas.

“E-commerce, saúde e serviços em geral são setores que devem se destacar nas listagens na B3. O que é positivo para os investidores, pois ainda temos uma Bolsa muito pautada em bancos e commodities, temas que já ficaram para trás nas economias desenvolvidas”, diz Almeida.

Entretanto, para Miguel Vieira, Associate Manager da Peers Consulting, toda e qualquer empresa que venha ao mercado deve entender as demandas dos investidores, e não apenas apresentar um bom plano para o futuro.

“Os investidores esperam por sinais de consistência e continuidade do negócio, para que possam diminuir a chance de risco. As companhias precisam saber que passará a existir a cultura de dono após os IPOs.”

Saúde e tecnologia se destacam na fila de IPOs

Na fila de empresas preparando IPO, destacam-se dois: saúde e tecnologia. Confira a lista completa de empresas se preparando para abrir capital, com atualização até esta quarta-feira:

Empresa Data do pedido
ALPHAVILLE 14/08/2020
CFL INC PAR 24/08/2020
W2W E-COMMERCE DE VINHOS 03/09/2020
GRUPO BIG BRASIL 19/10/2020
GRUPO FARTURA DE HORTIFRUT 20/10/2020
UNI.CO 21/10/2020
OLEOPLAN ÓLEOS VEGETAIS PLANALTO 21/10/2020
BOA SAFRA SEMENTES 22/10/2020
CTC – CENTRO DE TECNOLOGIA CANAVIEIRA 22/10/2020
MÉTODO ENGENHARIA 23/10/2020
VITTIA FERTILIZANTES E BIOLOGICOS 17/11/2020
CORTEL HOLDING 23/11/2020
KALUNGA 04/12/2020
IGUA SANEAMENTO 07/12/2020
GUARARAPES PAINÉIS 16/12/2020
AGROGALAXY PARTICIPAÇÕES 31/12/2020
CASA & VÍDEO BRASIL 22/01/2021
CM HOSPITALAR 03/02/2021
NADIR FIGUEIREDO 05/02/2021
BLAU FARMACÊUTICA 05/02/2021
LG INFORMÁTICA 08/02/2021
NOVA HARMONIA 10/02/2021
PRIVALIA BRASIL 17/02/2021
HOSPITAL MATER DEI 12/02/2021
ENTALPIA PARTICIPAÇÕES 18/02/2021
HOSPITAL CARE CALEDONIA 18/02/2021
LABORATÓRIO TEUTO BRASILEIRO 19/02/2021
TRÊS TENTOS AGROINDUSTRIAL 19/02/2021
DOTZ 22/02/2021
GPS PARTICIPAÇÕES E EMPREENDIMENTOS 22/02/2021
LIVETECH DA BAHIA INDÚSTRIA E COMÉRCIO 22/02/2021
SÃO SALVADOR ALIMENTOS PARTICIPAÇÕES 23/02/2021
KORA SAÚDE PARTICIPAÇÕES 25/02/2021
TEGRA INCORPORADORA 26/02/2021
LIBRELATO S.A. IMPELMENTOS RODOVIÁRIOS 25/02/2021
RIO BRANCO ALIMENTOS 26/02/2021
GETNINJAS 26/02/2021
PETRORECÔNCAVO 26/02/2021
BIONEXO 01/03/2021
GRUPO AVENIDA 01/03/2021
INFRACOMMERCE CXAAS 01/03/2021
RIO ALTO ENERGIAS RENOVÁVEIS 01/03/2021
RIO ENERGY PARTICIPAÇÕES 03/03/2021

“O que aconteceu com o Brasil nos últimos anos foi a alta dependência das commodities, gerando uma cultura de investimentos mais ligadas ao setor. Agora, o que estamos observando é um processo natural de melhor representação da economia real“, afirma Vieira.

“Saúde e tecnologia, que têm chegado com um certo atrasado em relação ao resto do mundo, são reflexo disso”, diz. O setor de saúde, sobretudo, tem se destacado no Brasil nos últimos anos e, principalmente, últimos meses.

Com o IPO da Rede D’Or (RDOR3), os concorrentes da empresa procuraram colocar os negócios em dia. Hapvida (HAPV3) e Intermédica (GNDI3) fecharam uma fusão de criará um gigante do setor, com aspecto verticalizado e eficiente operacionalmente. A Hospital Care, por sua vez, é uma das que está na fila para a abertura de capital.

“Esse setor possui um fator adicional: a precariedade do sistema público de saúde. Essa situação acaba dando espaço para que o setor privado tenha um protagonismo maior e que consiga ajudar a população com suas demandas”, afirma Ghedini.

“Em situações em que o Estado não consegue suprir as necessidades públicas de forma assertiva, como no Brasil e outros vários países, o setor privado passa a oferecer alternativas”, diz o gestor. “Se olharmos para os próximos 10 anos, ainda há muito o que ser feito no setor de saúde, em diferentes partes da cadeia produtiva no segmento.”

Daqui para frente, resta saber como o mercado vai se comportar diante das ofertas — e se haverá ou não espaço para tantos IPOs em 2021.

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