Nasdaq brasileira? Setor de tecnologia atrai, mas ainda é pequeno na Bolsa

Se de tempos em tempos, uma onda varre o mercado, o início de 2021 trouxe a afluência do setor de tecnologia na Bolsa de Valores de São Paulo (B3). Se antes esse âmbito era quase inexpressivo por aqui, as recentes ofertas públicas iniciais de ações (IPOs, em inglês) e os números expressivos mostram que o setor chama a atenção neste começo de ano.

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Todo o hype, no entanto, é formado por fatores recentes e ainda há dúvidas se o País terá fôlego para que o setor consiga crescer a ponto de formar quase uma nova Nasdaq, a bolsa de tecnologia americana.

Especialistas consultados pelo SUNO Notícias afirmam que a falta de opções neste setor no Brasil, aliado ao excesso de liquidez nos mercados, com taxas básicas de juros em patamares historicamente baixos, faz com que os agentes do mercado busquem ações de tecnologia para comprar -mesmo que com certo excesso.

“Com o contexto geral, é natural que isso ocorra. É um momento muito favorável para que companhias menores consigam encontrar demanda suficiente para capitalização tendo em vista o excesso de liquidez nos mercados. Temos acompanhado isso correr não só no Brasil, mas lá fora também”, disse Henrique Esteter, analista da Guide.

Para o Alan Gandelman, CEO da Planner, a falta de companhias puramente ligadas ao setor tecnológico faz com que a demanda por soluções e, consequentemente, pelos papéis das companhias aumente exponencialmente. Além disso, há uma mudança de comportamento, causado pela pandemia do coronavírus (covid-19), que fomenta tais empresas.

“Existem muitas poucas ações de tecnologia pura na Bolsa brasileira. Há as da parte de mercado eletrônico e também as varejos on-line, que ficaram bem eletrônicas, como Lojas Americanas (LAME4) e Magazine Luiza (MGLU3), que são empresas que se reinventaram e viraram um grande comércio eletrônico. Mas, como tecnologia, são muito poucas”, disse.

“A pandemia trouxe uma mudança de hábitos e as coisas começaram a ser mais demandadas. Então, tudo que tem a ver com a tecnologia, passou a ser mais importante. Antes, havia uma curva de crescimento desse setor, mas com a pandemia, a aceleração aumentou bastante o ritmo de crescimento”, afirmou Gandelman.

Não à toa, Locaweb (LWSA3), Mosaico (MOSI3) e Westwing, todas consideradas do setor de tecnologia, vêm demonstrando uma alta demanda por seus papéis, seja por IPO ou via novas emissões.

Outras, por exemplo, tentam emplacar um Q de tecnologia para buscar essa demanda. A Eletromidia (ELMD3), companhia de mídia urbana que deve ter a estreia na Bolsa na próxima sexta-feira (12), foi uma das que ganharam hype nos últimos anos como um case de tecnologia. Mas, especialistas discordam.

“A Eletromidia não é uma empresa de tecnologia. É uma empresa de mídia, que faz propagandas. É a mesma coisa que falar que a Uber é uma empresa de tecnologia porque tem um aplicativo, quando, na verdade, é de transporte”, disse Alberto Amparo, analista da Suno Research.

O que os especialistas concordam, no entanto, é que, apesar da alta recente na demanda pelo setor de tecnologia, o mercado no País ainda é pequeno e precisaria de anos de juros baixos para se solidificar e, quem sabe, formar uma nova Nasdaq, a bolsa de tecnologia americana.

“Não acho que está se formando uma Nasdaq, longe disso. É bastante divergente do que vemos lá fora, que tem um mercado que se acelerou há muito tempo, enquanto que aqui somos restrito ao setor de commodities”, disse Esteter.

De qualquer maneira, com a transformação do mercado de trabalho com a pandemia do coronavírus (covid-19), há, sim, espaço para o contínuo crescimento do setor no País.

“Eu acho que há fôlego. O mundo conseguiu, de certa forma, andar de forma remota. Então vemos escritórios de vários segmentos da economia, desde advocacia, indústria, que conseguiram ter seus funcionários trabalhando bem e reduzindo custo. Dessa forma, vai continuar surgindo empresas de tecnologia e, cada vez mais, demanda para suas soluções. Essas empresas vão crescendo e eventualmente chegando em um ponto de colocar ações no mercado”, disse o CEO da Planner.

Ações de tecnologia surpreendem e têm alta demanda

As ações que estrearam neste ano vêm tendo um desempenho forte na Bolsa. Mesmo a Locaweb, que acumula alta de cerca de 395% desde o IPO no ano passado, conseguiu precificar sua oferta subsequente de ações (follow-on) a R$ 30. Com isso, a operação da companhia deve levantar R$ 2,75 bilhões.

A Mosaico (MOSI3), por sua vez, realizou uma oferta pública inicial de ações (IPO, na sigla em inglês) que movimentou R$ 1,2 bilhão. Após um longo período em leilão antes do início das negociações, os papéis da Mosaico, que controla sites de comparação de preços no e-commerce, abriram em alta de 57%.

A companhia precificou no início desta semana seu IPO em R$ 19,80 por ação, vê os papéis serem comercializados por cerca de R$ 31 atualmente.

Enquanto isso, a Westwing (WEST3) precificou na noite de terça-feira (9) sua oferta inicial de ações (IPO) por R$ 13. O preço do papel ficou próximo ao teto da faixa indicativa, que ia de R$ 10,50  a R$ 13,66. A companhia levantou R$ 1,16 bilhão na operação e foi avaliada em R$ 1,55 bilhão, de acordo com o site da Exame.

Já na terça-feira (9), a LG Informática S.A., ou Lugar de Gente, protocolou o prospecto liminar para abertura inicial de capital (IPO).

A quantidade total de ações ofertadas da LG, ainda não definida, poderá ser acrescida em um lote suplementar de até 15% da quantia inicial, a depender da precificação inicial e do interesse da própria companhia ou dos acionistas vendedores. Os papéis da empresa de tecnologia serão destinados tanto a pessoas físicas quanto a investidores institucionais.

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Vinicius Pereira

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