O dólar será sempre será a ‘moeda mundial’?

Em tempos de conflitos geopolíticos, sempre volta à tona o acirramento de uma outra disputa entre duas das maiores potências mundiais: Estados Unidos e China, com a discussão sobre a possibilidade do dragão asiático se tornar a maior economia do mundo. Neste contexto, vários temas estão em jogo, como a predominância do dólar como moeda global e as possibilidades do país continuar ou não sendo a principal fonte de liquidez do mundo. 

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Voltando um pouco na história, o uso do dólar como divisa global remonta ao fim da Segunda Guerra Mundial, quando os Estados Unidos saíram vencedores. A moeda passou a ser adotada como base para as transações internacionais, substituindo o ouro. Anos depois, o próprio petróleo passou a ser cotado em dólar, o que acabou fortalecendo ainda mais a moeda americana.

O fato é que o uso do dólar como base da economia mundial também acaba oferecendo aos Estados Unidos uma posição de destaque frente à outras nações, uma vez que a política monetária escolhida pelo país acaba influenciando o mundo como um todo. 

Assim, apesar da força econômica que a China possui, o renminbi (RMB) – nome oficial da moeda chinesa, mais conhecida no mundo ocidental como ‘yuan’ -, está longe de ser uma grande divisa internacional. 

“Vejo o dólar ainda como a moeda mais forte – até porque continua como a moeda de maior liquidez e isso gera uma conversibilidade mais fácil para as operações. Difícil ter outra divida com tanta força para substituir o dólar no curto prazo”, afirma Fabricio Velloni, economista-chefe da Frente Corretora.

Como base de comparação, no mercado de câmbio no Brasil um dólar vale cerca de R$ 5,03, enquanto um yuan compra R$ 0,69.

É possível uma mudança de padrão?

Apesar da hegemonia do dólar frente a outras moedas mundiais, a ideia de uma alternativa a divisa americana existe desde a conferência que criou o Fundo Monetário Internacional (FMI), ainda no contexto da Segunda Guerra Mundial. 

Em meio ao desejo dos europeus de que o dólar não fosse a moeda internacional por excelência, está a figura do economista britânico John Keynes, que defendia a criação de uma moeda internacional única, o que acabou não se concretizando.

O tema voltou a ser discutido muito tempo depois, durante a crise mundial de 2008, em uma das cúpulas do BRICS, uma parceria entre cinco das maiores economias emergentes do mundo: Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul – e que receberá novos membros a partir do ano que vem.

No discurso de posse da ex-presidente Dilma Rousseff no comando do Banco dos BRICS, no último mês de abril, o presidente Lula (PT) questionou o papel do dólar como moeda universal, e defendeu que os países integrantes utilizem uma moeda própria entre si.

“Eu creio que não seja algo que se deva gastar tanto esforço. Fazer um banco de desenvolvimento eu acho que é algo interessante para você financiar países que têm uma necessidade maior de capital. Neste caso, o Brasil poderia ser um financiado, principalmente no segmento de infraestrutura. Mas uma moeda entre eles, eu acho que não vale muito a pena”, defende Fabricio Velloni, da Frente Corretora.

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Uma nova moeda entre Brasil e China: alternativa ao dólar?

Recentemente, o presidente Lula e o líder da China, Xi Jinping, assinaram cerca de 20 acordos bilaterais com o objetivo de fortalecer as relações entre as duas nações. Dois deles incluem a viabilização de transações comerciais de câmbio direto entre o real brasileiro e o yuan, visando reduzir os custos ao excluir o dólar da operação, promover o comércio bilateral e facilitar investimentos no Brasil.

Velloni lembra da relação importante que o Brasil possui com o gigante asiático, principalmente em relação à commodity, mas faz um alerta no caso de uma expectativa menor de produção, o que traria uma tendência de redução de demanda por commodity e afetaria o Brasil de forma direta. 

“O Brasil precisa descentralizar e sair dessa dependência de exportação da commodity, da mesma forma que os Estados Unidos estão procurando novos parceiros para conseguir suprir o que hoje faz com a China”, aponta o economista-chefe, pontuando que o Brasil poderia sair só de um ‘exportador de commodities’ e passar a vender produtos com maior valor agregado maior, gerando mais empregos.

Entretanto, Fabricio elenca alguns fatores que acabam impedindo que isso ocorra, como o tributário, o gargalo existente em relação à infraestrutura e logística, além da matriz energética.

“São pontos que o Brasil ainda tem de melhorar para conseguir uma competitividade maior para entrar em novos mercados. Até por isso as privatizações, as concessões, trazer investimentos de mais longo prazo, principalmente para infraestrutura”, destaca.

Assim, o economista tem dúvidas sobre os benefícios para o Brasil, caso esse comércio com a China seja facilitado. Na avaliação de Velloni, por não se tratar de uma economia de mercado aberto, não é possível confiar plenamente nos dados oferecidos pelo gigante asiático.

“Ao pensar em tentar fazer moeda de conversibilidade com China, é preciso lembrar que 90% dos bancos que fazem a parte de câmbio são americanos, ou bancos ingleses. Então vai existir essa barreira de trabalhar com a China. Pode existir, mas não vai ter tanta liquidez quanto o dólar”, finaliza.

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Giovanni Porfírio Jacomino

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