Short squeeze: entenda o que fez as ações da Gafisa (GFSA3) dispararem mais de 200%

Em meio a uma disputa entre acionistas, as ações da Gafisa (GFSA3) dispararam nas últimas semanas. O movimento começou quando o conselho da empresa aprovou um aumento de capital de R$ 150 milhões e a Esh Capital, acionista minoritária, passou a questionar a decisão.

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Sob esse cenário, os papéis da Gafisa tiveram uma valorização de mais de 200% com operações de short squeeze — movimento brusco de desmonte de posições vendidas.

Em 25 de novembro, ao oficializar o aumento de capital, as ações da Gafisa eram cotadas a R$ 6,25. Ontem, quando o movimento foi barrado por decisão judicial, os papéis fecharam o pregão em R$ 30,70. No intradia desta sexta-feira, o valor já caiu para R$ 24,68.

Por que está acontecendo o short squeeze com a Gafisa?

O short squeeze é um movimento de forte valorização de ativos, considerada uma operação especulativa. Ele acontece quando o mercado tem uma perspectiva negativa sobre as ações, esperando que os papéis caiam no futuro. Normalmente, envolve o aluguel de ações, seguida de uma venda.

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“Para isso, o investidor aluga o papel que é de posse de outro e vende porque vai cair. Em algum momento [contrato de 30 ou 60 dias, por exemplo], ele terá que devolver a exata quantidade de papel que foi alugada — independente do atual preço de negociações”, explica Rafael Marques, CEO da Philos Invest.

Ele também explica que, para devolver os ativos alugados, é necessário esperar o prazo estabelecido pelo contrato. Se o contrato acaba manhã, por exemplo, o investidor precisará comprar o papel hoje para no dia seguinte poder devolver ao dono.

Isso força uma compra que não estava no radar do mercado. Entram na compra até pessoas que estavam apostando na venda.

No caso da Gafisa, ela é uma das construtoras mais “shorteadas” na bolsa, pontua Rodrigo Cohen, analista CNPI e co-fundador da Escola de Investimentos. Assim, para evitar perdas quando o preço se valorizou, os investidores com posições vendidas passaram a comprar mais ações.

“Quando começaram a noticiaram sobre o aumento de capital e a venda do Fasano, as pessoas que estavam vendidas começaram a comprar. Como era uma alta demanda, a Gafisa passou a subir rápido, zerando as posições”, afirma.

O que provocou esse movimento?

O CEO da Philos Invest explica ainda que o short squeeze pode ter sido provocado porque investidores da Gafisa desejam participar da assembleia marcada para a segunda-feira (9). “Se você quiser votar, tem que pegar o papel de volta”, diz Marques.

Desta forma, o mercado aponta que muitos investidores deixaram de disponibilizar suas ações para aluguel. Além disso, o Brazil Journal revelou que uma fonte anônima ligada à empresa teria afirmado ao jornal que o movimento foi criado pela própria Esh Capital.

Segundo a fonte ouvida pelo jornal, a gestora teria aumentado suas compras nos últimos dias.

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Aumento de capital e desdobramentos judiciais

Na última terça-feira (3), havia sido oficializado o aumento de capital da Gafisa em R$ 78,1 milhões. O valor representa pouco mais da metade do que foi indicado ao mercado no fim de novembro.

A Esh Capital entrou na Justiça para barrar a decisão, alegando que a empresa não precisa dessa alocação de capital e que o aumento seria muito diluitivo para a base de acionistas.

Vale lembrar que a gestora também trava em briga judicial com o empresário Nelson Tanure, controlador da Gafisa, pela emissão de debêntures conversíveis em ações de quase R$ 250 milhões.

Após ter o aumento de capital negado por decisão judicial, hoje a Gafisa comunicou ao mercado que recorrerá da decisão e usará “das vias cabíveis” para balizar a emissão de novas ações.

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“A companhia se manifesta pela regularidade do aumento de capital e informa que irá recorrer da decisão e pleiteará, nas vias cabíveis, a indenização pelos prejuízos incorridos”, disse a Gafisa em fato relevante.

A disputa entre a Gafisa e a Esh Capital ainda não se encerrou. Com a assembleia ainda marcada para segunda-feira (9), as ações devem seguir em volatilidade até que o martelo seja batido.

CEO defende aumento de capital

Procurado pela Suno Notícias, Henrique Blecher, CEO da Gafisa, reforçou que tem tentado explicar a todos os acionistas que o procuram a necessidade da operação.

Nós precisamos de um caixa fortalecido para enfrentar as condições de mercado neste ano.

Em entrevista ontem (6), ele afirmou que “foi pego de surpresa pela movimentação” e que nunca foi procurado pela Esh Capital para discutir a movimentação.

“O que me causa estranheza é que esse acionista nunca me procurou para saber dos motivos do aumento de capital. Nenhum acionista vai conseguir saber todas as motivações do management pelos comunicados”, disse.

Segundo ele, em setembro, ao assumir a posição, foi lhe dada a missão de mudar o perfil da empresa, sendo necessário mais caixa para isso. Desta forma, um dos caminhos adotados seria vender ativos que não tinham core ou que tivessem um carrego alto.

Rali de GFSA3

Com a notícia da suspensão do aumento de capital as ações da Gafisa dispararam cerca de 47% no pregão de ontem (5) e acumulam alta de mais de 286% desde o pregão do dia 29 de dezembro. Os papéis GFSA3 protagonizam um dos maiores ralis no início do ano de 2023.

Antes da reviravolta envolvendo o aumento de capital, as ações haviam caído cerca de 58% no acumulado de 2022 (considerando a janela do primeiro pregão ao dia 28 de dezembro).

Nesta sexta-feira (6), por volta das 16h50, os papéis da Gafisa derretiam 19,61%, cotados a R$ 24,68.

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Janize Colaço

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