Afinal, quanto vale um Bitcoin?

No último sábado (2) o Bitcoin (BTC) ultrapassou pela primeira vez na história a marca dos US$ 30 mil (cerca de R$ 160 mil).

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No ano passado, a criptomoeda acumulou uma alta de quase 200%, sendo que apenas nos últimos três meses do ano valorização do Bitcoin foi superior a 100%.

Entretanto, após essas fortes altas, muitos se perguntam: afinal, quanto vale um Bitcoin?

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Uma das principais dúvidas sobre o valor da criptomoeda é atrelado a sua enorme volatilidade. Por exemplo, há três anos, em dezembro de 2017, o valor do Bitcoin havia chegado a US$ 20 mil para colapsar poucos meses depois e cair até US$ três mil.

Nessa virada de ano, entretanto, o contexto parece ter mudado. O mundo das finanças tradicionais, que até poucos anos atrás fazia questão de ficar distanciado do Bitcoin, aparentemente decidiu investir pesado na criptomoeda.

Entre aqueles que mudaram de opinião está o banco americano J.P. Morgan. No dia 13 de setembro de 2017, o CEO Jamie Dimon declarou categórico que ” os Bitcoins são uma farsa. Não é uma coisa real, no final vai acabar”.

Todavia, em um relatório publicado no início de dezembro de 2020, os estrategistas do banco de investimento parecem ter mudado de ideia, pois indicaram que o ouro pode sofrer no longo prazo por causa de um reposicionamento dos gestores em favor do Bitcoin.

“A adoção do Bitcoin por investidores institucionais apenas começou, enquanto para o ouro está em estágio avançado”, aparece no documento do J.P. Morgan.

Que a narrativa do Bitcoin mudou profundamente também aparece claramente nas palavras de Rick Rieder, ou seja, da BlackRock, a maior gestora de recursos do mundo: “O Bitcoin veio para ficar”.

E a alta também foi favorecida pelo Paypal que a partir desse ano vai permitir que o Bitcoin seja utilizado como meio de pagamento para seus usuários norte-americanos.

Resumindo, de pária do mercado, o Bitcoin parece que se tornou a bola da vez. E está na boca de todos os grandes nomes do mercado financeiro.

Mas será que vale a pena investir em Bitcoin?

Segundo os analistas do Citibank, o preço da criptomoeda deverá chegar por volta de US$ 300.000 até dezembro de 2021.

De acordo com Raoul Pal, ex-gerente de portfólio do Goldman Sachs, o preço pode chegar a US$ 1 milhão em 5 anos.

Hoje é quase impossível encontrar um analista que acompanhe o setor e que se expresse negativamente sobre o Bitcoin. Ou apenas que indique, como acontecia até recentemente, que se trata de uma bolha.

Bitcoin não é uma empresa. Não tem orçamento e, portanto, é difícil, senão impossível, fazer uma avaliação precisa desse ativo.

Se partirmos do valor intrínseco, que é aquele atrelado aos custos de mineração do Bitcoin, constituído principalmente de energia elétrica, hardware e software, podemos deduzir um custo médio indicativo que varia entre US$ 10 mil e US$ 14 mil. A partir deste ponto, modelos podem ser desenvolvidos para tentar supor o valor que o Bitcoin poderia alcançar ao longo do tempo.

Entre os analistas da criptomoeda, é muito popular o modelo stock to flow, utilizado para medir o efeito escassez, uma das características mais importantes do Bitcoin e pela qual pode ser comparado ao ouro.

O stock to flow é a relação entre a quantidade total extraída de uma matéria-prima (stock) em relação ao que é adicionado a cada ano (flow).

Quanto maior esta relação, mais escassez existe. O ouro tem um stock to flow de 65, a prata 22, o paládio 1,1. O Bitcoin, após o último halving de maio (redução pela metade da quantidade extraível diária de 12,5 para 6,25 Bitcoin) tem um stock to flow de 55.

Portanto, a criptomoeda já está muito próxima do ouro e com toda probabilidade irá superá-lo em quatro anos, quando haverá o próximo halving.

A essa altura, o Bitcoin se tornará provavelmente o ativo mais escasso do mercado.

