IPCA tem deflação em agosto, mas inflação de serviços preocupa
|
O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) registrou deflação de 0,11% em agosto, informou o IBGE nesta quarta-feira (10). O resultado veio levemente acima das projeções do mercado, que apontavam queda entre 0,15% e 0,16%, e também da estimativa da AZ Quest, que previa deflação de 0,25%.

Segundo Lucas Barbosa, economista da gestora, a divergência em relação às expectativas está ligada, a alguns fatores, como o comportamento dos preços de automóveis novos.
“Os automóveis novos recuaram 0,44%, após queda de 0,56% em julho, abaixo do esperado. Projetávamos uma redução mais intensa dos preços, em linha com a expectativa de impacto do programa de IPI verde do governo federal”, afirma.
Mais do que isso, o especialista da AZ Quest destaca sobretudo os núcleos de serviços do IPCA de agosto.
“Serviços intensivos em mão de obra e atividades sociais, como cabeleireiros, barbeiros e manicures, registraram altas acima das nossas projeções”, afirma.
Barbosa ressalta que esse movimento reforça a leitura de que os serviços seguem pressionados e devem continuar assim ao longo dos próximos trimestres.
“Temos um mercado de trabalho bastante aquecido, com taxa de desemprego nas mínimas e salários nominais crescendo a cerca de 9% em termos interanuais. Esse cenário tende a manter a inflação de serviços em patamares mais elevados”, completa.
Indústria e alimentação também surpreendem
Além dos serviços, outros componentes do IPCA também chamaram atenção em agosto. Os bens industriais, por exemplo, tiveram variação positiva de 0,18%, superando as projeções da AZ Quest e a mediana do mercado.
Dentro dessa categoria, itens de higiene pessoal subiram 0,80% em agosto, após avanço de 0,98% em julho, evidenciando pressões persistentes de curto prazo. O vestuário também apresentou alta de 0,72%, bem acima da expectativa da gestora (0,28%) e revertendo a deflação de 0,54% registrada no mês anterior.
Já a alimentação em domicílio apresentou deflação de 0,83%, contra expectativa de queda de 1%. Segundo Barbosa, as principais surpresas dentro da categoria vieram dos preços de aves, ovos e produtos de panificação. Ainda assim, o acumulado em 12 meses desacelerou para 7,01%, contra 7,11% no mês anterior.
Inflação segue em queda, mas BC deve manter cautela
Apesar das leituras mais fortes nos serviços e em alguns bens industriais, Barbosa destaca que o processo de desinflação segue em andamento.
“O resultado é pior na composição, mas não muda a nossa visão. Continuamos projetando inflação de 4,6% em 2025 e de 4% em 2026, em linha com uma desaceleração consistente”, avalia.
Segundo ele, a manutenção dessa trajetória é sustentada pelos indicadores de atividade econômica divulgados recentemente, que mostram sinais de fraqueza em diferentes setores.
“As sondagens de confiança e os indicadores antecedentes apontam para uma desaceleração mais homogênea da economia. Esse movimento, mesmo com algum atraso, tende a chegar ao mercado de trabalho e a aliviar a inflação de serviços”, explica.
Ainda assim, especialista afirma que, para o Banco Central, a leitura do IPCA de agosto reforça a necessidade de manter o tom duro na condução da política monetária ao longo deste ano.
“O Copom deve adotar uma postura restritiva, com Selic alta por mais tempo. Ainda assim, seguimos acreditando que o ciclo de cortes tenha início em janeiro, diante da melhora das expectativas de inflação e da fraqueza dos dados de atividade”, conclui Barbosa sobre o IPCA.