Fundos estrangeiros vendem ações da Vale após Brumadinho

Uma série de fundos de investimento estrangeiros está vendendo ações da Vale (VALE3) após o desastre de Brumadinho (MG). A informação foi divulgada nesta terça-feira (9) pelo jornal norte-americano Financial Times.

A terceira maior administradora de investimentos da Alemanha, a Union Investment, vendeu todas suas ações e títulos da Vale. As ações da mineradora, que chegaram a cair 25% no primeiro dia após a catástrofe, estão recuperando terreno. Entretanto, a empresa continua sob pressão dos investidores por uma melhora do seu desempenho em termos de segurança.

O desastre de Brumadinho foi o segundo em menos de 4 anos, após a ruptura da barragem de Mariana, também em Minas Gerais.

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A Union Investment, grande fundo de investimento alemão, era acionista da Vale até março. O grupo decidiu vender todos seus títulos e ações na mineradora brasileira.

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“A Vale foi excluída de todos os produtos que temos sob administração ativa”, informou Henrik Pontzen, diretor de governança, questões ambientais e questões sociais na Union Investment. O fundo administra US$ 338 bilhões (R$ 1,3 trilhões) em ativos, e controla 15% do mercado de investimentos alemão.

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Segundo a Union Investiment “falhas estruturais significativas” poer parte da Vale provocaram o desastre. Para o fundo, a mineradora não havia implementado “medidas suficientes” para prevenir catástrofes parecidas.

Outros fundos, como a Allianz Global Investors, segunda maior administradora de ativos da Alemanha, ou a DWS, também reduziram sua exposição com a Vale já após o desastre de Mariana.

Até Igrejas vendem participações

Por sua vez, a Igreja Anglicana também vendeu sua participação na Vale, por menos de £ 10 milhões (R$ 50,4 milhões). Uma decisão tomada logo nos primeiros dias que se seguiram ao desastre.

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Por sua vez, o conselho de ética da Suécia, responsável por assessorar diversos fundos de pensão no país europeu, aconselhou seus clientes a abandonar seus investimentos no gigante brasileiro da mineração. O conselho anunciou ter “perdido a confiança” na companhia.

Fundo norueguês cogita desempenho

O fundo de investimento petroleiro da Noruega, o maior fundo soberano do planeta, estaria dialogando com a Vale desde o desastre. O fundo, que detém 1,1% da mineradora, informou que o conselho de ética da Noruega estaria investigando a mineradora. O conselho de ética assessora o fundo petroleiro sobre sua estratégia em participações acionárias.

O desastre de Brumadinho

A Barragem 1 de rejeitos da mina de Córrego do Feijão estourou no dia 25 de janeiro. A mina, localizada na área metropolitana de Belo Horizonte, é de propriedade da Vale.

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Segundo o Corpo de Bombeiros, ao menos 224 pessoas morreram e 69 estão desaparecidas. Os números foram divulgados no balanço da Defesa Civil de Minas, divulgado na última quinta-feira (21).

O acidente gerou uma avalanche de lama, que liberou em torno de 13 milhões de metros cúbicos (m³) de rejeitos. A lama destruiu parte do centro administrativo da empresa em Brumadinho, e arrastou casas e até uma ponte.

A barragem rompida faz parte do complexo de Paraopeba. A mina é responsável por 7,3 milhões de toneladas de minério de ferro do terceiro trimestre de 2018. O volume corresponde a 6,2% da produção total da mineradora.

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A Vale informou em nota o início de uma sindicância interna para apurar as causas do rompimento da barragem. “Os resultados preliminares foram compartilhados hoje com as autoridades federais e estaduais que estão acompanhando o caso”, informou a mineradora no documento.

Segundo desastre com barragens

Esse é o segundo desastre com barragem em que a Vale se envolve em três anos. Em 2015 ocorreu a tragédia de Mariana, com o rompimento da barragem da Samarco. Naquele desastre morreram 19 pessoas e a lama destruiu centenas de casas e construções.

