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Rodrigo Dias
Rodrigo Dias

A Retomada da Renda Fixa

Passados pouco mais de 7 meses desde aquele 5 de agosto, quando o Copom decidiu pelo corte de 25 pontos percentuais e levou a Taxa Selic à mínima histórica de 2%a.a., o cenário mudou. Naquele momento, o comitê notava que pioras do lado fiscal poderiam aumentar o prêmio de risco à frente e que os programas de estímulo ao creditício e recomposição da renda poderiam fazer com que a redução da demanda agregada fosse menor do que o que vinha sendo estimado.

Por outro lado, a incerteza quanto ao ritmo de retomada e as projeções de mercado e do próprio Banco Central quanto à inflação, que projetavam números abaixo de 2% para 2020 e também abaixo da meta para o ano seguinte, davam respaldo à autoridade monetária para fazer o movimento.

De lá para cá, as commodities se recuperaram completamente das fortes quedas do primeiro semestre de 2020, atingiram máximas e pressionaram os índices de preços em grande parte dos países emergentes, o que esvaziou o discurso do presidente do BACEN, Roberto Campos Neto.

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Além deste fato, o mercado financeiro já vinha sinalizando que o patamar da Selic não estaria estimulando a economia e nem contribuindo positivamente para a taxa de câmbio, já que o carry não era atrativo. Essa última variável, vale destacar, vem sendo pressionada há algum tempo por questões domésticas, principalmente por incertezas do lado fiscal, que colocam em dúvida algumas conquistas recentes como o Teto dos Gastos.

No presente cenário, o Copom surpreendeu o mercado com uma elevação de 75 pontos percentuais na reunião de março, acima dos 50 pontos que eram esperados, e já se comprometeu com mais uma elevação de mesma magnitude para o início de maio. Em pouco tempo, tudo parece ter mudado.

O período de juros básicos baixos, no entanto, intensificou algumas anomalias no mercado, principalmente na renda fixa, levando investidores que buscavam retornos mais elevados a saírem de posições vistas como mais conservadoras.

Após o forte impacto da pandemia da Covid-19 nos mercados acionários e de juros, o que gerou uma grande desvalorização desses ativos no ano passado, os investidores com maior apetite ao risco rotacionaram suas carteiras em busca de estratégias que pudessem trazer maior retorno ou uma recuperação mais rápida.  Os saques nos fundos de crédito desencadearam uma série de vendas de títulos a preços adversos, embora a qualidade dos ativos tenha se mantido estável.

Dito isso, a classe de ativos de crédito privado, até então conhecida por carregar baixo risco de mercado e volatilidade baixa, presenciou os seus piores dias. No 13 de abril de 2020, o índice de debêntures da Anbima (o IDA-DI), uma referência para o desempenho do mercado, alcançava o nível de 2.271,7 pontos, um retorno de -6,5% desde o seu pico no dia 4 de março.

Gráfico 1.

Ilustração no gráfico 1 mostra o máximo drawdown. Fonte: Quantum

Como amplamente comentado à época, a manutenção da qualidade de crédito permitiria que os ativos, e, portanto, seus detentores, se recuperariam gradualmente, voltando a ser uma alternativa atraente ao investidor em renda fixa, uma vez que as taxas (yields) dos ativos estavam em patamar muito elevado. De fato, após um pouco mais de um ano, vimos o IDA-DI ter uma alta de +10,5% desde o seu pior dia.

Gráfico 2

IDA-DI. Fonte: Bloomberg

Por fim, nossas projeções para a Selic ao fim deste ano passaram para 5% e para 6% ao final de 2022. Considerando que os títulos de crédito de alta qualidade, os chamados high grade, ainda apresentam preços interessantes, podemos certamente afirmar que o fluxo para os fundos de crédito deve retornar nos próximos meses com maior intensidade.

Nota

Os textos e opiniões publicados na área de colunistas são de responsabilidade do autor e não representam, necessariamente, a visão do Suno Notícias ou do Grupo Suno.

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