Benjamin Gleason

O que o colapso do SVB ensinou sobre a gestão de caixa das startups

Esse colapso acabou afetando muitas das maiores startups brasileiras também, pois detinham no SVB boa parte do seu funding que ainda não tinham trazido para sua operação no Brasil

O colapso financeiro do Silicon Valley Bank (SVB) mexeu com o mercado financeiro ao redor do mundo – foi considerada a maior falência de um banco desde a crise de 2008. Tinha mais de US$ 200 bilhões de ativos e era a principal instituição financeira de quase metade das startups de capital de risco nos Estados Unidos.

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Esse colapso acabou afetando muitas das maiores startups brasileiras também, pois detinham no SVB boa parte do seu funding que ainda não tinham trazido para sua operação no Brasil. Isso porque, além de ser uma referência da indústria, o SVB era um dos poucos bancos americanos que abria contas em dólar para “holdings” em Cayman – a estrutura geralmente exigida das startups para receber aportes de venture capital internacional.

A “boa” notícia frente ao desespero gerado é que, no caso das startups brasileiras , muitas conseguiram agir rapidamente e trazer seu dinheiro de volta para o Brasil, enquanto as demais foram menos prejudicadas devido à intervenção do governo americano para reduzir o impacto do colapso.

Avaliando esse cenário com lupa, pudemos identificar alguns aprendizados. Muitas startups – digo não somente brasileiras, mas também internacionais – não se atentaram à importância de diversificar o risco de caixa e acabaram ficando em uma situação vulnerável ao ter todo o dinheiro “preso” no SVB. Para piorar, mesmo após o governo americano garantir todos os depósitos no SVB, algumas das startups correram para abrir conta em qualquer outro banco ou fintech nos Estados Unidos, sem antes avaliar o risco institucional. Ou seja, agiram de forma reativa.

No caso das startups brasileiras, outro fator que pesa negativamente é o fato de que parte delas possui apenas uma conta bancária aberta no Brasil, o que é ocasionado, em muitos casos , pela burocracia envolvida na sua abertura para esse perfil de empresa. E vou além: uma boa fatia delas sofre da falta de conhecimento ou estratégia bem desenhada em relação a sua gestão de tesouraria .

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Para ter uma gestão eficiente e segura de tesouraria, a recomendação é que as startups adotem alguns cuidados, como estabelecer relacionamentos bancários com diversas instituições em cada região em que possui uma estrutura societária, o que inclui tanto os Estados Unidos quanto o Brasil – sendo pelo menos um deles com uma instituição financeira de grande porte. E, nesse sentido, manter em cada conta corrente um saldo suficiente para cobrir eventuais necessidades operacionais de caixa em caso de problemas com algum dos bancos, mas não mais do que US$ 250 mil nos EUA (assegurado pelo FDIC) e R$ 250 mil no Brasil (assegurado pelo FGC).

A palavra “estratégia” deve nortear todo esse caminho. Primeiramente, é fundamental adotar uma estratégia deliberada de investimento do funding que não vai precisar ser utilizado no curto prazo, priorizando segurança e liquidez acima de retorno. Para valores acima dos limites garantidos pelo governo, escolher títulos de baixíssimo risco, como é o caso dos Treasuries nos Estados Unidos, ou Tesouro Direto e CDBs pós-fixados de grandes bancos, é importante para evitar possíveis surpresas desagradáveis.

Adicionalmente, o controle de caixa é um dos pontos cruciais para que as empresas mantenham boa visibilidade da sua situação financeira e possam tomar decisões embasadas sobre gastos e seu impacto no runway (número de meses estimados antes de acabar o funding). Para tornar essa gestão eficiente, a Kamino conta com um software de gestão financeira que entrega uma série de benefícios, como a implementação de sistemas e processos que possibilitam o gestor financeiro ter uma boa visibilidade dos saldos das contas e de como está o fluxo de caixa – o chamado “burn”.

Ter a clareza dessas informações permite que a empresa dê passos importantes, como criar uma política de gastos para a organização– incluindo até mesmo alçadas de aprovação e limites pré-estabelecidos, alinhados com seu orçamento, e conciliando o “realizado” contábil com a movimentação de caixa nas contas bancárias.

A eficiência na gestão do caixa proporciona uma condição financeira mais saudável para as startups, reduzindo a necessidade de buscar financiamento externo. Isso se torna um ponto crítico em um momento de tanta incerteza e pressões no mercado, no qual as condições de funding ficarão bem mais restritas – tanto no lado de dívida (venture debt ou financiamentos) quanto de equity (via venture capital). .

Em paralelo, as startups devem redobrar a atenção com a questão da segurança digital. Em momentos de fragilidade como o atual, muitos criminosos aproveitam a oportunidade para entrar em ação – cuidado com phishing e reduza os riscos cibernéticos! Finalmente, m anter uma boa comunicação com seus principais stakeholders é a cereja do bolo para evitar que situações inesperadas como o colapso do SVB abale as estruturas da empresa. As cartas devem estar sempre na mesa e seguindo uma estratégia bem fundamentada.

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Nota

Os textos e opiniões publicados na área de colunistas são de responsabilidade do autor e não representam, necessariamente, a visão do Suno Notícias ou do Grupo Suno.

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