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A Samarco é controlada pela Vale e pela mineradora anglo-australiana BHP Billiton, cada uma com 50% das ações. As duas empresas produtoras de minério de ferro se tornaram alvo de ações na Justiça por conta do desastre. As pessoas afetadas ainda esperam por reparação.

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Por causa do desastre de Brumadinho, a Vale perdeu seu grau de investimento pela Moody’s e foi rebaixada pela Fitch, e ainda pode ter que arcar com penalidades e multas.

Por exemplo, a Vale poderia receber uma multa de até R$ 25 bilhões, ou 20% do faturamento bruto de 2018. O governo abriu uma investigação contra a mineradora para apurar se ela obstaculou a fiscalização sobre a barragem.

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O valor de R$ 25 bilhões é muito superior ao limite das multas previsto no código de mineração, que chega a cerca de R$ 3 mil. Entretanto, o caso da Vale poderia ser enquadrado na Lei Anticorrupção, com um aumento exponencial dos valores.

Schvartsman demitido

No último começo de março, a mineradora afastou o diretor-presidente, Fabio Schvartsman. Outros altos executivos foram também afastados temporariamente por decisão do Conselho de Administração. Entre eles, estão:

  • Gerd Peter Poppinga – Diretor-Executivo de Ferrosos e Carvão;
  • Lucio Flavio Gallon Cavalli – Diretor de Planejamento e Desenvolvimento de Ferrosos e Carvão
  • Silmar Magalhães Silva – Diretor de Operações do Corredor Sudeste

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Schvartsman foi substituído no comando da Vale pelo executivo Eduardo de Salles Bartolomeo.

Justiça bloqueia bens da Vale

A mineradora tem $13,65 bilhões bloqueados pela Justiça por causa do desastre em Brumadinho (MG). Esse valor foi congelado por garantir recursos para reparações dos afetados pelo rompimento da barragem do Córrego do Feijão.

Os recursos serão destinados a cobrir não somente os prejuízos em Brumadinho, mas também aqueles provocados em cidades onde outras barragens teriam risco de se romper. Em muitas delas foram realizadas evacuações de emergência. Entre esses municípios estão Barão de Cocais, Nova Lima, Ouro Preto e Rio Preto.

Nos dois dias seguintes ao rompimento da barragem de Brumadinho, outros R$ 10 bilhões foram bloqueados nas contas da Vale. Dessa vez a Justiça mineira atendeu pedidos apresentados pelo Ministério Público de Minas Gerais (MPMG).

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No dia 26 de janeiro R$ 5 bilhões foram bloqueados para garantir as reparações no meio ambiente. No dia seguinte, outros R$ 5 bilhões foram congelados para garantir a reparação dos danos causados aos atingidos.

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Outro R$ 1,6 bilhão foi bloqueado pela Justiça do Trabalho ainda em janeiro. O congelamento foi um pedido do Ministério Público do Trabalho (MPT). Esse valor seria destinado para garantir futuras indenizações trabalhistas. Isso porque grande parte das vítimas afetadas em Brumadinho são empregados da Vale e empresas terceirizadas.

Desse montante, R$ 800 milhões foram bloqueados são exclusivamente para garantir a indenização por danos morais coletivos.

Outro R$ 1,05 bilhão foi bloqueado das contas da Vale em decorrência de evacuações ocorridas nas cidades de Barão de Cocais e Macacos. Esse pedido foi formulado pelo MPMG e pela Defensoria Pública de Minas Gerais.

Total bloqueado é o dobro de Mariana

Esse total de R$ 13,65 bilhões bloqueados é mais que o dobro do quanto foi gasto com os danos provocados pelo desastre de Mariana, em 2015. Naquele caso a barragem era de propriedade da Samarco, joint-venture entre a Samarco e a anglo-australiana BHP Billiton.

Possíveis bloqueios de mais R$ 50 bi

Outras ações do MPMG tramitam na Justiça mineira. Elas requer bloqueio de outros R$ 50 bilhões nas contas da Vale para garantir ações de reparação ambiental na região atingida pelo desastre. Ainda não houve decisão judicial sobre esse pedido.

Carlo Cauti

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