IPCA estoura meta, mas há sinais de desaceleração, veja opinião de especialistas
O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) registrou uma alta de 0,24% em junho, de acordo com os dados divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O resultado superou as expectativas do mercado, que previa uma variação de 0,20% da inflação. Esta é a primeira vez que o IPCA descumpre a meta contínua, já que o modelo entrou em vigor em janeiro deste ano. O resultado de junho marca o sexto mês consecutivo fora do limite do teto da meta do Banco Central.

O mercado teve respostas variadas ao anuncio do IPCA, considerado misto e pior do que o esperado por parte dos especialistas. Na visão de Igor Cadilhac, economista do PicPay, a inflação acima da meta reforça a necessidade de uma política monetária restritiva, sugerindo que a Selic deve ser mantida em 15% até o final do ano.
O especialista revisou a projeção de inflação para 2025 de 5,3% para 5,1%, citando a persistência dos efeitos deflacionários da guerra tarifária e a elevação na Selic como fatores influentes. No entanto, ele alerta sobre as pressões altistas que ainda permanecem, ligadas a desancoragens de expectativas e a um cenário fiscal e geopolítico incerto.
Por outro lado, Lucas Barbosa, economista da AZ Quest, analisa que, embora haja “estouro da meta de inflação, “a desaceleração é uma tendência em curso. “Ao olharmos para as medidas subjacentes da inflação, notamos uma desaceleração, o que é um sinal positivo”, afirmou Barbosa, destacando que o índice de preços industriais subjacentes caiu de 3,57% para 3,47% em uma análise acumulada de 12 meses.
Além disso, Barbosa ressaltou que a inflação anualizada, ajustada sazonalmente, arrefeceu de 4,06% para 2,74%. “Isso indica uma contínua desaceleração na inflação subjacente, tanto nos preços industriais quanto nos serviços, que também desaceleraram de 7,01% para 6,03% na média móvel de três meses”, acrescentou.
As surpresas no IPCA de junho foram impactadas por itens específicos. A maior delas veio dos transportes por aplicativo, que apresentaram uma variação de dois dígitos, contrariando as expectativas de estabilidade e contribuindo significativamente para o resultado geral.
A alta nos preços de alimentos in natura, especialmente hortifruti como tomates, batatas e mamões, também surpreendeu, contribuindo com 2,6 pontos base da variação.
A alta da inflação não deve prejudicar a desaceleração que está em andamento
Contudo, Barbosa acredita que essas altas são pontuais e não devem modificar a perspectiva de desinflação em curso. A AZ Quest mantém sua projeção de inflação para o final de 2025 em 5% e para o próximo ano em 4%.
“O cenário permanece consistente com uma desaceleração da atividade econômica, que já era esperada antes das tarifas e deve ganhar força, aumentando a probabilidade de desaceleração econômica”, concluiu o economista.
Esse desempenho da inflação, embora preocupante em relação à meta estabelecida, sinaliza um ambiente em transformação, que pode gerar novas dinâmicas no planejamento econômico brasileiro.
A inflação acumulada em 12 meses superou a meta de 4,5%, atingindo 5,35%. O Conselho Monetário Nacional (CMN) estabelece uma meta central para a inflação de 3%, com uma banda de tolerância que permite variações de até 1,5 ponto percentual.
Suno mantém projeção para IPCA
Segundo Gustavo Sung, economista-chefe da Suno Research, o IPCA de junho veio levemente abaixo do esperado, mas ainda acumula alta de 5,35% em 12 meses — acima do teto da meta. Com isso, o presidente do Banco Central terá que enviar nova carta justificando o descumprimento do objetivo de inflação.
Sung destaca três pressões principais sobre os preços: alta dos alimentos, aquecimento da economia e os efeitos defasados da desvalorização cambial no início do ano. Embora o mês tenha trazido sinais de alívio, com desaceleração nos núcleos e recuo no índice de difusão, a inflação qualitativa segue elevada, o que justifica a manutenção da Selic em 15% na próxima reunião do Copom.
O economista também chama atenção para o impacto potencial das tarifas de 50% impostas por Donald Trump sobre produtos brasileiros. Segundo ele, o episódio adiciona incerteza ao cenário inflacionário, especialmente se houver retaliação do governo brasileiro e uma escalada nas tarifas. Isso poderia pressionar o câmbio e elevar os custos de produção, principalmente em setores que dependem de insumos importados, como máquinas e equipamentos.
Mesmo com a janela de negociação aberta até agosto, o tom político adotado pelos EUA pode dificultar a resolução da disputa. Ainda assim, a Suno mantém projeção de IPCA em 5,2% para 2025 e 4,5% para 2026.