Patricia Nader

O papel do setor privado no cumprimento das metas estabelecidas pelo Acordo de Paris

Diante de tantas incertezas e obstáculos, fica muito claro que o setor privado terá de ser um dos grandes promotores da agenda climática global

Após duas semanas de negociações e intensos debates, a COP-27 (Conferência do Clima da ONU) anunciou um acordo em torno da criação de um fundo internacional para reparação de perdas e danos sofridos pelos países em desenvolvimento, em virtude dos desdobramentos das mudanças climáticas. Apesar do destaque dado à conquista, o tema não é exatamente novo em cúpulas do clima. Ao longo dos últimos anos, foram feitas inúmeras promessas com relação ao assunto, com poucos avanços concretos, no entanto.

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Com efeito, o financiamento climático vem encontrando diversas barreiras para sair do papel. Dentre elas, podemos citar a falta de transparência na utilização dos recursos, quem seriam os países credores de um eventual veículo e o mecanismo de funcionamento do mesmo, além da resistência de alguns dos países desenvolvidos em reconhecerem sua parcela de culpa no total das emissões globais e, portanto, o dever decorrente de financiar as medidas de reparação necessárias. Ou seja, muitas peças precisam ser movidas para que essa agenda possa efetivamente progredir.

Mesmo que as dificuldades dessa vez sejam contornadas, fato é que estamos mirando sintomas do problema, ao invés de uma solução definitiva para conter as mudanças climáticas em si. Quanto menos se investe nas causas propriamente ditas, mais a questão tende a se agravar, tornando o cumprimento de metas dos países cada vez mais utópico e, pior, aumentando o saldo de perdas e danos a ser enfrentado no futuro.

Embora represente um progresso importante, o debate em cima do fundo de perdas e danos na COP-27 é uma ilustração bastante adequada das limitações inerentes a um processo multilateral estruturado em decisões consensuadas. Necessariamente, é uma dinâmica que requer tempo. Diante de tantas incertezas e obstáculos, fica muito claro que o setor privado terá de ser um dos grandes promotores da agenda climática global. Sem uma atuação contundente das entidades privadas, fica difícil imaginar um cenário em que o tema evolua no ritmo e urgência que o mundo precisa.

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Neste contexto, as oportunidades para financiamento de novos projetos, tecnologias e ideias serão, sem dúvida, abundantes. No entanto, o fluxo de investimentos privados atual terá de acelerar muito se quisermos alcançar o Net Zero até 2050. Estima-se que já tenham sido alocados aproximadamente US$ 222 bilhões pelo setor privado somente na pauta climática entre 2013 e primeiro semestre de 2021. Se por um lado parece ser algo significativo, por outro é somente uma fração dos cerca de US$ 100 a 150 trilhões estimados pela BCG como o montante necessário para cumprir com esse objetivo ao longo das próximas três décadas.

E onde o Brasil se encaixa em toda essa discussão? Se a política e os fatores externos permitirem, o Brasil tem tudo para ser um dos principais atores do processo de descarbonização global.

O Brasil detém a matriz energética mais limpa do mundo, com 85% de fontes limpas versus uma média global de 26%. Além disso, o país tem vantagens competitivas claras em diversos segmentos-chave para essa equação, como nos casos dos combustíveis sustentáveis, biometano e hidrogênio verde. Sendo assim, não só estamos muito à frente do mundo na construção de uma indústria com baixa pegada de carbono, como a expectativa é de que essa fotografia melhore ainda mais a partir dos US$ 2-3 trilhões de investimentos esperados no país até 2050, conforme estimativa da BCG.

O cenário é ainda mais promissor para o país quando se pensa na frente de ativos florestais. A preservação da floresta amazônica é condição sine qua non para que o mundo atinja a neutralidade de carbono em 2050. Somente nela, o Brasil armazena o equivalente a cinco anos de emissões globais de gás carbônico, ocupando o primeiro lugar no mundo em termos de potencial de geração de créditos de carbono, tanto em prevenção ao desmatamento como em reflorestamento.

O mundo precisa de respostas imediatas e o Brasil parece reunir boa parte delas. Em outras palavras, estamos diante da maior oportunidade que já tivemos no país, em muito tempo, e a iniciativa privada simplesmente não pode esperar de mãos atadas os progressos (que reiteramos, estão acontecendo) mais parcimoniosos dos debates multilaterais como os que testemunhamos nesta COP-27.

*Este artigo foi escrito por Patricia Nader e e Raphael Falcioni, sócios da Good Karma Ventures

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Nota

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