FED surpreende: Powell abre caminho para corte de juros já em setembro e dólar despenca
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O presidente do FED, Jerome Powell, indicou nesta sexta-feira (22) que a autoridade monetária dos Estados Unidos pode reduzir os juros já na próxima reunião do Comitê Federal de Mercado Aberto (FOMC), marcada para 16 e 17 de setembro. A taxa está atualmente entre 4,25% e 4,50%, sem alterações desde dezembro do ano passado.

Segundo Powell, “o cenário-base e a mudança no balanço de riscos podem justificar um ajuste em nossa política”, discurso feito durante a conferência anual de Jackson Hole. Ele ponderou, no entanto, que a estabilidade do desemprego permite ao FOMC agir com cautela.
FED eleva chances de corte em setembro
As declarações de Powell aumentaram fortemente a probabilidade de cortes de juros em setembro. Dados da plataforma CME Group mostram que a chance de redução de 25 pontos-base chegou a 91,5%, contra pouco mais de 70% antes do pronunciamento. Com isso, a expectativa de manutenção na faixa atual caiu para apenas 8,5%.
O novo discurso também coincidiu com a revisão do “Statement of Longer-Run Goals and Monetary Policy Strategy”, no qual o FED retornou ao regime de metas flexíveis de inflação. O documento retirou a antiga formulação de que o comitê responderia apenas a “desvios” da taxa de pleno emprego, reforçando que “o emprego pode, em alguns momentos, ficar acima das avaliações em tempo real sem gerar riscos à estabilidade de preços”.
De acordo com análise do Goldman Sach, Powell afirmou que “o cenário-base e a mudança no balanço de riscos podem justificar um ajuste em nossa política”, mas que a “estabilidade da taxa de desemprego e de outras medidas do mercado de trabalho” permite ao FOMC “proceder com cuidado”. O mesmo relatório avaliou as falas como consistentes com um corte de 25 pontos-base em setembro.
O documento também destacou que o mercado de trabalho estaria em “um curioso tipo de equilíbrio, resultado da desaceleração tanto da oferta quanto da demanda por trabalhadores”, o que aumenta riscos de desemprego no curto prazo. Powell ainda citou que o crescimento do PIB “desacelerou notavelmente”, mas parte disso estaria ligada ao arrefecimento do crescimento potencial.
No ponto da inflação, Powell avaliou que tarifas devem gerar um “ajuste pontual de preços”, embora exista risco de uma dinâmica mais persistente. Ele ressaltou, contudo, que as expectativas seguem “bem ancoradas” e que a pressão inflacionária de salários não deve ser significativa, já que o mercado de trabalho “não está particularmente apertado”.

Impacto no mercado global
Thiago Calestine, economista e sócio da Dom Investimentos, afirmou que a fala de Powell teve impacto imediato: “Tivemos o discurso do Powell em Jackson Hole e os mercados reagiram de forma agressiva, mas positiva. Tudo que era ativo de risco reagiu bem: bolsas, ações, títulos públicos e privados. O dólar ficou fraco contra quase todas as moedas.”
Após o discurso, bolsas nos EUA, Europa e Brasil avançaram, enquanto o dólar se enfraqueceu frente às principais divisas globais, inclusive contra moedas emergentes. Na visão do economista, o tom mais “dovish” surpreendeu investidores: “O pessoal não esperava um discurso tão inclinado a iniciar rapidamente o ciclo de afrouxamento monetário. Powell reconheceu que manter juros elevados por muito tempo pode abrir um hiato no mercado de trabalho e até levar a uma recessão técnica no futuro.”
Expectativas para o fim de 2025
As projeções também mudaram para o fim do ano: 50,7% dos investidores agora apostam em cortes acumulados de 50 pontos-base até dezembro. Outros 35% precificam uma redução de 75 pontos-base, enquanto apenas 13,5% esperam queda menor, de 25 pontos.
Com os riscos à inflação considerados contidos, a desaceleração do emprego mais evidente e o retorno oficial do FED ao modelo de metas flexíveis de inflação, cresce a percepção de que setembro poderá marcar o início de um ciclo de flexibilização monetária nos Estados Unidos.