Pandhora começa a tomar riscos em meio a crise do coronavírus

A aposta em uma análise sistemática, baseada em algorítimos, como forma de mitigar os riscos e, principalmente, a perda de dinheiro em momentos de crise é a base do pensamento do Pandhora.

Segundo o gestor do Pandhora, Isaías Lopes, os modelos do fundo apontaram para uma queda nas Bolsas antes de a crise causada pelo coronavírus (covid-19) chegar no Brasil.

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“Sem saber que a crise do coronavírus teria essa proporção, na semana do dia 17 de janeiro, 60% desses modelos começaram a ficar vendidos em Bolsa e comprados em dólar. Agora, alguns desses modelos estão começando a tomar risco direcional”, afirmou Isaías Lopes, gestor do Pandhora.

Para o gestor, apesar desse indicativo em relação a risco, o investidor brasileiro precisa melhorar a diversificação real da carteira para só então tomar riscos e, portanto, retornos maiores.

“Risco é risco. Você não pode tomar risco de qualquer jeito. Você precisa de uma diversificação direita, que você possa dormir sem dor de estômago, com uma parcela em fundo macro, outra em fundo sistemático, e assim por diante”, disse Lopes.

Confira a entrevista exclusiva do SUNO Notícias com Isaías Lopes, gestor do Pandhora:

-Me fale um pouco da história da Pandhora e quanto vocês tem sob gestão e um pouco da filosofia de investimentos da casa.
Fazendo um breve resumo, somos uma casa sistemática de sessões quantitativas. Temos R$ 400 milhões sob gestão em cinco diferentes produtos. Nossa história começa em 2016, embora pouco antes disso, lá me 2012, os sócios já se conheciam.

Quando ainda estávamos na universidade, eu desde sempre fui cartesiano, no sentido de querer entender as coisas numericamente. Sempre tive curiosidade para ver se as coisas de aula se aplicavam a vida real.

Nessas análises que eu fazia, o que me incomodava era porque o cara que corria risco lá atrás ganhava menos do que o gringo que comprava letra do Tesouro, livre de risco. E isso me colocou uma pulga porque acabava sendo uma divergência sobre aquilo que estava na academia e aquilo que acontecia.

Sabendo disso, o que eu explorava na época, era o que poderia ser feito para se ter o mínimo de previsibilidade de seu capital nos próximos 10,15, 20 anos.

De 1997 até hoje, quem aplicou Selic multiplicou nominalmente o capital em 20 vezes. Já quem investiu em ações, o capital seria remunerado em apenas oito vezes.

Mas, o que acontece com o mercado de capitais nesses momentos quando ele entra em pânico? Se você olhar por essa mesma janela, nesse mesmo período, em um exercício que você tira os ganhos negativos, e terá um retorno absurdo de mil vezes. Então o fato de você não ter os anos negativos da Bolsa, demonstra que mais importante do que você ganhar dinheiro no longo prazo, é preservar capital.

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A primeira regra do Warren Buffet é “não perca dinheiro”. A regra número dois é não esquecer a número um. Por isso, lá na faculdade, era isso que me incomodava.

Existe alguma sinalização ou maneira de saber quando não correr risco? Aí começamos a testar diversos approaches matemáticos e estatísticos para ver se há algum padrão. Na maior parte das coisas, elas não vão perdurar no longo prazo.

No Pandhora, precisamos de cerca de 20 anos para validar o método de investimento. A ideia de um modelo quantitativo nada mais é do que passar o princípio científico para validar uma ideia.

O que fazemos no Pandhora é ser cético em relação às coisas. Sempre questionar e levantar hipóteses através do método científico. Por fim, você chega finalmente em um modelo validade consistente.

-Vocês são 100% sistemáticos ou aliam isso para uma tomada de decisões?
A gente não gosta muito da palavra híbrida. A diferença do Pandhora é ser uma casa 100% sistemática, mas baseada 100% em fundamentos. A decisão é sistemática, mas a concepção da ideia precisa partir de um fundamento.

Nos identificamos com esse modelo, sem viés humanos, mas com fundamentos. Desde um stock picking sempre baseado em dados da empresa.

Temos familiaridade com uma gestão em que o fundamento está por trás de uma ideia sistemática.

-Como você vê essa crise atual?
A gente não fará nenhuma análise de cenário. Então, uma coisa que anda em paralelo ao fundamento, em ter um método científico por trás, é o conceito de diversificação. Não aquela leviana de ao invés de ter dez ações, ter 20. Não.

Os gestores da Bridgwater, por exemplo, se preocupam em quais descobrir o conjunto das apostas. Ele quer dizer que quanto mais apostas independentes, maior é a consistência do seu fundo. Então, basicamente, fazemos isso matematicamente dentro do Pandhora.

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Gostamos de agrupá-los em dez grandes estratégias para a gente classificar em três tipos: uma é o stock picking sistemático, comprando baseado nos dados, o trend following é seguir tendências. Essas são duas das grandes famílias. E que tenham comportamentos independentes.

Portanto, aqui dentro, temos desde estratégia global, até uma coisa bem específica de um stock picking Brasil. Quando se coloca tudo isso dentro de uma carteira, você tem um negócio muito mais robusto do que uma estratégia em si.

Dentro do Pandhora, temos estratégia de prêmios de risco que vão compensar seus riscos.

Sem saber que a crise do coronavírus teria essa proporção, na semana do dia 17 de janeiro, 60% desses modelos começaram a ficar vendidos em Bolsa e comprados em dólar. A gente não tinha noção do que ocorreria, mas aconteceu. Agora, alguns desses modelos estão começando a tomar risco direcional.

No mês de março, fundos com o mesmo nível de risco caíram até 25%, enquanto que nós, mesmo perdendo, conseguimos preservar o capital. Isso é um exemplo de como essa diversificação verdadeira funciona.

Hoje o risco 20% é beta, 30% é ARP e 50% é ARP de behavior, para tentar entender beta positivo e beta negativo. Então, algumas famílias fazem beta, algumas ARP e alguns ARP de behavior. Então eventuais perdas às vezes nem são percebidas.

Na verdade, não se preocupa com o covid-19 como gestores, justamente para não tentar fazer futurologia.

-Brasileiros tomaram risco demais antes da crise e agora perceberam o erro?
Quando olhamos para a história, todos os aprendizados importantes nunca são lineares. Nós não somos uma democracia só por ser, tivemos um duro caminho anterior. Por um lado, eu diria que a gente está vivendo um momento novo que é a democratização dos investimentos.

O que passamos nos últimos quatro anos, é natural que as pessoas começam a convergir para os mesmos lugares.

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O cara que estava acostumado a colocar o dinheiro na poupança, ele vê a propaganda que ele pode multiplicar o capital. Mas, ele ainda não tem todo o arcabouço de um investidor profissional. Então a curva de aprendizagem que está acontecendo, ele não é rápido.

Empresas de research são vitais, mas vai ter de tudo nesse meio de caminho. Ou seja, por um lado, sim, tem esse viés de as pessoas terem sido jogadas pela Selic baixa, mas, por outro lado, achamos que faz parte do aprendizado.

Risco é risco. Você não pode tomar risco de qualquer jeito. Você precisa de uma diversificação direita, que você possa dormir sem dor de estômago, com uma parcela em fundo macro, outra em fundo sistemático, e assim por diante.

Entrevista com Pandhora

Vinicius Pereira

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