Clever Leaves vê Brasil como mercado perfeito para cannabis medicinal

O mercado de cannabis é uma das novas atrações abertas recentemente a investidores de todo o mundo, em meio à grande demanda pelo produto, que pode passar tanto pelo uso recreativo quanto medicinal. De olho nesse crescimento, a Clever Leaves, empresa colombiana de canabinóides para uso medicinal e listada nos EUA, chega ao Brasil de olho no “mercado perfeito”.

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Para o diretor-presidente (CEO) da Clever Leaves, Kyle Detwiler, o País tem um potencial enorme devido ao porte do setor farmacêutico e à demanda por medicamentos.

“O Brasil, para nós, é o mercado perfeito porque a cannabis entrará no setor farmacêutico. Não será como o álcool ou o tabaco. Serão, necessariamente, solicitadas prescrições, certificados e selo de alta qualidade de produção. Esse tipo de coisa que te deixa animado para entrar no mercado”, disse.

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O mercado brasileiro para esse tipo de produto ainda está em estágio embrionário. Em dezembro de 2020, a Anvisa aprovou a criação de uma nova categoria de produtos derivados de cannabis, que entrou em vigor em março deste ano. Só a partir de então, empresas interessadas em fabricar e comercializar esses produtos puderam solicitar o pedido de autorização à agência para operar no mercado brasileiro.

A companhia, que tem o cultivo ecologicamente sustentável de larga escala e o processamento de qualidade farmacêutica como pilares de seu negócio global de canabinóides, começou a desembarcar no Brasil após a mudança da legislação.

No ano passado, a Clever Leaves teve lucro de US$ 12,1 mihões -alta de 55% ante um ano antes e possui operações nos EUA, Canadá, Colômbia, Alemanha e Portugal, além do Brasil. A companhia atua em três segmentos: cultivo e extração da cannabis e marcas de consumo de produtos ao consumidor final; fornecimento como atacadista de canabinoides para empresas em todo o mundo; e empresa investidora em outras companhias do mercado.

Após firmar acordos com empresas com atuação no Brasil como Phytolab Entourage, Verdemed e Greencare, começou a operar no País em janeiro deste ano por meio de parceria na qual a companhia  fornece os insumos e as empresas brasileiras finalizam a industrialização e comercializam a partir de marcas próprias.

Para Detwiler, o mercado brasileiro pode chegar a milhões de consumidores de produtos farmacêuticos produzidos com cannabis.

“Se considerarmos a população do Brasil de 200 milhões de pessoas, vamos assumir que 2,6 milhões de pessoas por ano poderiam estar usando os produtos”, afirmou. Segundo a ­Green Hub, aceleradora brasileira de startups de Cannabis, apenas no Brasil essa indústria pode movimentar outros R$ 4,6 bilhões nos próximos dois anos.

O CEO também chama a atenção para a possibilidade de arrecadação da União nesse novo mercado. Segundo ele, alguns estados nos EUA já arrecadam mais com a cannabis do que com o álcool, por exemplo.

“A demanda dos EUA é muito alta. Nos últimos meses, só para te dar uma ideia, no estado de Illinois a receita fiscal da venda de cannabis é agora maior do que a receita fiscal do álcool”, disse.

Em dezembro do ano passado, a Clever Leaves começou a negociar na Nasdaq após fechar um dos maiores SPAC (Special Purpose Acquisition Company, em inglês) de canabinóide em 2020. Segundo Detwiler, o mercado de cannabis só está começando nas Bolsas pelo mundo.

“Eu acho que a vertente do negócio da Clever provavelmente é o negócio de hoje e de amanhã. Quando os EUA legalizam e mais países permitem a terapia com cannabis, é de verdade um grande momento para a Clever e para outros produtores no mundo”, disse.

Confira a entrevista exclusiva de Kyle Detwiler, CEO da Clever Leaves ao SUNO Notícias:

-Como a companhia trabalha no mercado brasileiro e qual é o objetivo de vocês?
Nosso modelo de negócio é realmente trazer um baixo custo para a terapia com cannabis para o resto do mundo. Isso vem de uma mentalidade ocidental de que você pode produzir bons produtos, com baixo custo, mantendo a mesma qualidade e consistência, então o nosso objetivo é realmente trazer esse produto para todos.

O Brasil, para nós, é o mercado perfeito porque a cannabis entrará no setor farmacêutico. Não será como o álcool ou o tabaco. Serão, necessariamente, solicitadas prescrições, certificados e selo de alta qualidade de produção. Esse tipo de coisa que te deixa animado para entrar no mercado.

É muito difícil produzir alta qualidade de produtos farmacêuticos com cannabis, então quando olhamos para mercados como Brasil, Alemanha, Austrália, não é só a produção desse ingrediente, esse processo todo é muito bem sustentado e vendido em vários países.

-Qual o tamanho do mercado brasileiro atualmente?
É difícil até de falar sobre números sobre o mercado brasileiro porque estamos no início, mas nosso objetivo é chegar em experts que entendam diferentes tipos de terapias, diferentes formas de atrair pacientes ou consumidores para os seus benefícios. E nós providenciamos os produtos para que eles possam ir e fazerem o marketing para aumentarmos a presença por aqui.

-A Anvisa mudou as regras sobre os produtos de cannabis no Brasil há alguns meses. Como isso afeta a Clever Leaves? Isso seria uma oportunidade para vocês?
Sim, com certeza. Isso surpreendeu muitas pessoas. A Clever não participa ativamente desse mercado em alta escala hoje, trabalhamos de forma pequena, mas as regulações da Anvisa mostram uma nova era, o famoso protocolo RDC 327 [nova resolução da Anvisa que autoriza produtos de cannabis para fins medicinais] de certa forma, se alinha com o que eu descrevi para você antes.

