Ibovespa cai aos 126 mil pontos, descolado de NY e com preocupação fiscal no radar; Itaú (ITUB4) e Vale (VALE3) recuam

O Ibovespa terminou a sessão desta segunda-feira (22) em baixa de 0,81%, aos 126.601,55 pontos. O índice de ações registrou a mínima diária de 125.875,65 pontos e a máxima de 127.842,59 pontos. Enquanto isso, o volume financeiro somou R$ 18,5 bilhões.

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Ainda descolado do sinal positivo em Nova York, e hoje conectado à retomada de incertezas sobre a trajetória fiscal doméstica – com o lançamento de “nova política industrial” do governo baseada no BNDES, o que reaviva lembrança de iniciativas do passado recente, o Ibovespa começou a semana de ré, ainda no menor nível de encerramento desde 12 de dezembro.

Nas últimas cinco sessões, o Ibovespa caiu em quatro e subiu apenas na da sexta-feira, 19. Assim, em janeiro, cede agora 5,65%.

A perda do Ibovespa na sessão não foi maior porque Petrobras conseguiu avançar 0,23% (PETR3) e 0,45% (PETR4), acompanhando ao longe o ganho em torno de 2% para o petróleo na sessão, que recolocou o Brent a US$ 80 por barril.

O Ibovespa hoje se descolou das Bolsas de Valores de Nova York, que fecharam o dia em alta:

  • Dow Jones: +0,36%, aos 38.001,94 pontos;
  • S&P500: +0,22%, aos 4.850,44 pontos;
  • Nasdaq: +0,32%, aos 15.360,29 pontos.

O que movimentou o Ibovespa hoje?

Segundo Lucas Almeida, especialista em mercado de capitais e sócio da AVG Capital, o Ibovespa operou com volume inferior à média e teve baixas relevantes e altas na negociação dos contratos futuros de DI, depois das falas do Ministro Mercadante durante um evento, e após algumas declarações de Lula.

“A preocupação fiscal e a política industrial bilionária anunciada são fatores que deixam o mercado inseguro e colaboram para a nossa bolsa caminhar na contramão do exterior. A nova política industrial, com foco em incentivos fiscais para setores específicos, gerou preocupações entre investidores”, afirma Almeida.

As ações de Magazine Luiza (MGLU3), Itaú (ITUB4) e Vale (VALE3) figuraram entre as quedas do Ibovespa hoje, liderando o volume negociado no dia. A Vale recuou em linha com a baixa do minério de ferro no exterior.

A maior alta do Ibovespa hoje ficou com a BRF (BRFS3), que avançou 4,92%. Já o principal destaque de baixa foi a Hapvida (HAPV3), com -5,72%.

E por que a BRF subiu na contramão do Ibovespa? O especialista explica que apesar de a empresa estar em um período positivo, com indicadores projetados apontando melhorias, algumas casas de análise como o BTG Pactual enfatizam um potencial yield de fluxo de caixa ao acionista relativamente baixo e sugere também baixo ‘“upside” nos patamares atuais de preço.

Além disso, Cielo (CIEL3) também se destacou positivamente depois que o Goldman Sachs manteve a recomendação como “neutra”, embora tenha elevado o preço-alvo das ações de R$ 3,80 para R$ 4,50 por ação.

“Parece que o mercado acredita na estabilidade do negócio da Cateno e a expectativa de crescimento em segmentos específicos sustentam a visão positiva na empresa”, diz Almeida.

Por outro lado, a queda de Lojas Renner (LREN3) reflete o rebaixamento de recomendação por parte do Citi para “neutra”. Outra que caiu foi a Assaí (ASAI3), seguindo o movimento de recuo das varejistas.

A maior alta do Ibovespa hoje ficou com a BRF (BRFS3), que avançou 4,92%. Já o principal destaque de baixa foi a Hapvida (HAPV3), com -5,72%.

