Por que o Ibovespa não derreteu após o anúncio da tarifa do Trump?

Como já era esperado, o pregão desta quinta-feira (10) começou com o Ibovespa no vermelho: nos primeiros minutos da sessão, o principal índice acionário da bolsa brasileira derretia cerca de 1%. No entanto, ao longo do dia a variação negativa foi desacelerando e, por volta das 16h, o indicador operava em baixa de 0,41%, aos 136.923,92 pontos. 

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A queda do Ibovespa acontece em um dia marcado por tensões para o mercado brasileiro. O principal motivo é a tarifa de 50% sobre os produtos exportados do Brasil para os EUA, que foi anunciada pelo presidente norte-americano Donald Trump na última quarta-feira.  

A notícia impacta diretamente o mercado nacional, especialmente as companhias que possuem operações voltadas aos Estados Unidos, como é o caso da Embraer (EMBR3), cujo 60% do faturamento vem da América do Norte. Dessa forma, as expectativas eram de uma intensa derrocada da bolsa brasileira – o que não aconteceu.

Apesar da variação negativa do indicador, a queda não se distancia muito de outros momentos típicos de perdas do índice. Na segunda-feira (7), por exemplo, o índice Bovespa recuou 1,26%.

Por que o Ibovespa não está caindo tanto hoje?

Como em qualquer situação de renda variável, não é possível dizer exatamente quais são os motivos que estão fazendo com que a variação negativa do Ibov não seja tão intensa, apesar das preocupações do mercado. Por um lado, existe uma força positiva de ações que podem se beneficiar deste cenário, como as companhias que possuem receita em dólar, que é o caso da Vale (VALE3).

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Além disso, há ainda a possibilidade de que o presidente norte-americano volte atrás na decisão ou que ocorram negociações bem sucedidas com o governo brasileiro, embora esta segunda opção pareça menos plausível no momento. 

“É uma medida dura, mas com padrão conhecido. Trump costuma anunciar tarifas altas que, com o tempo, são renegociadas. Por isso, o impacto inicial no mercado tende a ser negativo, mas deve perder força […] O viés político da decisão também exige leitura cuidadosa. O Brasil precisa evitar retaliações precipitadas. Diplomacia é o melhor caminho”, comenta Volnei Eyng, CEO da gestora Multiplike. 

Em outras ocasiões, o mandatário estadunidense já voltou atrás em decisões comerciais, o que resultou na criação do termo TACO Trade, que em inglês significa Trump Always Chickens Out. Em português, a nomenclatura criada por Robert Armstrong, colunista do Financial Times, pode ser traduzida como “Trump sempre volta atrás”. 

Um dos primeiros exemplos do que passou a ser chamado de TACO Trade pôde ser visto no dia 9 de abril. Naquela data, o presidente dos Estados Unidos “pausou” os aumentos tarifários recíprocos que havia anunciado uma semana antes, após fortes reações do mercado.

Pouco tempo depois, Trump aumentou o clima de tensão com o presidente do Federal Reserve, Jerome Powell, insinuando que poderia demiti-lo caso continuasse com decisões de política monetária que eram contrárias ao planejado por ele. Novamente, a resposta do mercado foi caótica. E mais uma vez, o mandatário estadunidense voltou atrás, se distanciando rapidamente da ideia ao perceber os danos que poderia causar à confiança dos investidores.

Dessa forma, ainda é cedo para saber qual será o fim da trama tarifária entre Estados Unidos e Brasil. Neste momento, no entanto, a cautela continua sendo o fator mais importante tanto para os investidores do Ibovespa, quanto do ponto de vista diplomático.

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Giovanna Oliveira

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