Mulheres investidoras ultrapassam 1 milhão na Bolsa, mas participação diminui

O número de investidores pessoas físicas na bolsa de valores atingiu 5 milhões em janeiro deste ano. Trata-se de um número significativo para o mercado de capitais, mas que ainda tem muito a crescer, principalmente no que diz respeito às mulheres investidoras. Em 2020, elas representavam 28% do total de CPFs na Bolsa, alcançando um recorde. Um ano depois, o percentual caiu para cerca de 24%.

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Em termos nominais, a representatividade das mulheres investidoras ainda é recorde, somando 1,17 milhão em 2021. Trata-se de um salto de de 38,2% quando comparado com os 700 milhões de 2020. Porém, nesse mesmo período de um ano, o salto dos homens na bolsa de valores foi de 61,3%, para 3,84 milhões.

Mais de dez anos atrás, em 2011, havia apenas 145,9 mil mulheres investindo no mercado de capitais. Esse número se manteve praticamente estável até 2017, quando houve uma aceleração na presença feminina na Bolsa que não parou mais. Veja:

Número de mulheres na B3 nos últimos quatro anos:

  • 2018: 179,5 mil
  • 2019: 388,6 mil
  • 2020: 847,5 mil
  • 2021: 1,171 milhão

Para Tatiana Sadala, cofundadora do Todas Group, plataforma que acelera carreiras femininas, o número de mulheres investidoras tem crescido nos últimos anos, mas ainda está longe do ideal.

“A principal diferença quando falamos de investimentos feitos por mulheres é a segurança. Elas têm a tendência de buscar mais informações antes das decisões e, com isso, cometem menos erros”, diz Sadala.

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Mulheres subrepresentadas nos investimentos

Não é só na bolsa de valores que as mulheres estão subrepresentadas quando o assunto é investimento. Em produtos mais conservadores, como o Tesouro Direto, o retrato é quase o mesmo: a participação feminina também diminui de um ano para o outro.

Enquanto em janeiro de 2021 as mulheres representavam 33% dos CPFs investidores, em janeiro deste ano o percentual recuou para 29%. Trata-se da primeira queda desde o ano de 2010.

Em termos nominais, as mulheres investidoras somam 5 milhões de registros na plataforma do Tesouro Direto, já os homens são 12 milhões, mais que o dobro. Isso num cenário em que as mulheres são mais da metade da população brasileira. De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), as mulheres representam 52,4% de toda a população do País.

Uma das possíveis explicações para essa queda de representatividade das mulheres investidoras entre 2020 e 2021 é a pandemia. Segundo uma pesquisa conduzida pelo Instituto de Métricas e Avaliação de Saúde da Universidade de Washington e publicada na revista científica The Lancet na semana passada, as mulheres sofreram maiores impactos sociais e econômicos do que os homens nesse período de dois anos.

Com dados coletados em 193 países, durante o período de março de 2020 a setembro de 2021, o levantamento mostrou que 26% das mulheres respondentes perderam o emprego durante a pandemia, enquanto 20% dos homens responderam o mesmo.

Além disso, mais mulheres do que homens abriram mão de seus trabalhos para cuidarem de outras pessoas: a proporção era de 2,4 para mulheres frente os homens em setembro de 2021.

Para Sadala, o debate sobre equidade de gênero no mundo é urgente, assim como a aceleração das mulheres em todos os espaços, inclusive o de investimentos.

“Vamos levar 136 anos para alcançar a equidade de gênero no mundo, segundo o Fórum Econômico Mundial (FEM), diante disso, precisamos ser intencionais para acelerar a participação da mulher em determinados espaços, como, por exemplo, o do investimento”, diz.

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Sempre é tempo de começar

É fato que a disseminação de informações sobre o mercado de capitais na internet ajudou a democratizar o acesso e incluir mais mulheres investidoras nesse universo. Foi assim que aconteceu para Ana Lúcia Campos, de 62 anos.

Ana Lúcia sempre teve o hábito de guardar algum dinheiro todo mês e não fazer dívidas que não pudesse pagar, mas isso sem qualquer educação financeira ou conhecimento real sobre investimentos, apenas por hábito e cuidado das próprias finanças.

