IPCA: bancos pioram expectativas para a inflação em 2022

No Boletim Focus divulgado no início desta semana, a mediana apurada do Índice Preços ao Consumidor Amplo, o IPCA, se manteve acima do teto da meta, em 5%. Ao que parece, 2022 será o segundo ano seguido com ruptura do objetivo do Banco Central (BC).

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A projeção ficou em 5,03%, contra 5,00% do teto da meta deste ano. Há um mês, a previsão era de 5,02%.

Os números do IPCA para 2021 aumentaram drasticamente ao longo do ano, superando os dois dígitos. A inflação forçou a autoridade monetária a anunciar ajustes agressivos. Os setores de energia e combustível foram os principais vetores da alta expressiva. O índice que sai nesta terça (11) deve confirmar isso. A escalada da inflação foi intensa em 2021, acelerando principalmente no segundo semestre.

Para entender ao cenário de 2022, é preciso relembrar outros detalhes sobre 2021. Os principais motivos que explicam a alta no ano passado são a deterioração recente do cenário fiscal – que ocasiona alta do dólar –. a injeção de capital e a crise na cadeia de suprimentos, ou supply chain.

A alta do petróleo, do minério e das demais commodities ao longo do ano foi um dos motivos de pressão nos custos de produção.

No caso do minério, a cotação chegou ao patamar de US$ 200 entre maio e agosto, maior preço da última meia década. Mas, segundo a autoridade monetária, a principal pressão vem dos barris.

“Em comparação com a estimativa do modelo apresentada nos Relatórios de Inflação de setembro e dezembro de 2020, observa-se uma elevação do repasse cambial, explicado em boa medida pelo aumento do peso dos derivados de petróleo no IPCA, sobretudo da gasolina”, diz o Banco Central em box do Relatório de Inflação (RI) do mês de dezembro.

O vem puxando o IPCA

Nos últimos meses, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, o IBGE, o grande vilão do índice tem sido a gasolina, que encareceu o segmento de ‘transportes’ na mensuração dos preços.

No mês de novembro, por exemplo, a alta foi puxada pelos transportes (3,35%), influenciados pelos preços dos combustíveis, principalmente, da gasolina (7,38%), que teve, mais uma vez, o maior impacto individual no índice do mês.

Houve disparadas também nos preços do etanol (10,53%), do óleo diesel (7,48%) e do gás veicular (4,30%). Com o resultado de novembro, a gasolina acumula, em 12 meses, alta de 50,78%, o etanol de 69,40% e o diesel, 49,56%.

A tendência, contudo, é de que o combustível fique mais baixo no varejo.

“O potencial baixista é fruto da queda no preço do barril de petróleo internacional, sendo negociado próximo aos US$70 dólares nesta quinta. Em geral, o mercado e diversas commodities reagiram à incerteza trazida pela nova variante Ômicron com o temor de possíveis novas restrições de mobilidade e queda de demanda”, explica Guilherme Sousa, economista da Ativa Investimentos.

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A política fiscal do país também deve piorar o cenário em 2022, conforme disseram os analistas do Bank of America (BofA). Em relatório, o analista David Beker afirmou que a política atual focada no pagamento de auxílio à população, durante a pandemia, pode pressionar a demanda agregada e causar uma deterioração ainda maior das contas públicas. “Os questionamentos sobre a questão fiscal aumentam riscos de desancoragem da inflação”, afirma.

IPCA teve uma alta de 0,95% no mês de novembro. Os analistas projetavam um ambiente com preços levemente mais elevados, com o índice em 1,08%.

Para dezembro, o consenso entre os analistas do mercado é para um IPCA em torno de 0,65%, o que indica um desaceleração. “É bem capaz de fechar o ano um pouco abaixo de 10%. Mas se vai fechar a 9,99% ou a 10,01% ou 10,02% não é o grande foco do mercado agora, já voltado para as expectativas para 2022, que estão bem no topo da meta”, diz Daniel Miraglia, economista-chefe da Integral Group, da Integral Group.

“O IPCA de dezembro deve desacelerar para 0,65% no mês, encerrando o ano abaixo de 10,0%”, faz coro o BTG Pactual (BPAC11).

Para 2022 o clima não tão favorável continua mesmo nas estimativas dos especialistas.

Expectativas e revisões do IPCA para 2022

Para 2022, o cenário conta com projeções ainda menos otimistas. Recentemente, alguns bancos alteraram as expectativas, como o próprio BTG, que subiu a projeção de 4,6% para 5,0% a.a..

“O ambiente econômico e político do Brasil realmente piorou nos últimos meses, fazendo com que as principais variáveis macroeconômicas se deteriorassem maciçamente. De acordo com a pesquisa Focus do Banco Central, a inflação agora deve terminar 2021 em 10,0% e, talvez mais preocupante, as expectativas para 2022 subiram para 5,0%, cada vez mais longe do centro do intervalo da meta”, dizem os analistas do banco, em relatório.

O Banco Original revisou para cima a projeção de 5,0% para 5,2%. De acordo com o economista-chefe do banco, Marco Caruso, os setores relacionados ao consumo das famílias, como varejo e serviços, devem ser os responsáveis pelas maiores altas de preços. “Supermercados podem usufruir de um alívio esperado nos preços dos alimentos ao longo do ano”, afirmou.

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Os números são mais altos. Por outro lado, a expectativa é de que 2022 não será um ano tão impactante quanto 2021 a respeito da inflação. É esperada uma desaceleração significativa, com bancos centrais aumentando as taxas de juros, além da normalização das cadeias produtivas após o maior pico da pandemia.

Um dos maiores drivers para o aumento da inflação para 2021 foi o setor de energia. O povo brasileiro viu altas sucessivas na conta de luz por conta da crise hídrica, com aumento nos valores das bandeiras e sem previsão de normalização. “Energia elétrica poderia experimentar uma redução de seu preço no começo do ano com a melhora nos reservatórios, enquanto gasolina e etanol ainda não têm perspectiva de alívios consistentes”, disse Caruso.

A última revisão do cenário macroeconômico do Itaú, feita pelo economista-chefe do banco, Mário Mesquita, aponta para 5% ao ano. O destaque para o banco, porém, são os custos de produção e nos problemas na cadeia de suprimentos.

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“Projetamos IPCA de 5,0% em 2022, após alta próxima a 10,0% neste ano. O choque de bens industriais ligado a gargalos de produção segue mostrando maior persistência, com efeitos secundários sobre demais preços na economia, principalmente em serviços. Com efeito defasado da alta de juros e hiato ainda aberto, esperamos alta de 3,3% no IPCA em 2023”, diz o relatório.

Já a Órama Investimentos espera um cenário mais otimista. A expectativa do IPCA é de 4,7%. “Acreditamos que os choques de preços que nortearam 2021 irão gradativamente se dissipar, como combustíveis e energia. Assim sendo, como esperamos uma boa safra, que ajude a controlar os preços dos alimentos, acreditamos que o BC levar o juro Selic a 11,5% possa colocar o IPCA de 2021 dentro da meta e de 2023 próximo do centro”, disse Alexandre Espírito Santo, economista-chefe da Órama.

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Victória Anhesini

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