De acordo com o modelo stock to flow e tendo em conta que até esse momento foram extraídos pouco mais de 18,5 milhões de um total máximo já fixado em 21 milhões de Bitcoin, pode-se presumir que a criptomoedapoderá atingir o valor de US$ 55 mil em 2021, surfando na onda do efeito escassez.

Escasso quanto o ouro?

Quando o código da criptomoeda foi lançado, na madrugada de 8 de janeiro de 2009, seu criador, o japonês Satoshi Nakamoto tentou explicar o valor de sua obra dessa forma: “Fazendo um experimento mental, imagine que exista um metal comum tão raro quanto o ouro, mas com as seguintes propriedades: com uma cor cinza fosca, mau condutor de eletricidade, não particularmente forte, inútil para fins práticos ou ornamentais e uma propriedade mágica especial: pode ser transacionado em um canal de comunicação”.

Há quem vá mais longe e saliente como, ao aplicar um modelo de avaliação ligado à estrutura cíclica do Bitcoin e às leis do poder, ao final do último halving em 2140, o Bitcoin possa até valer um milhão de dólares.

Outro cálculo exemplifica o valor potencial da criptomoeda. Por exemplo, se todos os Bitcons existentes hoje – cerca de 18,577 milhões – tivessem o mesmo valor de todo o ouro já extraído no mundo (197.000 toneladas moltiplicado por US$ 60.000 o quilo), cada criptomoeda deveria valer US$ 636 mil. Portanto, se o Bitcoin tivesse um valor igual a 5% do valor do ouro, chegaria a um preço de US$ 30 mil. Exatamente o seu valor atual.

Outro método utilizado para calcular o valor potencial do Bitcoin é obtido pela aplicação da teoria de Markowitz, a primeira a introduzir o conceito de correlação entre ações para a construção de uma carteira com o objetivo de minimizar riscos e maximizar lucros.

Se pegarmos um modelo de diversificação de Markowitz e assumirmos que apenas 2% dos ativos atuais sob gestão global, que somam US$ 100 trilhões, são investidos em Bitcoin, percebemos que sua capitalização pode chegar a US$ 2 trilhões.

Isso levaria a valorização de cada Bitcoin em US$ 100 mil.

Outro impulso para o crescimento do Bitcoin está vindo da popularização dos Exchange Trade Notes (Etn) (notas comerciais de troca, o equivalente a um Etc do ouro).

Esse produtos financeiros têm o Bitcoin como base e permitem que investidores pessoas físicas possam investir em criptomoedas com lotes mínimos, sem ter que comprá-las diretamente.

Políticas expansionistas monetárias globais ajudam a alta

Outra questão a ser considerada para melhor entender o andamento do Bitcoin são as políticas monetárias extremamente expansionistas dos bancos centrais globais.

Esse afrouxamento quantitativo global, iniciado para contrastar os efeitos da pandemia do novo coronavírus sobre a economia real, levou a uma injeção de liquidez sem precedentes no sistema.

Isso nada mais faz do que rebaixar o valor potencial das moedas em benefício daqueles ativos, como ouro e Bitcoin, que incorporam o efeito de escassez e, portanto, são deflacionários por natureza.

É verdade que hoje, ainda mais do que o recorde de três anos atrás, o Bitcoin parece mais forte, mais estruturado e cada vez mais presente também nas finanças tradicionais.

E mais gente investe no Bitcoin, mais o preço da criptomoeda sobe, mais pessoas se interessam, e mais empresas decidem permitir seu uso para transações.

E essa situação poderia se transformar em uma profecia autorrealizável. O tempo parece jogar a favor do Bitcoin.

Mas a pergunta que todos também se fazem é: o que poderia dar errado?

E e se a criptomoeda fosse atacada por governos? Será este o cisne negro do Bitcoin?

Essa hipótese, por quanto possível, parece difícil de acontecer. Ao contrário, com suas ações os governos parece dar legitimidade para a moeda. Por exemplo, o governo dos EUA já leiloou Bitcoins apreendidos de criminosos.

O tempo e a matemática, portanto, parecem jogar a favor do Bitcoin. Mas é preciso prestar atenção. Ninguém sabe exatamente quanto a criptomoeda valerá em um, cinco ou dez anos. A única certeza é que seu preço, se a experiência continuar, dependerá da mais antiga lei da economia: o equilíbrio entre oferta e demanda.

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Carlo Cauti

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