PIB decepciona e sinaliza cenário desafiador para economia

A alta de 7,7% do Produto Interno Bruto (PIB) no terceiro trimestre de 2020, informada nesta quinta-feira (3) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) ficou abaixo do esperado pelo governo e sinaliza que a economia brasileira deve sofrer mais que o esperado neste ano.

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A projeção de crescimento do Ministério da Economia para o trimestre era de 8,3%. De acordo com especialistas ouvidos pelo SUNO Notícias, alguns resultados setoriais, principalmente o da agropecuária, que caiu 0,5%, não desempenharam da forma esperada no período, influenciando o desempenho do PIB como um todo.

“O resultado do agronegócio veio abaixo do que estávamos projetando, tínhamos uma projeção do PIB do agro crescendo 1% e veio uma queda de 0,5%. Isso foi um fator de surpresa”, disse Ricardo Jacomassi, economista-chefe da TCP.

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A economista-chefe da Reag Investimentos, Simone Pasianotto, que previa uma alta de cerca de 9% do PIB no período, destaca que dificuldade da retomada externa, aliada à sazonalidade do período, frustraram o resultado do agro.

“O que nos surpreendeu foi a queda do agro, que caiu 0,5%, enquanto a nossa projeção era 0,3% de alta. Depois, analisando agro, vimos que o consumo externo, que também foi afetado pela pandemia, não teve a mesma demanda que achávamos”, afirmou.

Além do agro, setor imobiliário ficou abaixo do esperado

Outro ponto negativo do PIB foi o setor imobiliário. Apesar da alta de 1,1% das atividades imobiliárias, a infraestrutura não evoluiu como os agentes do mercado previam, afetando o crescimento da economia.

“Ao longo do ano tivemos captações, emissões, IPOs, lançamentos. Olhando o número de forma mais aprofundada, o PIB da construção engloba todos os segmentos. Então, para nós, o que teve um desafio maior foi a questão da infraestrutura pois a parte residencial foi muito bem”, disse Jacomassi.

Para o economista-chefe da Necton, André Perfeito, a surpresa do resultado esteve no consumo das famílias, que subiu cerca de 7%, enquanto a gestora esperava uma alta de 10% anabolizada pelo coronavoucher.

“De fato a perspectiva era de uma alta maior, a mediana do mercado era de 8,7% e nossas estimativas eram ainda mais otimistas, em 11,2%”, disse, em nota.

“No entanto, a surpresa realmente negativa veio com o consumo das famílias que subiu 7,64% quando estimávamos uma alta em pelo menos 10%”,, afirmou, em nota.

PIB de 2020 deve ficar ainda menor

O resultado menor que o esperado no terceiro trimestre deve ajudar a reduzir as projeções para o PIB de 2020.

Para Ricardo Jacomassi, economista-chefe da TCP Partners, com o resultado divulgado nesta quinta, o PIB de 2020 deve cair -5,5% neste ano, ante 4,5% na projeção anterior.

A opinião é compartilhada por Simone Pasianotto, economista-chefe da Reag Investimentos. Para a economista, a economia brasileira deve sofrer um tombo mais forte do que o previsto.

“Estamos com uma projeção mediana de queda em torno de 5%, antes ficava em 4,7%”, disse sobre o PIB.

Para André Perfeito, da Necton, com o resultado pior de 2020, a Selic deverá ficar em um patamar baixo por mais tempo.

“Se confirmado este cenário devemos ter o PIB deste ano ficando em -5% e atrapalhando o carrego estatístico do ano que vem. A atividade fraca deve incentivar a leitura de juros baixos por mais tempo e apesar da economia não ir tão bem quanto esperado juros em queda podem retroalimentar bolsa em alta via fluxo de caixa descontado”, disse, em nota.

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Vinicius Pereira

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