Bancos devem registrar aumento na inadimplência já no 1T21

Tradicionalmente, os principais bancos abrem a temporada de resultados corporativos no Brasil. Os números das instituições são úteis para a identificação das tendências econômicas do País e o comportamento de consumo dos clientes, sobretudo no que se refere à capacidade de cumprimento de obrigações. A falta dela, por outro lado, ocorre em inadimplência.

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No fim do ano passado, os bancos tiveram as taxas mais baixas da história no índice de inadimplência acima de 90 dias. Isso foi alcançado por conta de uma série de renegociações, estimuladas pela crise da pandemia do novo coronavírus (Covid-19), além do auxílio emergencial que vigorou por 9 meses no País.

No entanto, as maiores instituições do Brasil, em seus balanços do trimestre passado, passaram a estimar um aumento na inadimplência, já a partir do começo de 2021. Isso pode ocorrer pela falta de liquidez entre os clientes, ou seja, o menor acesso a benefícios fiscais do governo, como por conta de uma lenta recuperação econômica.

O SUNO Notícias conversou com profissionais do mercado para levantar quais são expectativas para o aumento dos calotes neste ano, e como isso impacta na operação dos grandes bancos.

Inadimplência pode preocupar os bancos?

Os analistas consultados pelo SUNO Notícias concordaram com a visão preliminar dos bancos de que o índice de inadimplência acima de 90 dias pode aumentar nos próximos resultados, a começar já no primeiro trimestre deste ano.

“Nos balanços do quarto trimestre foi possível ver sinais de deterioração nos indicadores de 90 dias, que deve ser ainda mais evidenciado no primeiro trimestre deste ano”, disse José Falcão, especialista em renda variável da Easynvest.

“Além dos efeitos sazonais, o fim da ajuda do governo deve contribuir para elevar os calotes, porém os bancos estão cientes e bem preparados com os últimos provisionamentos bilionários realizados no decorrer de 2020”, afirmou.

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Segundo uma pesquisa da Federação Brasileira de Bancos (Febraban), divulgada na última segunda-feira, os bancos esperam que os calotes devam subir em relação ao final de 2020, quando atingiram patamares mínimos recordes.

As instituições, no momento, estimam que a taxa de inadimplência para o crédito concedido com recursos livres, sem estímulos do governo, deve chegar a 3,7% no fim do ano, ante 2,9% registrado em dezembro. Caso a previsão se confirme, o índice voltará ao nível do último mês de 2019, período antecedente à pandemia.

Vale lembrar que o governo tem avaliado a renovação do auxílio emergencial, inclusive com a criação de um “imposto temporário e emergencial” para custear o programa.

O presidente Jair Bolsonaro disse que o auxílio emergencial deve voltar em março.

Em linhas consensuais, as instituições entendem que as Provisões para Devedores Duvidosos (PDD) estão em patamares sustentáveis com o cenário econômico, e que não devem ser demandadas mais reservas extraordinárias, mesmo as incertezas sobre a inadimplência.

Segundo Victor Martins, da corretora Planner, não só o movimento de renegociações colaborou para o baixo índice no trimestre passado, mas também o volume de crédito que foi muito bem.

As operações de crédito de dezembro do ano passado, segundo o Banco Central (BC), foram sólidas. O sistema de crédito avançou 15,5% em 2020, em comparação a um alta de 6,5% registrada em 2019, na mesma base comparativa.

“Para este ano, não vejo um crescimento do sistema de crédito no mesmo nível, mas talvez de 7% ou 8% — ainda acima de 2019”, e em função disso, “não há nada que indique que as provisões extraordinárias devam voltar no curtíssimo prazo, mesmo com a segunda onda da pandemia”, afirmou Martins.

E não para por aí: o bolso dos investidores deve agradecer se as provisões forem revertidas em forma de proventos. No fim do ano passado, o Conselho Monetário Nacional (CMN) autorizou o setor bancário a distribuir mais dividendos, flexibilizando a medida de restrição de pagamentos tomada em abril.

Com isso, o Banco do Brasil (BBAS3) já anunciou que elevará o seu payout, a parcela do lucro líquido que é distribuída aos acionistas. Em 2021, a distribuição deve ser 41% dos ganhos auferidos, contra 28,75% dos últimos 12 meses e 35,43% na média dos últimos cinco anos. Também está previsto o pagamento de R$ 1,23 bilhão em juros sobre capital próprio (JCP).

Falcão, da Easynvest, diz que o consenso do mercado, o qual concorda, “é de que os bancos devem ter um crescimento de 25% no lucro em 2021 em comparação com 2020, considerando uma queda de 20% nas provisões daqui para frente”.

Martins, por outro lado, espera um crescimento de lucro e rentabilidade do setor bancário na mesma linha, mas ainda abaixo do período pré-pandemia. Em 2019, a soma dos lucros dos quatro maiores bancos do País atingiu R$ 87,77 bilhões, maior patamar na história.

BANCOLUCRO LÍQUIDO RECORRENTE 2020X 2019ROAE
ITAÚ R$ 18,53 BILHÕES-34,6%14,5%
BRADESCOR$ 19,45 BILHÕES-24,8%14,8%
SANTANDERR$ 13,84 BILHÕES-4,8%19,1%
BANCO DO BRASILR$ 12,69 BILHÕES-30%12%

Alta da Selic à vista

Outro aspecto de grande relevância para a economia, e que acaba por influenciar os negócios dos bancos, é o movimento da taxa básica de juros da economia (Selic).

Por conta da recente alta da inflação, o Comitê de Política Monetária (Copom) interrompeu a sequência de cortes e deve elevar a taxa, que está na mínima histórica a 2%, a partir da próxima reunião em março.

E é assim que pensam as grandes instituições; o ciclo de alta deve ser iniciado já na próxima reunião, no início de março, não em agosto como esperado inicialmente.

Com isso, por um lado, as despesas com captação de recursos do bancos são elevadas, já que precisam oferecer taxas maiores aos clientes pelas seus investimentos.

Em contrapartida, suas receitas também crescem, sobretudo as oriundas das aplicações em Títulos e Valores Mobiliários (TVM) e das aplicações ou depósitos compulsórios no Banco Central que são, em parte, remunerados pela taxa de juros básica.

Mesmo assim, o especialista da Easynvest prevê um impacto positivo pequeno nos números do setor bancário com a alta da Selic, pois enxerga as instituições focadas em outras linhas de negócios.

“Mesmo com a previsão de alta da Selic, em torno de 1,5 ponto este ano, deve beneficiar pouco as margens dos bancos no curto prazo, já que eles têm focado em linhas com juros menores, como consignado e crédito imobiliário”, disse.

Segundo o Boletim Focus, divulgado pelo BC na última segunda-feira (8), a Selic deve encerrar este ano em 3,5%. Para o ano que vem, a previsão média dos 100 maiores bancos do País estima que a taxa de juros deva encerrar 2022 em 5%.

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Jader Lazarini

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