BYD quer liderar reindustrialização automotiva no Brasil e aposta em carro híbrido com etanol

A transição energética passa pela reindustrialização — e a BYD quer liderar esse movimento no Brasil. A montadora chinesa, que já entregou 60 ônibus elétricos para a cidade de São Paulo e prepara um carro híbrido flex com etanol, vem ampliando sua presença local e projeta forte expansão.

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“O Brasil é hoje nosso principal mercado fora da China”, afirmou Pablo Toledo, diretor de marketing e sustentabilidade da empresa, durante painel na XP Expert 2025, evento da XP realizado nesta quinta-feira (25).

Segundo ele, a fábrica em construção em Camaçari (BA) será um marco para essa nova fase. “A partir de Camaçari, vamos ver uma transformação brutal. Vamos oferecer um produto muito diferente.”

Em 2022, a empresa vendeu apenas 260 carros no país. Em 2023, esse número saltou para 18 mil. No ano seguinte, 2024, chegou a 70 mil unidades. Já em 2025, até julho, foram emplacados 52 mil veículos. Além de carros, a BYD também atua com trens, semicondutores e infraestrutura de recarga, em uma estratégia de mobilidade elétrica “360º”.

Etanol e eletricidade: um carro limpo com DNA brasileiro da BYD

Entre os próximos lançamentos, está um modelo híbrido com motor flex, que combina bateria, eletricidade e etanol. “Estamos desenvolvendo esse carro com engenheiros brasileiros e chineses há mais de um ano. Vai ser uma solução 100% limpa, como o motorista brasileiro nunca viu”, afirmou Toledo.

Ele defendeu que etanol e carro elétrico não são rivais, e que a lógica de uso deve seguir o modelo chinês: veículos 100% elétricos para curtas distâncias urbanas e híbridos para percursos mais longos.

Mobilidade aérea elétrica deve começar no Brasil em 2027

No mesmo painel, Johann Bordais, CEO da Eve Air Mobility, afirmou que os primeiros voos comerciais com eVTOLs — veículos elétricos de decolagem e pouso vertical — devem acontecer no Brasil a partir de 2027. “Os brasileiros devem ser os primeiros do mundo a experimentar a mobilidade aérea elétrica.”

A Eve é um spin-off da EmbraerX, listada na Bolsa de Nova York desde 2022. Com fábrica em Taubaté (SP), a empresa trabalha com um cronograma de certificação junto à ANAC e já conta com mais de mil engenheiros dedicados ao projeto.

O veículo será operado por um piloto e comportará até quatro passageiros. A autonomia inicial é de 100 km, e a meta é realizar até 15 voos por dia com carregamento rápido (1 minuto de voo para 1 minuto de carga). Os desafios incluem regulamentação, adaptação de heliportos, definição de rotas e pontos de energia — além da aceitação pública.

A meta da Eve é colocar 30 mil eVTOLs em operação nos próximos 20 anos. O plano prevê, no futuro, voos autônomos e o desenvolvimento de sistemas de gerenciamento de tráfego de baixa altitude. “A mobilidade urbana elétrica vai acontecer. A questão é quando”, disse Bordais. “Vamos passo a passo.”

Na BYD, o foco está na massificação dos eletrificados. A empresa acredita que o carregamento ultrarrápido (flash charger) será essencial para popularizar os modelos. Hoje, há 14.800 pontos de recarga ativos no país — 1.700 da própria BYD. Mas o gargalo, segundo Toledo, ainda está na infraestrutura de distribuição de energia.

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Incentivos e combate à desinformação

Para os executivos, incentivos como isenção de IPVA e políticas públicas para o transporte coletivo — um dos principais emissores — são fundamentais. Toledo também alertou para o crescimento da desinformação à medida que o mercado evolui. “Quando a concorrência percebeu nossa força, começaram a circular fake news. Faz parte da nossa missão combater isso.”

Para a BYD, o Brasil ainda tem uma demanda reprimida relevante no setor automotivo, com espaço para crescimento sustentável. Antes da pandemia, o país registrava cerca de 3 milhões de veículos vendidos por ano; atualmente, esse volume gira em torno de 2,5 milhões. A reindustrialização do setor, segundo Toledo, é não apenas necessária como uma oportunidade histórica. 

“Temos apetite para liderar esse processo. A partir de Camaçari, vamos poder entregar um produto muito diferente, com tecnologia limpa, adaptada à realidade brasileira”, afirmou. A aposta vai além do automóvel particular: a empresa atua também em trens, ônibus e desenvolvimento de chips e semicondutores, com a visão de integrar toda a cadeia da mobilidade limpa.

Infraestrutura de energia ainda é gargalo para a eletrificação

Apesar da vantagem comparativa brasileira na geração de energia limpa — com forte presença de fontes hídrica, solar e eólica —, Toledo destacou que o país ainda enfrenta desafios para distribuir essa energia com eficiência. Para ele, a rede de recarga será um setor econômico em si, com potencial de atrair diversos modelos de negócios e investimentos. “Até 2028, queremos não só liderar comercialmente, mas também liderar a narrativa da eletrificação no Brasil.”

No caso da Eve, os desafios vão além da engenharia. Embora o projeto de eVTOLs da empresa esteja avançado — com mais de mil engenheiros envolvidos na certificação e fábrica instalada em Taubaté (SP) —, Johann Bordais reforçou que o sucesso da mobilidade aérea urbana vai depender da construção de um ecossistema robusto. 

“Não basta entregar o veículo. É preciso criar rotas, adaptar heliportos, garantir a segurança, pensar no conforto do passageiro”, disse o executivo da BYD. A primeira etapa será com pilotos humanos e autonomia de 100 km por voo, mas a empresa já projeta o desenvolvimento de softwares de controle aéreo e, no futuro, voos autônomos. “Queremos colocar 30 mil aeronaves em operação nas próximas duas décadas. A questão não é se vai acontecer. É quando. E isso exige que a população confie e que as autoridades avancem junto”, afirmou.

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