Lula e Haddad reforçam plano pró-comércio exterior sem dólar; como isso impacta o Brasil?

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, aproveitaram a viagem à China para reforçar a campanha em prol de que o comércio exterior ocorra em moedas locais, sem a necessidade do dólar. Para os especialistas, essa iniciativa pode beneficiar o Brasil.

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“Uma das tarefas que Lula pretende deixar é que os bancos multilaterais dos quais o Brasil faz parte possam servir de catalisadores desses processo de alternativa às moedas tradicionais, como euro e dólar, que respondem pela maior parte do comércio internacional“, afirmou Haddad em entrevista à GloboNews.

De acordo com Fernando Haddad, pode-se pensar em comércio internacional bilateral com moedas locais com muita tranquilidade e que a vantagem “é escapar da camisa de força de ter comércio fixado em moeda de um país que não faz parte da transação”.

As transações em dólar vão continuar acontecendo, mas em casos específicos, em que os parceiros são muitos fortes. Pode-se pensar em mecanismos mais condizentes.

Mais cedo, Lula participou da posse de Dilma Rousseff (PT) no comando do Novo Banco de Desenvolvimento, o Banco dos BRICS, e disse que se pergunta toda noite “por que todos os países estão obrigados a fazer seu comércio lastreado no dólar“.

“Por que não podemos fazer o nosso comércio lastreado na nossa moeda? Precisamos ter uma moeda que transforme os países numa situação um pouco mais tranquila. Porque hoje um país precisa correr atrás de dólar para poder exportar, quando ele poderia exportar em sua própria moeda, e os bancos centrais certamente poderiam cuidar disso”, destacou Lula.

Na entrevista à GloboNews, Haddad acrescentou que os Estados Unidos sabem que podem contar com o Brasil, que tem planos de reindustrialização tanto com investimentos americanos quanto com chineses: “O Brasil não pode ter preconceito por seu tamanho contra qualquer que seja, a não ser em situações limites.”

O ministro ressaltou que o comércio entre países em moeda local é uma “ideia acalentada há muito tempo”, desde a Segunda Guerra Mundial. Em um momento como o atual, marcado pela guerra da Ucrânia e outras crises, essa discussão vem a calhar.

Os BRICS, sigla que reúne Brasil, Rússia, Índia, África do Sul e China, já respondem por um Produto Interno Bruto (PIB) superior ao do G7, os países mais ricos do mundo, comentou Haddad. Nesse contexto, com o crescimento do Novo Banco de Desenvolvimento, como é chamado oficialmente o banco dos Brics, a instituição pode ter um papel em avançar nas conversas sobre as transações em moeda local. Haddad admitiu que o assunto é complexo, mas precisa seguir, ou o comodismo vai fazer que as coisas continuem como estão.

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Comércio sem dólar: como impacta o Brasil?

Marcelo Cursino, gerente de estratégia comercial do Braza Bank, vê como positiva a criação de um canal de pagamentos alternativos, “visto que favorece o estreitamento de relações econômicas com um parceiro muito importante para a balança comercial brasileira [China]”.

Além disso, a iniciativa “reduz a dependência do dólar e, consequentemente, dos movimentos correlacionados com a moeda, como a inflação, além de diminuir custos e tempo no processamento de operações. Isso torna os brasileiros mais competitivos e representativos como integrantes do sistema financeiro global”

Contudo, após as falas de Lula e Haddad, o especialista faz a seguinte ressalva: “Atualmente, o dólar é a moeda mais utilizada em termos de transações globais no mundo, devido à aceitação e confiabilidade do mercado. Porém, quando você não é detentor dessa moeda, você participa de uma série de consequências, dentre elas a falta de controle na política monetária, que acaba guiada pelo emissor, inflação indireta e até algumas sanções econômicas, conforme política externa do emissor e a rastreabilidade do fluxo financeiro entre bancos e países por meio dos sistemas financeiros”.

Com Estadão Conteúdo

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Erick Matheus Nery

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