A Clever produz produtos farmacêuticos muito bons. Para um regulador de produtos farmacêuticos, como a Anvisa, que estabelece protocolos que simulam outros farmacêuticos, não há ainda dados clínicos suficientes e isso acontece porque a cannabis não é legal há tempo suficiente.

De qualquer forma, nós não queremos que as regras sejam mais baixas, ou que a qualidade tenha que ser menor só porque o produto é novo. Pacientes estão consumindo estes produtos, então o RDC 327 é uma boa forma para um país começar a jornada da cannabis sem impor os tradicionais padrões de testes clínicos. Nós tivemos evidências dos testes com outros produtos, sabemos que eles funcionam, mas se você for esperar cinco anos para ter esses resultados você acaba com o objetivo social de permitir que a população participe.

O RDC 327 é para o que realmente estamos prontos, mas ele tem uma ‘duração de vida’ e, em algum momento, terá que mudar e a Clever estará muito bem situada também.

-O Brasil tem um grande mercado em agro. No futuro vocês pensam em começar a produzir aqui no país?
É totalmente possível. Claro que estará também nas mãos do governo brasileiro e das pessoas, sobre o tanto que elas querem que isso se torne uma realidade.  Por enquanto, minha suspeita é que Clever trabalhará em parceria com um grupo brasileiro local.

Mas tenha em mente que a Clever começou as operações em 2016, conseguiu um bilhão de dólares de capital, então mesmo que haja uma autorização doméstica para produção, se nós quisermos que a indústria seja bem-sucedida, ainda é importante ter certeza que você está ‘pegando o caminho rio abaixo’ porque se você trocar as indústrias e voltar o foco para a produção, as pessoas gastarão cinco anos para só chegar no ponto que a Clever está hoje.

Então eu espero que as pessoas estejam mais focadas no objetivo final – que é conseguir colocar as terapias nas mãos de diferentes pacientes – do que criar mais licenças ou mais suprimentos do que precisamos agora.

-Qual o tamanho do mercado brasileiro hoje e no futuro daqui alguns anos?
Eu não tenho os dados agora porque estou sem meu computador, mas darei minha opinião. Nos EUA você tem milhares que estão usando remédios de cannabis. O preço médio para esses remédios no geral nos EUA é mais ou menos 5 dólares a grama.

Então se usarmos a população do Brasil 200 milhões de pessoas, vamos considerar que 2,6 milhões de pessoas por ano poderiam estar usando os produtos.

-O que os investidores podem esperar da empresa? A indústria de cannabis é o futuro?
Eu acho que, em meio a tantos certificados e leis, isso é uma coisa que novas empresas de cannabis, especialmente na América Latina, vão ter muitas dificuldades. [Essas novas empresas] não terão esse tipo de transparência que a Clever tem por conta das normas da SEC [órgão regulador do mercado de capitais nos EUA] e isso dá muita confiança para os investidores.

Então eu acho que a vertente do negócio da Clever provavelmente é o negócio de hoje e é o negócio de amanhã. Quando os EUA legalizam e mais países permitem a terapia com cannabis é, de verdade, um grande momento para a Clever e para outros produtores no mundo.

Mas os países ainda estão desenvolvendo regulações para importações e exportações em um passo muito muito lento, então, agora, nós estamos trabalhando nessas mudanças e ficando melhores a cada ano.

Por exemplo, vou te dar um bom ponto de informação. No primeiro ano que nós começamos a operar na Colômbia, em 2018, e iniciamos a produção, o processo levou mais da metade do ano. E neste ano, a gente conseguiu nos primeiros meses do ano fazer a mesma operação, tudo está mais rápido agora, não está perfeito, porque muitas coisas estão sendo feitas pela primeira vez. Relembrando, a Clever é a primeira empresa na história da Colômbia a legalmente comercializar e produzir cannabis.

-Nós estamos vendo muitas indústrias entrarem nesse mercado agora. Não existe muita oferta do produto atualmente?
Bom, a demanda dos EUA é muito alta. Nos últimos meses, só para te dar uma ideia, no estado de Illinois, a receita fiscal da venda de cannabis é agora maior do que a receita fiscal do álcool.

Hoje a indústria de cannabis é maior do que a indústria de álcool. São dois processos: passar do ilegal para o uso legal é o primeiro passo. Já o segundo é convencer pessoas ou pacientes que essa nova terapia pode trazer benefícios para eles, o que deve continuar a desenvolver a indústria.

-O Brasil tem uma sociedade conservadora. Você acha que esse comportamento da sociedade brasileira pode ser algo negativo para a entrada de vocês no mercado?
A última coisa que queremos ver é alguém usar cannabis e se machucar. Por sorte, os dados são bem claros: álcool e tabaco são bem mais devastadores estatisticamente do que a cannabis, mas ainda existem as propagandas que eram usadas contra a cannabis há quase um século. Então é muito importante que andemos para frente.

Eu acredito no poder da planta, eu vejo os dados, vejo o impacto na vida das pessoas, na minha vida, na vida da minha família e na de outros amigos.

Eu não acho que seja errado para uma sociedade ser trepidante, mas converse com amigos que vão para quimioterapia ou outras formas dessas terapias. A cannabis é uma verdadeira ajuda para pessoas assim ou para amigos que têm filhos que possuem epilepsia, por exemplo, então há evidências para mostrar que a Clever Leaves pode ajudar essas pessoas.

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Vinicius Pereira

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