E foi assim por muitos anos, na maior parte da sua vida. Até que em 2016, após o impeachment da presidente Dilma Rousseff, Ana Lúcia entendeu que a crise econômica iria se aprofundar e, próxima dos 60 anos, precisava se precaver.

“Com mais idade e sem aposentadoria acendeu um alerta na minha cabeça: preciso estudar para aprender a cuidar do meu dinheiro, porque daqui pra frente a situação vai piorar e só posso contar comigo mesma”, diz Ana Lúcia.

As primeiras lições vieram da criadora do Me Poupe!, Nathalia Arcuri: “Pela Nath eu entendi que existe um leque de possibilidades e que gerente de banco cuida da meta própria, não do nosso dinheiro. O que já me esclareceu os anos que investi em uma previdência privada que não ia bem e foi um erro.”

Desde então, Ana Lúcia começou a fazer cursos e pesquisas até identificar o seu perfil de investidora, quais os melhores produtos financeiros e o caminho que quer para o seu futuro.

“Eu sou mais conservadora, mas isso não limita minhas possibilidades, só direciona os meus investimentos. Eu tenho 60 anos, meu futuro é agora, entende? Mesmo que eu viva 100, tenho que aproveitar agora para viajar, aproveitar com os amigos, conhecer coisas novas e é nisso que eu foco na hora de escolher meus investimentos”, conta Ana Lúcia.

Formada em Pedagogia, mas sem aposentadoria, atualmente Ana Lúcia ainda faz uma transição de carreira para medicina integrativa, algo em que sempre quis trabalhar.

“Eu entendo que na vida sempre é tempo de começar. Eu posso não criar uma fortuna aos meus 60 anos, mas posso terminar os meus dias com mais tranquilidade e segurança”, diz.

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Quanto mais mulheres investidoras, melhor

Ana Lúcia não é um ponto fora da curva. O número de mulheres investidoras com mais de 60 anos cresceu 50% nos últimos dois anos (2020 e 2021), alcançado quase metade (45%) da totalidade da representatividade feminina no mercado de capitais. É isso que mostra um levantamento realizado pela corretora Nu Invest, do Nubank (NUBR3)  de agosto de 2021.

Assim como a pedagoga, essas mulheres também optam por produtos mais conservadores, investindo principalmente em títulos de renda fixa, como Tesouro Direto e CDBs.

Para Sadala, do Todas Group, uma mulher que inicia sua jornada no mundo dos investimentos inspira outras a fazerem o mesmo. “Até 1962 não era possível que uma mulher abrisse conta no banco sem autorização do marido. A autonomia financeira para mulheres é uma conquista recente”, diz.

Agora, a cofundadora acredita que o momento é de acelerar o diálogo e a educação financeira para mulheres, “incluindo discussão de novas vias de investimento que envolvem maiores riscos, volatilidades e retornos, onde a presença feminina é ainda menor”.

Segundo o levantamento do Nu Invest, esse é um movimento que está acontecendo aos poucos, pelo menos para as mulheres na melhor idade que estão na B3. Em 2019, as investidoras com mais de 60 anos mantinham apenas 13% do portfólio em renda variável, atualmente o percentual representa 24% do patrimônio delas.

Andreia Fernanda, fundadora da Ela & Co, empresa de educação financeira para as mulheres, afirma que o país só pode ter ganhos com mais mulheres educadas para cuidar do seu dinheiro.

“O maior ganho para o país que tem mulheres que investem é o fato delas serem multiplicadoras. Educam financeiramente os filhos e passam essas informações adiante. Com a disseminação, a economia começa a se movimentar e todos ganham”, diz.

O estudo da Coleman Parkes Research indica um recorte do dinheiro que está sendo perdido sem mais mulheres no mercado de capitais: se o público feminino investisse na mesma proporção com a qual os homens investem na indústria mundial de fundos de investimentos, este mercado teria cerca de US$ 3 trilhões a mais sob gestão no ano de 2021.

No Brasil, mais mulheres investidoras representariam, pelo menos, mais US$ 52 bilhões em ativos sob gestão em fundos de investimentos.

Com mais de cinco anos desde que começou a estudar o assunto, Ana Lúcia hoje garante: “Se você não se interessa por finanças, quem se interessa vai cuidar do seu dinheiro e ficar com o lucro que era para ser seu. Para nós, mulheres investidoras, esse conhecimento também é sinônimo de liberdade”.

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Monique Lima

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