GTI aposta em empresas ligadas a commodities e dólar para fugir da crise

Com a chegada do coronavírus (covid-19) e sua influência na atividade econômica mundial, começou uma corrida entre agentes do mercado para compreender qual setor sairia antes da crise. Para a GTI, as empresas brasileiras ligadas a commodities e com exposição ao dólar devem liderar esse movimento.

De acordo com Rodrigo Glatt, sócio da GTI, a gestora aposta agora nessa característica e empresas como Vale e Suzano devem liderar essa corrida.

“Desde o ano passado a gente fez um movimento interessante para aumentar muito nossa exposição as commodities. Então, com esse nível de dólar, essas empresas terão resultados bem melhores daqui para frente. Aumentamos muito posição em Vale, Petrobras, Gerdau e Suzano”, disse Glatt.

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Além desse setor, a GTI também vê com bons olhos o setor de shoppings centers, apesar de os locais permanecerem semi-fechados na conjuntura atual.

“Aproveitamos para aumentar nossa posição em shopping, em BRmalls, e a CCP, uma empresa de ativos da Cyrela, que além de shopping, também tem imóveis comerciais”, afirmou Glatt.

Confira a entrevista do SUNO Notícias Rodrigo Glatt, sócio da GTI:

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-Me fale um pouco da história da GTI e da filosofia de investimentos de vocês..
A GTI é uma das casas mais longevas do mercado, focada apenas em renda variável, com mais de 13 anos de empresa. Nossa estratégia é de investimento em longo prazo em Bolsa, focado em valor. Temos um histórico interessante de rentabilidade nesse período.

Começamos, eu e André [Gordon, gestor], juntos no banco Bozzano e sempre tivemos investimentos em renda variável. Aí constituímos um clube de investimento das nossas carteiras e, depois, o clube foi incorporado pelo nosso principal fundo.

Hoje temos oito pessoas trabalhando, sendo quatro sócios, e uma estratégia sempre com uma carteira entre 15 a 20 papéis. Sempre tivemos uma parte em small caps, menos líquido, mas hoje estamos com uma estratégia líquida, concentrada em oportunidades em empresas grandes.

Desde a criação do clube de investimento, em 2003, nosso retorno médio anualizado é acima de 20%. Temos em torno de 400 milhões sob gestão.

-Como vocês analisam a crise atual?
Sempre tivemos o entendimento que a crise seria muito aguda, mas que, gradualmente, a gente teria uma recuperação. Essa crise tem um componente diferente, pois não houve nenhum choque estrutural, mas sim uma parada. Para voltar a ligar não é algo tão dramático desde que tenhamos condições para isso, como uma vacina, etc.

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Em algum momento, isso vai se normalizar e o mundo vai retomar seu crescimento econômico. Comparando com o que tínhamos antes da epidemia, como os esforços dos governos foram muito importantes, no Brasil e fora daqui. Ao mesmo tempo, com juros estruturais muito baixos, isso daí de fato vai aquecer a economia, mas também trazer investimentos para a Bolsa.

Temos visto nos últimos meses uma migração intensiva da renda fixa para ativos reais. Isso tem sustentado a alta da Bolsa desde março, apesar de termos tido um resgate grande de investidores internacionais. Então, o fluxo doméstico das pessoas físicas realmente está acentuado por conta desse juro mais baixo e, nos próximos dois, três anos deve se manter.

-Para vocês, a segunda onda vem?
Hoje, acho que a vacina faria diferença. Já sobre a segunda onda, vejo os países muito mais preparados, sabendo o que tem que fazer. Então, é óbvio que a elevação do número de caso assusta, mas acho que as medidas para combater isso já sabemos quais são.

Não vemos algo afetando como já se foi. Do outro lado, o cenário de juros baixos é algo que vai ter um efeito maior na precificação dos ativos, ainda mais relevante do que uma vacina ou aumento de casos.

-As empresas estão esticadas demais neste momento? Há algum setor melhor nesse quesito?
No caso de algumas empresas, têm alguns efeitos. Se pagou muito uma recuperação e um crescimento acentuado e boa parte disso é um efeito de que boa parte dos fundos de ações e multimercados se defendem em alguns papéis que sofrem menos.

Esses papéis de e-commerce hoje, por exemplo, as pessoas estão mudando de hábito e, por isso, as ações subiram muito. Como temos uma estratégia voltada em valor, acabamos evitando esse tipo de investimento e o valuation estão precificados em crescimentos que eu não sei se vai acontecer para todo mundo.

Esse fluxo de pessoas físicas atuais acabam sustentando esses papéis que consideramos elevados.

-De quais setores vocês mais gostam? E quais papéis?
Desde o ano passado a gente fez um movimento interessante para aumentar muito nossa exposição as commodities. Então, com esse nível de dólar, essas empresas terão resultados bem melhores daqui para frente. Aumentamos muito posição em Vale, Petrobras, Gerdau e Suzano.

Vemos essas empresas se beneficiando de câmbio mais elevado e retomada global. No caso de Suzano, ainda acreditamos na recuperação de preço da celulose e muitas empresas operam abaixo do custo operacional, então temos uma posição grande nesses papéis hoje.

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Mais recentemente, optamos por sair de algumas coisas que estavam perto do que achávamos justo e aproveitamos para aumentar nossa posição em shopping, em BRmalls, e a CCP, uma empresa de ativos da Cyrela, que além de shopping, também tem imóveis comerciais.

Acho que os shoppings, por conta das restrições, as pessoas não voltam tão cedo, mas acho que tem duas coisas. Talvez você perca um ano, mas as ações caíram cerca de 50%, com juro a 6%. Agora, com juro em cerca de 2%, se você precificar isso no longo prazo, a gente entende que temos uma oportunidade muito interessante para esses papéis se valorizarem.

Na CCP, por exemplo, tem o papo de nem todas as empresas voltam. Nós nao acreditamos. Achamos que isso pode acontecer, mas vai ter uma demanda por espaços maiores. No caso da CCP, muito focado em AAA, tem uma demanda muito alta, mas acho que é um efeito muito marginal perto do que as ações tiveram.

Temos identificado que muitos concorrentes tem se focado em empresas que entendem que são muito seguras, defensivas no curto prazo, como WEG, Raia Drogasil, B3, que são empresas que e tornaram muito líquidas e que, em tese, se defendem melhor, mas os valuations estão muito discrepante. Então acho que, voltando a normalidade, uma parte da carteira deve performar melhor em posições médias.

Entrevista com GTI

Vinicius Pereira

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