Lula X Banco Central: entenda os atritos e as consequências para a economia

Nas últimas semanas, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva não poupou críticas ao Banco Central (BC), comandado por Roberto Campos Neto. Na visão dos especialistas ouvidos pelo Suno Notícias, as farpas do governante tencionam a relação entre governo e agentes econômicos.

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“Essas brigas não poderiam existir. O Banco Central devia dizer: ‘Estou subindo juros por causa da inflação’, e o governo devia ter maior responsabilidade fiscal para também não pressionar a atividade econômica, fazer com que a inflação fique mais controlada e as expectativas convirjam pra meta”, acredita Gustavo Sung, economista-chefe da Suno Research.

Uma das últimas críticas de Lula ao Banco Central ocorreu na segunda (6), quando o presidente disse que o País tem uma “cultura” de juros altos que “não combina com a necessidade de crescimento” nacional.

O governante também reclamou da justificativa dada pelo Comitê de Política Monetária (Copom) de manter a taxa Selic em 13,75% ao ano. O comunicado do BC disse que as expectativas da inflação pioraram principalmente por causa da expectativa de que os gastos públicos serão mais elevados neste início de governo.

É só ver a carta do Copom para a gente saber que é uma vergonha esse aumento de juros e a explicação que eles deram para a sociedade brasileira

Sung acredita que as falas de Lula são direcionadas aos seus apoiadores “para não afetar sua popularidade”. O economista diz que, com essa postura, o político joga a responsabilidade dos juros altos para o BC, que é independente desde 2021. Por isso, a equipe econômica do órgão é “blindada” da ingerência política do governo e consegue caminhar de forma autônoma.

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Lula e Campos Neto: amor e ódio?

Idean Alves, educador financeiro e chefe da mesa de operações da Ação Brasil Investimentos, adianta que o mercado pode esperar um relacionamento “bem apimentado” entre os presidentes da República e do Banco Central.

Pode esperar uma relação bastante apimentada, com muita troca de ‘carinhos’ na comunicação entre ambos, e que pode se transformar em uma queda de braço para mostrar quem ‘está certo’, até que se chegue a um consenso ou que os juros comecem a baixar. Enquanto isso, vamos ver esse clima esquentar provavelmente a cada reunião do Copom.

O especialista reforça que os atritos entre Lula e Roberto Campos Neto são vistos pelo mercado com maus olhos: “Vamos ver muito o jogo de ‘morde e assopra’, com o governo batendo de um lado e depois tendo que amenizar ou fazer ponderações para que a relação não azede de vez”.

“Em contrapartida, o Copom já fez a ressalva de que a expansão fiscal preocupa. Contudo, caso as medidas propostas pelo Fernando Haddad sejam implementadas e ajudem a aliviar a pressão sobre as contas públicas, isso pode ajudar na política monetária do Comitê, um claro gesto de diplomacia e tentativa de aproximação”, complementa.

Além disso, os especialistas são unânimes ao apontarem a necessidade de que a política monetária do Banco Central e a política fiscal do governo andem de mãos dadas.

Junto aos impactos no mercado financeiro em si, esses atritos também podem trazer consequências para Lula no dia a dia em Brasília. “Setores do Congresso alinhados ao mercado tendem a ficar mais desagradados porque uma das principais bandeiras dos agentes econômicos é a independência do Banco Central”, alerta o cientista político Leonardo Rocha.

“O que pode dificultar a relação do governo com o Congresso são os rumos que a política econômica vai produzir na vida dos indivíduos. Se essa tensão levar a uma política monetária que favoreça as ações do governo e cause reflexos no dia a dia dos indivíduos, você terá um ponto positivo em um médio prazo nessa relação. Do contrário, isso leva a um desgaste, com rusgas institucionais”, comenta o especialista ao analisar as falas de Lula.

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Erick Matheus Nery

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