Lucas Devito

A ilusão do Market Timing

Todos queremos sempre comprar ativos “baratos”, aproveitando as oportunidades que o mercado frequentemente oferece, mas não podemos ficar reféns disso - o custo da espera pode ser muito alto

O investidor de renda variável, principalmente o novato, costuma ter a sensação de que é possível acertar o “timing” para comprar seus ativos. Geralmente ele se ancora em um número (preço do ativo) e leva como regra que só será um bom negócio se comprar naquele preço, ou abaixo disso.

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Normalmente, o “contrarian” quer comprar sempre no dia que os ativos estão em queda, ou somente quando o preço está abaixo do seu preço médio. O que não faz sentido! Entenda que não estou dizendo que é errado comprar em dias de queda ou abaixo do seu preço médio – o errado é você ficar esperando por este momento.
Todos queremos sempre comprar ativos “baratos”, aproveitando as oportunidades que o mercado frequentemente oferece, mas não podemos ficar reféns disso – o custo da espera pode ser muito alto.

A corretora americana Charles Schwab fez um estudo, mostrando que não vale a pena esperar o “melhor momento”. O estudo simula 5 estratégias de investimentos diferentes, onde o investidor recebe 2.000,00 dólares todo início de ano e investe no índice da bolsa americana (S&P 500) no período de 2001 a 2020.

As estratégias simuladas foram:

PERFECT TIMING: Acertou o fundo do mercado todos os anos, investindo os 2.000,00 no dia exato em que o índice atingiu o menor número em cada ano, fez isso constantemente durante os 20 anos (convenhamos, impossível né?)

INVEST IMMEDIATELY: Investia anualmente os 2.000,00 sempre no primeiro dia de cada ano. Estratégia simples e consistente.

DOLLAR COST AVERAGING: Fracionou os 2.000,00 em 12 aportes mensais, investindo a parcela proporcional sempre no primeiro dia de cada mês.

BAD TIMING: Ao contrário do Perfect Timing, esse investidor conseguiu acertar o topo do mercado todos os anos, durante 20 anos. Investindo os 2.000,00 anuais sempre no high de cada ano. (aparentemente, também impossível)

STAY IN CASH: Manteve o capital fora da renda variável, deixando seu dinheiro sempre aplicado em títulos do Tesouro Americano de curto prazo.

O resultado foi o seguinte:

Observação: foi considerado o reinvestimento de dividendos e não foram descontadas taxas e despesas. Evidenciando a importância do reinvestimento dos dividendos, bem como uma gestão de custos eficiente.

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A mesma simulação foi feita em diversos intervalos de tempo diferentes, porém o resultado é quase sempre o mesmo:

A conclusão que eu chego ao analisar esse estudo é que, se você tem um prazo de 20 anos, não deveria ficar de fora do mercado de ações. Estratégias simples, se executadas com disciplina e consistência, trazem um retorno financeiro superior ao da renda fixa, basta estar disposto a “pagar o preço” da volatilidade por isso.

Voltando ao assunto do timing, é muito improvável que você acerte os melhores momentos para investir, pois o mercado de ações não caminha junto com a economia real, ele é sempre baseado em expectativas. Segue uma imagem para ilustrar minha fala:

Inevitavelmente, o nosso inconsciente não vai nos estimular a comprarmos ações enquanto a economia real ainda está em declínio, é muito contraintuitivo. Mas é aí que entra o seu lado racional, onde você deve remeter a estratégia que foi adotada e seguir comprando, assim você garante que vai comprar nos momentos de baixa, que são os potencializadores de capital.

Claro que podemos e devemos ter uma sensibilidade quanto aos ciclos econômicos, um dos maiores investidores da história, Howard Marks, fala muito sobre isso, ele diz que devemos sempre ter um “segundo nível de pensamento”, e buscar entender porque realmente estão comprando ou vendendos determinado ativo, se é pura emoção, se realmente tem fundamento, se estamos em um ciclo de alta da economia real, enfim, existem inúmeras possibilidades, mas é importante que façamos uma reflexão antes de qualquer movimento brusco na carteira.

Finalizo o artigo com a minha sugestão de estratégia: pra mim o DCA (Dollar Cost Averaging) é a melhor opção, pois ela se prova efetiva quanto a rentabilidade e te dá um conforto psicológico de estar comprando todos os meses. Ter a sensação de comprar nas quedas é muito bom, confie em mim, o tempo vai lhe mostrar isso.

Para fundamentar a minha sugestão, deixo um outro estudo relativo a este tema:
https://ofdollarsanddata.com/even-god-couldnt-beat-dollar-cost-averaging/

Para compreender os ciclos econômicos, sugiro o vídeo do Ray Dalio:
https://www.youtube.com/watch?v=W8TFqyWUud0

Estudo citado no texto: https://www.schwab.com/learn/story/does-market-timing-work

Esta matéria foi escrita pelo time da Suno Consultoria. Para conhecer melhor este serviço da Suno, clique aqui

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Nota

Os textos e opiniões publicados na área de colunistas são de responsabilidade do autor e não representam, necessariamente, a visão do Suno Notícias ou do Grupo Suno.

Lucas Devito
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