Fundos de ações: quais estratégias as gestoras estão usando para se posicionar no mercado?

Em 2025, diante de um cenário marcado por incertezas fiscais no Brasil e instabilidade global, há quem busque performance nos detalhes: gestoras de fundos de ações estão apostando em carteiras mais seletivas, voltadas à economia doméstica e baseadas em empresas com fundamentos sólidos.

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A expectativa de queda nos juros, somada ao fluxo de capital estrangeiro e à resiliência de alguns setores internos, tem guiado as decisões dos principais gestores, que evitam apostas amplas e preferem ações com geração de caixa, bons múltiplos e histórico consistente.

Essa abordagem já rende frutos: fundos como da Fator e AZ Quest vêm superando o Ibovespa com sobras até maio, segundo as últimas lâminas disponíveis.

O destaque comum entre eles está no foco em setores domésticos — como consumo, educação, bancos, construção civil e energia — e na exclusão de apostas frágeis, mesmo entre ações populares.

O contexto atual, com expectativa de cortes de juros e pressão contínua sobre o fiscal brasileiro, reforça a preferência por ativos com fundamentos consistentes.

Seleção defensiva, doméstica e com fundamento

A Fator Gestão adotou uma postura conservadora em 2025, mantendo exposição em empresas resilientes, pagadoras de dividendos e com valuations atrativos.

“Essas empresas […] conferiam à carteira um perfil mais conservador”, explicou Isabel Lemos, que também destacou a boa performance de papéis no setor educacional, impulsionados pela expansão de cursos de Medicina. A carteira também incluiu nomes no setor imobiliário de baixa renda, apoiados pelo programa Minha Casa Minha Vida, e ações selecionadas no varejo.

Na AZ Quest, o fundo elevou o beta da carteira com empresas domésticas, mas mantendo o rigor na análise. A combinação de consumo e construção civil com setores defensivos, como energia elétrica e bancos, equilibrou a carteira.

A visão da casa é “cautelosamente otimista”, e o cuidado com a qualidade é prioridade. “Empresas de baixa qualidade a gente não vai adicionar no portfólio, nem se tiverem um beta alto”, reforçou João Mamede.

A perspectiva da Fator também considera o interesse crescente de investidores estrangeiros: “Acreditamos que ainda haja espaço para alocações adicionais, especialmente com uma visão de longo prazo”, avaliou Isabel. A gestora também vê potencial nas small caps, desde que escolhidas com diligência.

O Suno FIC FIA, fundo de ações da Suno, obteve um retorno de 3,2% em maio, superando o Ibovespa,que fechou em 1,45%. “Temos um portfólio com uma qualidade acima da média do índice”, explica o analista Rodrigo Wainberg.

Fundos de ações que “apostam” em setores internos dominam as contribuições em 2025

O foco em empresas voltadas à economia local se repete em outras gestoras. Daniel Utsch, da Nero Capital, resume: “Setores que mais contribuíram para a performance esse ano foram majoritariamente ligados à economia doméstica — consumo, varejo, educação, construção civil, transportes […] empresas não ligadas à economia global, não exportadoras, não ligadas a commodities.”

A Nero também obteve ganhos com posições vendidas em companhias de commodities e uma contribuição positiva vinda da Aura, mineradora de ouro. “É um fato que o cenário é quase sempre incerto por definição, mas a gente escolhe com base na qualidade das empresas”, destacou Utsch ao comentar a lógica por trás das decisões em um ambiente volátil.

Na prática, os fundos de ações que vêm superando o índice em 2025 são aqueles que conseguiram unir leitura precisa do ciclo com disciplina na alocação.

Em vez de exposição ampla ao mercado, as gestoras têm privilegiado ações com fundamento, visibilidade de resultados e menor risco macro. O cenário segue desafiador, mas, para quem acerta na escolha dos ativos, o ano tem trazido oportunidades concretas de valorização.

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Maíra Telles

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