Fábio Carvalho

Conviva com incertezas

Objetivo sempre deve ser investir de forma que minimizemos as probabilidades de que seus objetivos sejam frustrados

Um grande tema que se costuma chamar genericamente de “gestão de riscos” sempre foi um dos meus maiores foco de interesse. Toca inúmeros aspectos da vida profissional, de todos, bem como da nossa vida fora do escopo do trabalho.

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Meu livro preferido sobre o assunto, talvez por felizmente ter sido o meu primeiro, foi chamado no Brasil de “Desafio aos Deuses”, e escrito pelo economista e autor Peter Bernstein. A obra tenta explicar de forma relativamente simples a história do entendimento e gestão de riscos, desde primórdios quando nem os conceitos matemáticos hoje relevantes eram entendidos, mas a necessidade de gestão de risco já se apresentava na prática, na luta pela sobrevivência.

O livro traz diversas histórias interessantes, utilizadas para ilustrar conceitos principais. Uma que nunca esqueci foi a história do hoje famoso economista, prêmio Nobel, Kenneth Arrow. No início da sua vida profissional, durante a 2ª Guerra Mundial, Arrow trabalhava para a força aérea americana. Sua responsabilidade era fazer as previsões sobre como estariam as condições do tempo em diversas regiões nos meses seguintes. Meteorologia. Ele rapidamente percebeu que as previsões eram terríveis. Suas tentativas de prever algo meses a frente, naquele domínio, tinham um índice de acerto tão baixo que de nada serviam. Arrow argumentou com seus superiores que deveriam parar de tentar fazer aquelas previsões. De cima veio a resposta, “o General Comandante sabe que as previsões são muito ruins. Mas precisa delas para fazer o planejamento.”

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E daí que as previsões não servem para nada? Preciso de alguma previsão para formular meus planos! O ser humano tem uma tremenda dificuldade de lidar com incertezas. E nosso cérebro prefere criar certezas, ou cenários bem definidos, para poder conviver com a incerteza inerente ao futuro.

Se atribui a filosofo Immanuel Kant ter dito que “a inteligência de alguém pode ser medida pela sua capacidade de lidar com incertezas”. Essa frase exatamente assim não parece ter sido dita realmente por ele, mas parece sim ser um bom resumo de ideias suas em alguns de seus trabalhos principais.

Legal, e daí? E daí que gestão de risco deveria ser a atividade mais importante para qualquer investidor! E é disso que estamos falando aqui.

Quando pensamos em investimentos separar o que são incertezas quanto ao futuro, e o que são riscos, que devemos buscar entender e mitigar, é a mais importante das nossas obrigações.

É fato que há risco e há incerteza. Não devemos confundir os dois conceitos, apesar de ser difícil de separá-los sem refletir com cuidado. Acredito que o trabalho de um investidor, seja um profissional ou um indivíduo gerindo seus próprios portfolios, é separar adequadamente esses dois conceitos, e então gerenciar com diversas ferramentas os riscos efetivos que se apresentam.

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As incertezas deixam as pessoas inquietas. Precisamos agir. E acabamos tomando decisões ruins. Para grande quantidade das pessoas tomar uma decisão hoje, fechar um negócio já, é mais fácil e psicologicamente confortável, do que não fazer nada e aguardar o filme de desenrolar, o tempo passar – com dúvidas e incertezas no ar. Eliminar incertezas do tabuleiro não significa necessariamente eliminar riscos.

Risco, do ponto de vista de investimentos para investidores individuais, e sem entrar em fórmulas e cálculos, é o conjunto de razões e probabilidades de que seus objetivos futuros para um investimento ou portfolio não sejam atingidos.

Na prática, o exercício de gestão de riscos para um investidor individual deveria se dar da seguinte forma: i. defina seus objetivos individuais de médio e longo prazo; ii. aceite e identifique incertezas que não poderão ser eliminadas; iii. crie cenários futuros; iv. identifique nestes cenários os motivos que podem levar a seus objetivos não serem atingidos, e em qual grau. Estes são os riscos que devemos buscar mitigar.

Entender que vivemos um mundo probabilístico, em que inúmeros cenários futuros podem acontecer, mas não necessariamente acontecerão, é crítico. E o objetivo sempre deve ser investir de forma que minimizemos as probabilidades de que nesses cenários futuros, possíveis mas incertos, seus objetivos sejam frustrados.

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Nota

Os textos e opiniões publicados na área de colunistas são de responsabilidade do autor e não representam, necessariamente, a visão do Suno Notícias ou do Grupo Suno.

Fábio Carvalho

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