Além de Renner e Assaí, outras ações do setor de varejo e consumo fecharam o dia em baixa, em reação ao ajuste na curva de juros futuros derivado da retomada de temores sobre a situação fiscal: o índice de consumo, exposto ao ciclo doméstico, cedeu hoje 1,60%, em variação bem superior à registrada no de materiais básicos (-0,84%), que reúne as ações de commodities, correlacionadas à demanda e preços externos.

“A nova política industrial, com foco em incentivos fiscais para setores específicos, gerou preocupações entre investidores: deixa o mercado inseguro e colabora para a Bolsa caminhar na contramão do exterior”, diz Lucas Almeida, sócio da AVG Capital, observando que as taxas de DI de longo prazo atingiram máximas da sessão após as preocupações com o fiscal terem se intensificado.

Piora na percepção fiscal e câmbio pressionado

“A Bolsa deu prosseguimento hoje à tendência de queda, trabalhando perto de uma região de suporte importante, a dos 125 mil pontos, sem até o momento perdê-la. A B3 tem se descolado do mercado americano neste começo de ano, no que até então vinha se mostrando uma correlação importante para o avanço da Bolsa brasileira no fim de 2023”, aponta Thiago Lourenço, operador de renda variável da Manchester Investimentos.

Ele chama atenção para a pressão observada no câmbio nesta sessão de abertura da semana, com o dólar em alta de mais de 1% frente ao real, convergindo para o “ímã de R$ 5 – no fechamento, a moeda americana mostrava avanço de 1,23%, a R$ 4,9873.

A piora na percepção fiscal também resultou em uma “acelerada” na curva de juros doméstica nesta segunda-feira. “A questão fiscal afeta no curto prazo, mas a dinâmica das commodities tende a exercer papel maior na precificação do Ibovespa – seja no sentido de recuperação ou de correção adicional do índice, por realinhamento de preços das matérias-primas”, diz o operador da Manchester.

No front fiscal, pela manhã, o governo anunciou que o BNDES vai mobilizar cerca de R$ 250 bilhões para projetos de “neoindustrialização” até 2026. Esses recursos integram o total de R$ 300 bilhões previsto para o plano Mais Produção, gerido pelo BNDES, pela Financiadora de Estudos e Projetos (Finep) e pela Empresa Brasileira de Pesquisa e Inovação Industrial (Embrapii).

O presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Aloizio Mercadante, afirmou hoje, durante o lançamento da iniciativa em Brasília, que não há como reerguer a indústria brasileira sem uma nova relação entre Estado e mercado. Mercadante defendeu ainda que o Brasil precisa de transição digital acelerada, e que a transição para a economia verde depende da participação do Estado, na medida em que é caro desenvolver novas tecnologias.

“Nós não temos como reerguer a indústria brasileira sem uma nova relação entre Estado e mercado. Não é substituir o mercado, não é não acreditar na importância do mercado, que é uma instituição indispensável ao desenvolvimento econômico. Mas o Brasil precisa disso diante dos desafios históricos, da transição digital acelerada e do imenso desafio que é essa crise ambiental”, disse Mercadante durante lançamento da nova política industrial, chamada “Nova Indústria Brasil”, no Palácio do Planalto.

Maiores altas do Ibovespa

  • BRF (BRFS3): +4,92%
  • Cielo (CIEL3): +3,13%
  • Embraer (EMBR3): +1,97%
  • Usiminas (USIM5): +1,18%
  • Azul (AZUL4): +1,07%

Maiores quedas do Ibovespa

  • Hapvida (HAPV3): -5,72%
  • Lojas Renner (LREN3): -5,44%
  • Assaí (ASAI3): -4,83%
  • Locaweb (LWSA3): -4,69%
  • Carrefour (CRFB3): -4,40%

Último fechamento do Ibovespa

O Ibovespa terminou a sessão de sexta-feira (19) em alta de 0,25%, aos 127.635,65 pontos.

Com Estadão Conteúdo

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João Vitor Jacintho

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