Como investir com a Selic em 15% ao ano? Veja análises do mercado

O Comitê de Política Monetária (Copom) decidiu aumentar a taxa Selic para 15% ao ano, numa decisão em linha com as expectativas de parte dos analistas de mercado — muitos projetavam a manutenção da taxa em 14,75%. A decisão reforça o tom cauteloso do Banco Central diante dos riscos inflacionários e incertezas fiscais, embora tenha sinalizado que o ciclo de alta pode ter chegado ao fim.

Para Leonardo Garcia, analista de FIIs e Fiagros na TRX Investimentos, a decisão sinaliza prudência por parte do BC. “A mudança na taxa Selic impacta diretamente os fundos imobiliários de papel indexados ao CDI. Para aqueles cujas carteiras estão majoritariamente atreladas a índices inflacionários, os juros elevados representam um risco de deterioração dos resultados, uma vez que a Selic alta é um instrumento utilizado para controlar a inflação.”

Nos fundos de tijolo, o impacto aparece no custo da dívida e nas novas emissões, que ficam mais caras nesse ambiente.

Neste cenário, investimentos de renda fixa indexados à Selic continuam sendo destaque, especialmente para investidores que buscam segurança e previsibilidade. ETFs como o LFTS11, com exposição total ao Tesouro Selic, e o LFTB11, que combina Selic com NTN-B 2060, aparecem como boas alternativas no radar dos analistas.

Além da renda fixa tradicional, o cenário de juros altos também reacende o debate sobre diversificação com ativos globais. A valorização do real frente ao dólar, estimulada por taxas elevadas, pode ser uma oportunidade para dolarizar parte da carteira. ETFs como o WRLD11, com exposição a mais de 9 mil empresas globais, e o GPUS11, que replica o S&P 500, aparecem como alternativas.

Fundos imobiliários podem reagir com atraso, mas seguem atrativos

Especialistas mantêm uma visão construtiva para os FIIs no médio e longo prazo. “O momento ainda oferece excelentes oportunidades. Existem segmentos descontados, mas com fundamentos sólidos e dividend yields elevados”, aponta Garcia.

https://files.sunoresearch.com.br/n/uploads/2023/03/1420x240-Investindo-no-exterior.png

Para Marcos Freitas, sócio e CIO da AZ Quest, o mercado já começa a precificar uma virada no ciclo. “Se por um lado a Selic está alta e deve continuar assim por um tempo, por outro as expectativas são de queda. O mercado já olha para isso e antecipa movimentos nos preços dos ativos”, comenta.

Segundo Freitas, os fundos imobiliários costumam reagir mais lentamente às mudanças na política monetária. “Há um atraso na reação das cotas dos FIIs quando comparados a outras classes. A maior parte dos ativos responde de forma mais imediata à queda esperada dos juros, enquanto os FIIs demoram mais para refletir esse movimento”, afirma.

Ainda assim, o desempenho do IFIX em 2025 já dá sinais de retomada. “Houve uma melhora significativa no índice neste ano, e a expectativa agora é de continuidade”, conclui Freitas.

O ciclo de alta da Selic deve acabar, mas o governo não pode “atrapalhar”

Na visão de André Muller, estrategista e economista da AZ Quest, a política monetária tem cumprido o seu papel, com os juros em um patamar bastante restritivo. Até um tempo atrás, havia alguma desconfiança se de fato a política monetária estava gerando efeitos. “Isso ocorreu em um ambiente de crescimento que seguia surpreendendo para cima”, comenta o economista.

Para que o ciclo de alta da Selic se encerre, Muller comenta a importância do governo também fazer sua parte, no sentido de que a “política fiscal deve manter uma postura neutra, sem aceleração das despesas”. Tudo isso certamente teria repercussão sobre a própria condução da política monetária.

https://files.sunoresearch.com.br/n/uploads/2023/04/1420x240-Planilha-vida-financeira-true.png

Vinícius Alves

Compartilhe sua opinião