Patricia Nader

ESG: centro de custo ou alavanca de valor?

Todos os negócios estão intrinsecamente relacionados com questões ambientais, sociais e de governança e adotar medidas em cada uma dessas frentes impacta diretamente os retornos financeiros – e com efeito líquido positivo

Estabelecer diretrizes de ESG é muito mais do que assumir ações para estar bem ou em linha com o movimento do mercado. E é preciso cuidado para não cair no conceito de greenwashing, sem ações concretas, que ficam mais no discurso do que na prática.

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Todos os negócios estão intrinsecamente relacionados com questões ambientais, sociais e de governança e adotar medidas em cada uma dessas frentes impacta diretamente os retornos financeiros – e com efeito líquido positivo. Algo bastante relevante para os que atuam em Impacto, especialmente. Sendo assim, todas as companhias, independentemente do modelo ou setor de atuação, podem se beneficiar (e muito) do compromisso com o ESG, além de cumprir o seu papel para alcance de metas estabelecidas em uma agenda de esforço coletivo, é claro.

De acordo com uma análise realizada pela McKinsey, 63% das empresas que estabeleceram ações para estar em linha com essa agenda tiveram algum impacto positivo nas operações. E segundo um relatório da Ace Startups, 92% das pessoas ouvidas durante o estudo acreditavam que o conceito da tríade reverbera no futuro dos seus negócios. Ainda assim, precisamos difundir a importância do ESG nas companhias e seus desdobramentos positivos.

Desta maneira, para jogar luz nos frutos que podem ser colhidos, destaco o ganho de fidelidade do consumidor e o aumento de faturamento, uma vez que a demanda por produtos mais sustentáveis é crescente. Um estudo elaborado pela consultoria Walk The Talk revela que 94% dos brasileiros esperam que as empresas façam algo sobre ESG. Porém, apenas 17% acreditam que as companhias efetivamente fazem.

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Outros ganhos estão com a redução de custos, a partir do uso consciente de recursos, como água, energia e outros, e o registro de performance e produtividade melhorada, já que estar em ambientes confortáveis podem impactar na maneira como os colaboradores trabalharam e entregam resultados. Somam-se a isso os efeitos reputacionais, que vão desde o aumento de credibilidade até a maior confiança de órgãos governamentais, pela transparência de processos, e por parte de investidores.

Esses argumentos já sustentam a discussão sobre estabelecer práticas ESG. Mas, para reforçar ainda mais e mostrar os ganhos financeiros, conto que os pacotes de ações relacionados ao tema devem atrair cerca de US$ 53 trilhões em investimentos até 2025, segundo estima a Bloomberg em pesquisa recém-divulgada. Isso porque os investidores estão se mostrando cada vez mais interessados em empresas preocupadas com o futuro e com a dependência de seus atos relativos à responsabilidade com o meio ambiente, com o social e o desenvolvimento sustentável. Graças a uma visão mais racional e coerente, pensando pelo lado da governança corporativa, também é possível realizar a alocação mais eficiente de capital no longo prazo.

Agora, ampliando o debate, é preciso falar do efeito do greenwashing nessa percepção, já que maquiar informações e condutas para uma avaliação falsa das práticas ESG não só atrapalha a longo prazo, como ainda causa problemas imediatos, o que pode custar caro para a reputação de uma corporação – o fator determinante para as decisões de negócios, seja por parte de investidores ou dos consumidores, como comentei anteriormente.

Desta forma, é imprescindível se manter atento, vigilante e, sobretudo, ativo. Vale também buscar ferramentas para avaliar as ações e seus resultados, bem como provar o valor delas e seus efeitos práticos. É o “ir além do discurso”, botar a mão na massa e fugir da armadilha da ‘maquiagem verde’, que esconde as razões que estão por trás de cada ação e mascara a percepção dos resultados. Para isso, uma das possibilidades é avaliar o retorno por meio da aplicação do Múltiplo de Impacto, uma metodologia desenvolvida em parceria com Insper Metricis, baseada em estudos oficiais, que visa encontrar o valor monetário dos projetos, especialmente os socioambientais, mas que também indica a capacidade de tornar o plano escalável e sustentável.

A aplicação, mensuração e revisão das práticas ambientais, sociais e de governança são essenciais para a propagação do valor no longo prazo e, no mundo atual, são mais urgentes do que nunca. É bastante importante refletir sobre os benefícios que podem ser gerados pelas práticas ESG, além de difundi-los, para que cada vez mais se torne algo natural no nosso dia-a-dia e, principalmente, real e efetivo.

O compromisso ESG só vale se for concreto, com impactos transformadores e positivos. Se não for assim, é só uma jogada perigosa e que pode custar muito caro para todo mundo, visto a relevância coletiva.

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Nota

Os textos e opiniões publicados na área de colunistas são de responsabilidade do autor e não representam, necessariamente, a visão do Suno Notícias ou do Grupo Suno.

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